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Livre comércio com a China

Livre comércio com a China - Imagem: Reprodução | portaldaindustria
Livre comércio com a China - Imagem: Reprodução | portaldaindustria
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 06/09/2023, às 05h12


Na última cúpula do BRICS, na África do Sul, muito se comentou a respeito do aumento da relevância da China com a inserção de novos parceiros ao novo arranjo de governança global. Alguns buscaram o momento para criticar a participação do Brasil no bloco dizendo que, de alguma forma, a entrada de novos membros diminuía o status internacional do País. De fato, tentou-se reproduzir a ideia de que o BRICS é um arranjo fadado ao fracasso e que passou a ser um clube de países não democráticos. Além disso, muito se comentou que era negativo ao Brasil estar associado ao grupo e que a possível entrada da Argentina seria um prêmio de consolação. Uma série de mantras foram repetidos reportando a narrativa de países que veem neste novo arranjo internacional uma ameaça à sua preponderância e relevância. Também alguns afirmaram que a neutralidade deveria ser uma peça fundamental da Política Externa Brasileira, a fim de – ao manter-se em cima do muro – tentar buscar ganhos com todas as parcerias comerciais. Poderia até fazer sentido, se os ganhos oriundos do relacionamento com os Estados Unidos e União Europeia oferecessem ao País a possibilidade de ganhos exponenciais e não marginais, como tem sido o caso nas últimas décadas.

O fato é que o acordo com a União Europeia – negociado por mais de duas décadas – tem baixas expectativas de aprovação. E a parceria econômica com os Estados Unidos não tem aumentado substancialmente em termos comerciais. A suposta amizade entre Jair Bolsonaro e Donald Trump pouco resultaram em verdadeiros incrementos comerciais. E a relação de Lula com Joe Biden tampouco tem sido mais promissora. E, para piorar, o Brasil entrou no debate eleitoral norte-americano não pela potencialidade da relação mas pela questão migratória e dos brasileiros ilegais naquele país.

Tampouco o G-7, como grupo, oferecerá maiores oportunidades de abertura para o Brasil. A estrutura, engessada há décadas, pretende preservar a situação como se encontra, perpetuando uma estrutura de poder internacional hermética e não inclusiva. A participação ocasional de um país nas reuniões não implica, necessariamente, uma voz ampliada na comunidade internacional. O fato é que as estruturas atuais de poder, à exceção do BRICS, não pretendem diversificar sua estrutura e atuação.

Por outro lado, observamos que estruturas que pretendem intensificar o seu relacionamento com a China vêm ganhando substancialmente do ponto de vista econômico e tecnológico. A Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que ocorre em Jacarta, na Indonésia, entre 5 e 7 de setembro, pretende avançar no relacionamento com a China como uma das maneiras mais efetivas para promover o desenvolvimento e prosperidade comuns, com o objetivo de fortalecer as economias em seu processo de recuperação da pandemia da COVID-19. A ASEAN, que congrega dez países - Brunei Darussalam, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã – logrou transformar-se no maior parceiro comercial da China, ultrapassando a União Europeia. Em 2021, o comércio bilateral entre a China e ASEAN chegou a US$ 872.2 bilhões e em 2022, com um crescimento no comércio bilateral de 11.2%, o montante ascendeu a US$ 975.3 bilhões, num crescimento de cento e vinte porcento em uma década. Nesse processo, a ASEAN se tornou o principal destinatário dos investimentos chineses no exterior. Até julho deste ano, o investimento bilateral alcançou US$ 380 bilhões com mais de 6.500 empresas chinesas investindo diretamente nos países membros da ASEAN. O acordo Mercosul-União Europeia – se aprovado fosse – não faz nem sombra a estes números.

Se o governo brasileiro atual busca deixar o legado que dure por gerações, deveria tomar duas ações fundamentais para avançar o desenvolvimento econômico do País: (i) dar um passo atrás no Mercosul e transformá-lo de Mercado Comum em uma Área de Livre Comércio. Com isto, os países-membros terão a vantagem de poder firmar acordos com quaisquer parceiros comerciais que desejarem e, se possível, incluírem o Chile neste novo acordo; e (ii) fechar, o mais rápido possível, um acordo de livre comércio e de investimentos com a China.

A ampliação da relação bilateral com a China poderá permitir um aumento essencial nos investimentos em infraestrutura que o Brasil desesperadamente precisa para facilitar o escoamento de sua produção e incrementar a competitividade da indústria nacional. Além disso, deveria constituir elemento essencial desse acordo a abertura de uma rota ferroviária trans pacífica, permitindo ao Brasil ter acesso, através do Chile, ao Oceano Pacífico. Uma ferrovia neste sentido ampliaria o processo de integração doméstico e regional, com o aumento no turismo, transporte de produtos e mercadorias, com a abertura de novos mercados ao competente agronegócio brasileiro.

Por fim, o Brasil deveria ampliar as fronteiras de cooperação na economia digital com a China, particularmente na Internet e computação na nuvem, trariam o Brasil a possibilidade de maiores voos nas fronteiras digitais. É por este motivo que o BRICS é importante e o Brasil pode ganhar muito desta relação. Na próxima vez que ouvir críticas, é só comparar os números.  É hora de Lula viajar novamente à China e propor um acordo de livre comércio com o gigante asiático.

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