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Pra que tanta viagem, presidente?

Pra que tanta viagem, presidente? - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Pra que tanta viagem, presidente? - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 23/09/2023, às 06h42


Se você veio ler este texto pensando que eu vou criticar o número de viagens do presidente, foi enganado pelo título, e esta era a minha intenção. Faço isso porque, a meu ver, se há algum problema em relação a viagens no atual governo, é exatamente a falta delas, não o excesso.

E note que eu falei sobre o governo, e não somente sobre o presidente. Ele realmente tem viajado bastante, mas nem preciso dizer que todas os deslocamentos foram necessários. Não há viagens de férias para a Flórida, por exemplo. Essas poderiam ser inúteis. O que houve foi um retorno às atividades entre as lideranças políticas pelo mundo, o que tinha diminuído muito durante a pandemia de covid-19.

Mas, se você acha que aqui não tem crítica, tem sim! Afinal, como eu disse antes, o que faz falta é ver o governo viajando mais. Estou falando principalmente dos ministros. Alguns deles, em vez de terem agendas específicas sobre os interesses públicos relativos a suas pastas, só têm acompanhado o presidente. E isso não é suficiente.

Destaco ainda aqui um que não tem viajado: Geraldo Alckmin. Entendo que ele tem que ser presidente quando Lula viaja, mas um ministério dedicado à indústria precisa sair pelo mundo negociando a reindustrialização do Brasil. Não adianta mandar gente do segundo e do terceiro escalões. Eles são importantes, mas não abrem as portas que o titular do ministério pode abrir.

Outra é Marina Silva. Mesmo tendo viajado algumas vezes, este é o momento em que ela não pode sair do exterior. Tem que passar todo o tempo liderando a equipe que tem no Brasil a distância, ao mesmo tempo em que pressiona as lideranças internacionais e os ministros do meio ambiente e do clima pelo mundo para desenvolver projetos para a proteção dos biomas brasileiros, e consequentemente tentar atrasar o aquecimento global, que tem dado as suas caras todas as semanas no noticiário.

E tem mais. Fernando Haddad pode ter uma voz mais potente na negociação econômico-financeira internacional, e Flávio Dino tem que deixar de lacrar sobre bolsonaristas e ir ao encontro de cada país com os quais o Brasil faz divisa para negociar acordos que ajudem a impedir a entrada de armas, drogas e até mesmo de pessoas escravizadas.

Trabalho pelo mundo não falta, mas não pode ficar nas costas somente do presidente. Um governo tem que ser composto por um ministério com presença internacional, porque recuperar a imagem do Brasil institucionalmente foi o papel que Lula cumpriu nos primeiros meses. Agora, é hora de negociar detalhadamente os acordos, e isso quem faz é quem entende tecnicamente dos temas.

E, claro, o governo tem que dar conta de cada centavo das viagens. Transparência, contas abertas, soluções baratas de deslocamento e hospedagem. Com isso, o Brasil tem tudo para conseguir um papel de destaque na nova organização geopolítica.

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