Diário de São Paulo
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PERDÃO

Após casos de abusos sexuais contra menores, Papa Francisco afirma que a Igreja deve ter "vergonha e pedir perdão"

Em discurso na Bélgica, o pontífice mencionou um grande escândalo que afetou a Igreja belga no ano passado

Após casos de abusos sexuais contra menores, Papa Francisco afirma que a Igreja deve ter "vergonha e pedir perdão" - Imagem: Reprodução / Fotos Públicas / Tânia Rego
Após casos de abusos sexuais contra menores, Papa Francisco afirma que a Igreja deve ter "vergonha e pedir perdão" - Imagem: Reprodução / Fotos Públicas / Tânia Rego

William Oliveira Publicado em 27/09/2024, às 10h08


Nesta sexta-feira (27), durante um pronunciamento na Bélgica, o Papa Francisco reiterou a necessidade urgente de a Igreja Católica buscar "perdão" pelos abusos sexuais cometidos contra menores. O pontífice destacou a importância de enfrentar esse "flagelo" com humildade e determinação cristã.

"A Igreja deve ter vergonha e pedir perdão. Tentar resolver esta situação com humildade cristã e fazer todo o possível para que não volte a acontecer. Penso nos casos dramáticos de abusos de menores, um flagelo que a Igreja está enfrentando com determinação e firmeza, escutando e acompanhando as pessoas feridas e implementando um amplo programa de prevenção em todo o mundo. Esta é a vergonha que todos temos que assumir agora, pedir perdão e resolver o problema", afirmou Francisco.

O discurso do Papa ocorre em meio ao histórico recente da Igreja Católica na Bélgica, marcada por escândalos envolvendo abusos de menores e adoções forçadas de filhos de mães solteiras. No ano passado, bispos belgas expressaram desculpas públicas e solicitaram uma investigação independente sobre os casos denunciados.

Estima-se que aproximadamente 30 mil crianças tenham sido retiradas de suas mães entre 1945 e a década de 1980, conforme levantamento do site belga HLN.

Francisco ainda lamentou profundamente o fenômeno das adoções forçadas, prevalentes na Bélgica entre os anos 50 e 70 do século passado.

"Nestas histórias espinhosas, misturou-se o fruto amargo de um crime e um delito, com aquilo que, infelizmente, era o resultado de uma mentalidade difundida em todas as camadas da sociedade. Com frequência, as famílias e outras entidades sociais, incluindo a Igreja, pensaram que, para eliminar o estigma negativo, que infelizmente afetava quem era mãe solteira naquela época, seria melhor para ambos, mãe e filho, que este último fosse adotado", pontuou o Papa.

A fala do pontífice veio após críticas severas do primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, que demandou ações concretas para elucidar o passado. "Hoje, palavras sozinhas não bastam. Também precisamos de medidas concretas. As vítimas precisam ser ouvidas, precisam estar no centro. Elas têm direito à verdade. Os delitos precisam ser reconhecidos. Quando algo dá errado, não podemos aceitar encobrimentos. Para poder olhar para o futuro, a igreja precisa confessar seu passado", declarou De Croo.

O rei da Bélgica, Philippe, também reforçou a necessidade de ação contínua por parte da Igreja para expiar os crimes cometidos e auxiliar as vítimas na sua recuperação.

Em um episódio emblemático, o bispo mais antigo do país, Roger Vangheluwe, renunciou sem punição em 2010 após admitir abuso sexual contra seu sobrinho por 13 anos. Apenas no início deste ano, Francisco destituiu Vangheluwe numa tentativa clara de mitigar uma fonte persistente de indignação entre os belgas antes de sua visita ao país.

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