Diário de São Paulo
Siga-nos
COLUNA

Marçal é um conservador revolucionário?

Pablo Marçal - Imagem: Reprodução | YouTube - BAND
Pablo Marçal - Imagem: Reprodução | YouTube - BAND
Marcelo Emerson

por Marcelo Emerson

Publicado em 10/10/2024, às 07h11


Há uma frase atribuída ao cantor Tim Maia que diz: “Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita”. Não tenho como comprovar a autoria deste dito que já se tornou popular, nem me arrisco a debater o acerto do seu significado literal. Mas é certo que a intenção da frase revela muito da cultura do nosso país: o brasileiro que é prejudicado, no mais das vezes, acaba simpatizando com aquele que lhe prejudica.

Ouvindo algumas opiniões de eleitores de um certo candidato “coach” que perdeu a eleição para a Prefeitura de São Paulo, ouso acrescentar mais um exemplo desse traço masoquista do brasileiro: aqui conservador é revolucionário.

Quantos não foram os que aplaudiram as atitudes revolucionárias do “coach”, dando-lhe ainda a confiança do voto nas urnas?

Para ilustrar, transcrevo uma mensagem enviada por um querido amigo que se entende como conservador e comentou os fatos mais recentes ocorridos nos debates eleitorais deste ano e manifestando seu apoio ao candidato “coach”: “eu quero mais é que o coro come (sic), tem mais é que quebrar o pau mesmo, cambada de ladrão, tem que fazer papel de palhaço para nós dar risada em casa, agora é hora da gente rir deles, política não presta! Então, quando aparece uns palhaços como esse aí, sou fâzaço dele (sic)”.

Edmund Burke, fundador do conservadorismo moderno, na sua obra “Reflexões sobre a Revolução na França, alertou: “A raiva e o frenesi destroem mais em meia hora do que a prudência, a deliberação e a previdência conseguem construir em cem anos”.

João Pereira Coutinho, no prefácio da versão brasileira da obra de Burke ensinou: “Desta forma, se os revolucionários optaram por uma via destrutiva, o agente político deve escolher o caminho oposto: governar é preservar o que existe; e esse imperativo de conservação pode exigir reformas necessárias. O agente político, no fundo, deve atuar com humildade e prudência”.

O conservador é um reformador. Ao contrário do que o senso comum induz a pensar, o conservadorismo é uma visão de mundo que admite, e até mesmo propõe, constantes reformas nas instituições da sociedade civil. O conservador não tem compromisso com vícios sociais. O revolucionário, por sua vez, quer destruir todo o edifício das tradições, instituições e costumes, pondo no lugar visão simplista de mundo, quase infantil, dotada de atitudes mágicas e mágicos salvadores.

O cidadão pode e deve reclamar da política partidária praticada até aqui em nosso país. Deve se indignar com os governos de ontem e de hoje em tudo aquilo que abusaram do poder público. Mas, na mesma medida, deve se acautelar contra os revolucionários de ocasião que aparecem com soluções mágicas e postura carismática de redentor do povo brasileiro, ameaçando destruir a nossa precária civilização já conquistada a duras penas.

Fiquemos com Joaquim Nabuco, que nos lembrou da frase lapidar: “A revolução é como Saturno, devora os próprios filhos”.

Compartilhe