por Kleber Carrilho
Publicado em 10/08/2024, às 10h50
A identidade brasileira é uma questão complexa e, muitas vezes, contraditória. Nós nos reconhecemos como brasileiros em momentos específicos, como durante os Jogos Olímpicos ou a Copa do Mundo, quando exibimos com orgulho nossa bandeira e nos unimos em torno de um sentimento de pertencimento. Mas fora desses eventos, a realidade é outra. Cada um volta a defender seus próprios interesses, frequentemente esquecendo que a construção de um país é um esforço coletivo e contínuo.
Essa paixão temporária, que emerge com tanta força durante eventos esportivos, acaba criando uma ilusão de dever cumprido. Sentimos que esses momentos de euforia nacional são suficientes para equilibrar o tempo que passamos ignorando a necessidade de uma participação ativa na construção do futuro do país. E é justamente nesse clima de emoção exacerbada que decisões questionáveis são tomadas, como a recente isenção de impostos sobre a premiação em dinheiro para atletas olímpicos e paralímpicos.
A Medida Provisória 1251/2024, que isenta do imposto de renda os prêmios em dinheiro recebidos por atletas e paratletas, foi recebida com aplausos por muitos. Afinal, parece justo que aqueles que dedicam suas vidas ao esporte, que elevam o nome do Brasil no cenário internacional, sejam recompensados de forma plena, sem que o Estado tire uma fatia de sua merecida conquista. No entanto, essa decisão, apesar de popular, levanta uma série de questões sobre a justiça fiscal e as prioridades do país.
É importante lembrar que o Brasil enfrenta desafios econômicos significativos. A carga tributária, embora alta, é uma necessidade para manter o funcionamento do Estado e os serviços essenciais à população. Ao isentar atletas de impostos sobre suas premiações, o governo abre um precedente perigoso. Qual será o próximo grupo a pedir isenção? Artistas premiados? Cientistas reconhecidos internacionalmente? E por que não estender essa isenção a todos os trabalhadores que, em suas áreas, também contribuem para o desenvolvimento do país?
A argumentação em favor da isenção pode se basear na ideia de que esses atletas são exemplos de superação e mérito. No entanto, devemos questionar se a justiça social permite que um grupo seleto de indivíduos, por mais talentosos que sejam, receba um tratamento tributário diferenciado. Todos somos brasileiros, todos temos deveres e responsabilidades para com o nosso país. O corte de impostos para atletas, embora popular e politicamente vantajoso, é uma medida que privilegia poucos em detrimento da coletividade, inclusive de políticas públicas para o desenvolvimento do esporte para a população em geral.
Portanto, ao invés de celebrar essa decisão, deveríamos refletir sobre o tipo de país que queremos construir. Um país onde as leis são moldadas ao sabor de paixões momentâneas, ou um país onde a justiça e a igualdade de oportunidades prevalecem? A resposta a essa pergunta define o futuro que deixaremos para as próximas gerações.
Kleber Carrilho é analista político, professor e pesquisador na Universidade de Helsinque, na Finlândia
Instagram | X: @KleberCarrilho
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