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O último dia de Bolsonaro

Jair Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | O Globo
Jair Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | O Globo
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 31/12/2022, às 06h55


Esta coluna tem quase três anos. E, com certeza, Jair Bolsonaro foi a pessoa mais citada por aqui. Como alguns defensores dele me acusaram, houve momentos em que criticá-lo foi quase uma obsessão.

Como fim de ano é tempo de pensar nos propósitos, nos objetivos e nos atos, assumo: Bolsonaro realmente foi uma pessoa que adorei criticar. Mas, muito mais do que ele, entendo que seria necessário criticar quem permitiu que um personagem tão frágil fosse o titular da caneta da Presidência da República por quatro anos.

E a questão não é pessoal. É profissional. Bolsonaronão tem a mínima condição de liderar nada, e isso ficou claro durante todos esses 48 meses de erros grotescos. Ele conseguiu, para termos uma ideia do tamanho da incompetência, ser o primeiro presidente não reeleito. Até Dilma Rousseff, com toda a crise que começou com os protestos de 2013, conseguiu ser reeleita em 2014.

A discussão, neste ponto, não passa pela disputa entre esquerda e direita, nem por uma crítica ao pensamento conservador. A questão é que Bolsonaro, além de não se preparar para o cargo, fez questão de manter as equivocadas certezas de quem não consegue ouvir aqueles que poderiam informá-lo sobre a realidade.

Fernando Henrique Cardoso tem um pequeno livro, uma carta aos jovens políticos, em que cita a necessidade de que líderes, no desenvolvimento da sua vida pública, tenham pessoas em quem confiam com a função de sempre levar a melhor observação da verdade, mesmo que ela seja terrível.

Bolsonaro não fez isso. Preferiu dar voz aos bajuladores. E não podemos, neste caso, culpar os filhos, que naturalmente tinham uma visão apaixonada do cenário. Deveria ter sido construído, no projeto político, o papel de quem faria a análise sem paixões. Porém, ninguém conseguiu ter essa função no entorno do presidente.

Mesmo Paulo Guedes, talvez o mais competente observador do governo, deixou de lado a ideia de levar a realidade ao chefe. Entre ser sincero perdendo o cargo e manter a cadeira sem levar a verdade, optou pelo segundo caminho. E está saindo tranquilamente, inclusive colaborando com o governo que está chegando.

Incompetência na gestão e incapacidade de entender o que é política são as marcas de Bolsonaro. Embora tenhamos tido outros presidentes com essas características, ele foi talvez o mais inapto dos que ocuparam o cargo. Até mesmo a já citada Dilma, que tomou decisões muito equivocadas, conseguiu entender que poderia perder o mandato, mas manter a possibilidade de ter relevância política.

Bolsonaro, além de tudo, optou por fugir, em todos os sentidos, inclusive da realidade. E, aos que pensam que ele foi competente ao juntar apoiadores, que hoje estão ainda nos quartéis, ou ao conquistar quase metade dos votos, é bom lembrar: isso tem muito mais a ver com a rejeição ao PT e ao Lula do que com alguma importância do ex-capitão.

Enfim, Bolsonaro será esquecido, inclusive por esta coluna. Ou, se for lembrado, será para colocá-lo no lugar em que merece estar: alguns parágrafos irrelevantes dos livros de História.

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