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Chocante

Mulher que teve pescoço esmagado por PM repudia absolvição do agressor: ‘Ser injustiçada assim é muito triste’

Após decisão da Justiça em favor do policial, advogado da vítima declarou que vai recorrer

PM foi filmado pisando no pescoço de mulher negra em Parelheiros (SP) - Imagem: Reprodução/Twitter @cfernandes_23
PM foi filmado pisando no pescoço de mulher negra em Parelheiros (SP) - Imagem: Reprodução/Twitter @cfernandes_23

Mateus Omena Publicado em 25/08/2022, às 12h31


A mulher negra que foi vítima de agressão por um policial militar declarou que se sente injustiçada após a absolvição do agente em processo. O caso aconteceu em 2020, quando o PM imobilizou a mulher e pisou em seu pescoço durante ação em Parelheiros, em São Paulo.

Em entrevista ao portal G1, a vítima, cuja identidade permanece sob sigilo, alegou que está inconformada com o desfecho do caso.

"Ser injustiçada assim é muito triste. Fiquei muito indignada. Fui trabalhar sem chão. Cada dia que passa, a gente fica cada vez mais envergonhada de ser brasileira”.

O soldado João Paulo Servato foi filmado pisando no pescoço da mulher e cometendo outras infrações em relação ao uso da força.

Ele tinha sido denunciado pelo Ministério Público por quatro crimes: lesão corporal, abuso de autoridade, falsidade ideológica e inobservância de regulamento.

No entanto, o policial foi absolvido na terça-feira (12) pela Justiça Militar do Estado de São Paulo (TJM-SP), com um conselho de sentença formado por um juiz civil e quatro oficiais da PM. A votação ficou em três votos a dois, com maioria favorável ao policial acusado.

O juiz do caso, José Álvaro Marques, votou pela condenação de Servato. Já o Ministério Público afirmou que vai recorrer da decisão.

O cabo Ricardo de Morais Lopes, que acompanhava Servato no dia da ocorrência, também foi julgado e absolvido. Contra ele, a denúncia se deu com base em dois crimes: falsidade ideológica e inobservância de regulamento.

Apesar das gravações das agressões e relatos de testemunhas, vítima não entende o motivo de Servato ter saído impune.

"Eu acho que ele [policial] precisa de um tratamento. Não merece usar farda da Polícia Militar. Têm policiais bons que honram a farda. Mas, infelizmente, há os que não honram".

O advogado da vítima, Felipe Morandini, também informou que vai recorrer.

"Vou lutar até o fim para algo a meu favor. Não precisava ter agredido meu pescoço, pisado nas minhas costelas. Ele merece punição. Se a gente não lutar pelos nossos direitos, quem vai lutar?", indagou.

Por outro lado, o advogado dos policiais, João Carlos Campanini, reforçou que seus clientes não cometeram crime.

A Justiça Militar marcou para o dia 30 de agosto uma nova audiência para a leitura e publicação da sentença, baseada nos votos de terça-feira (23).

Traumas

A mulher revelou que sua vida não é mais a mesma desde o dia em que foi agredida pelo PM. Ela passou a ter medo de sair na rua e socializar com amigos e vizinhos, e por conta disso, passou a ficar mais tempo dentro de casa.

A vítima também deixou o emprego que tinha em um bar e somente há dois meses conseguiu um novo trabalho como cozinheira.

Ela apontou que o episódio brutal provocou danos psicológicos que prejudicam sua qualidade de vida.

"Fiquei dois anos sem trabalhar e sem vida. Só fazendo o básico, como ir no mercado, açougue e casa. Minha mente ficou perturbada, meu psicológico ficou abalado. Minha família sentiu bem isso. O pessoal ficou com medo de represália e até meu filho até perdeu emprego na época. A minha mente nunca mais foi a mesma e a pior dor é a psicológica".

Apesar de ter feito uma cirurgia após ter a perna quebrada, a mulher ainda sente dores nesta parte do corpo, o que a impede de realizar diversas atividades.

"A perna incha todos os dias. Tenho muita dor no calcanhar, no pescoço onde ele bateu. Quando tem mudança de tempo, por exemplo, eu sinto dores no pescoço, ouvido. Ele praticamente esmagou minha cabeça".

Ela também associou o seu caso ao assassinato de George Floyd, homem negro que morreu asfixiado por policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, em 2020.

"Se nos Estados Unidos aquele homem negro, o George Floyd, morreu por não aguentar a agressão, imagina o que causou comigo esse pisão, que sou magra? Costumo falar que eu nu nasci de novo no dia 30 de maio por ter sobrevivido. Eu tenho dois anos de vida".

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