O brasileiro chefe da equipe que descobriu a variante ômicron, Tulio de Oliveira, disse em entrevista à GNews que as punições a países quando novas variantes
Redação Publicado em 26/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 22h35
O brasileiro chefe da equipe que descobriu a variante ômicron, Tulio de Oliveira, disse em entrevista à GNews que as punições a países quando novas variantes são identificadas, como o fechamento de fronteiras, podem desestimular cientistas.
Oliveira foi escolhido como um dos 10 cientistas mais influentes de 2021 pela revista Nature. A seleção anual tem por objetivo destacar os indivíduos que mais contribuíram com a ciência.
Diretor do Centro para Respostas e Inovação em Epidemias (CERI) na África do Sul, ele ganhou destaque ao chefiar uma das equipes envolvidas na descoberta da nova variante do coronavírus no país e por compartilhar os dados com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 24 de novembro.
Para o pesquisador, um dos motivos de ter se destacado foi pela forma com que a descoberta foi comunicada aos políticos do país e pela rápida resposta.
Oliveira comenta que o suporte do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, foi fundamental após a ômicron ser identificada. A partir desse contato, ele pode falar diretamente com o ministro da Saúde do país, Joe Phaahla, e na televisão.
“Eu acho importante agir rápido e a transparência cientifica”, disse. “Porque isso deixa preparar os hospitais e o mundo. A gente tem a variante super transmissível, a ômicron, mas os hospitais foram preparados. A gente não está tendo os hospitais completamente cheios, o oxigênio foi preparado, então a mortalidade está baixa“, explica.
Por outro lado, há a reação dos países em relação a identificação da nova variante. Segundo o cientista, fechar fronteiras, na verdade, não funciona e, além disso, a repercussão negativa gera danos econômicos e psicológicos para a população do Estado em que a cepa foi identificada.
“Imagina agora qual outro país do mundo gostaria de identificar uma variante rapidamente e qual o outro cientista que gostaria de ter essa repercussão? Então é uma situação que se identifica um patógeno com problema global, países e cientistas vão ficar quietos para não sofrerem repercussão. Isso vai afetar a saúde mundial inteira”, afirmou.
De acordo com Oliveira, existe hoje no G7, grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, discussões sobre dar suporte financeiro às novas descobertas no lugar da “punição”.
Oliveira conta que, nos último 7 anos, sua equipe, composta por diversos brasileiros, tem trabalhado com vírus comuns no Brasil, como a dengue e a febre amarela, e usa as técnicas aprendidas no país na África do Sul em vírus como HIV e o da tuberculose. Por isso, durante a pandemia foi possível trabalhar com o coronavírus.
Ele lembra que a variante foi identificada em 36 horas, e, após informar o presidente, o ministro da Saúde e ir a público, em 24 horas houve a reunião com a OMS, que classificou a variante como preocupante.
Segundo Oliveira, foi a primeira vez que em horas houve a descoberta, validação e reação mundial. O processo, normalmente, exige um prazo de meses até a resposta, afirma. Com isso, foi possível manter uma baixa taxa de mortalidade.
Ômicron: o que se sabe sobre nova variante detectada na África do Sul
Em relação ao Brasil, o cientista lamenta a chamada fuga de cérebros, quando pesquisadores decidem sair do país em busca de mais oportunidades.
“O Brasil tinha avançado muito na parte da ciência, 3 ou 4 anos atrás. Estava com muito financiamento, muito cientista brasileiro sendo respeitado”, disse.
“Infelizmente, se o Brasil não levar a sério a ciência, o que acontece é a fuga de cérebros. Cada vez mais vamos encontrar brasileiros ao redor do mundo que são reconhecidos como cientistas importantes, mas que não têm a condição de fazer a ciência de ponta no Brasil”, completou.
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G1
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