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O pragmatismo de Tarcísio e a birra de Bolsonaro

Tarcísio e Fernando Haddad. - Imagem: Reprodução | Diogo Zacarias/  Agência O Globo
Tarcísio e Fernando Haddad. - Imagem: Reprodução | Diogo Zacarias/ Agência O Globo
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 08/07/2023, às 06h02


A reunião do Partido Liberal esta semana, que tinha a intenção de criticar a decisão do TSE que tornou o ex-presidente inelegível, mostrou que a direita vai ter que decidir em pouco tempo que caminho vai tomar, pois é pouco provável que Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro continuem alguma parceria.

Enquanto o ex-presidente insiste em querer ser o único grande personagem de oposição a Lula, o governador de São Paulo sabe que só é possível construir um trabalho de longo prazo se puder também estar ao lado dos adversários em conquistas importantes, para dividir os louros com eles.

No discurso feito na tal reunião, ficou claro o objetivo: tentar tirar o protagonismo do Partido dos Trabalhadores na Reforma Tributária, que era aguardada há décadas e pode realmente trazer um sopro de modernidade à arrecadação no Brasil.

Mas era necessário tirar foto ao lado de Haddad, poderiam perguntar os críticos? Não, se você pensar a partir da fidelidade a Bolsonaro. Mas sim, se puder entender que, para herdar a liderança da direita, Tarcísio precisa conquistar o centro, e não os radicais, que jamais estarão do outro lado.

Ao mostrar independência desde os primeiros momentos do governo, atendendo a reuniões com Lula e mostrando capacidade de negociação, Tarcísio mostra que não é somente cria de Bolsonaro, como muitos imaginaram, e que consegue desenvolver um discurso muito próximo ao do líder do seu partido, o presidente do Republicanos Marcos Pereira, que indicou claramente a posição dias antes: “não somos da base do governo, mas somos a favor do Brasil.”

Portanto, Tarcísio está deixando claro o que pensa: o PT não pode ser dono sozinho de nada que possa ter destaque. É melhor estar ao lado dos aliados de Lula nas conquistas do que jogando pedra naquilo que pode ser visto como conquista. Afinal, ainda tem muito tempo até as próximas eleições.

Além disso, e talvez mais importante, é que Bolsonaro já está inelegível, e pode ser que perca todos os direitos políticos, e nem poderá manter algum cargo no PL. Então, como não há vácuo no poder político, alguém precisa estar pronto para assumir o protagonismo à direita.

Romeu Zema já mostrou limitação no discurso e na capacidade de compreensão do cenário, Eduardo Leite não consegue demonstrar exatamente a que veio, nem conseguiria ser adotado pelos radicais. Portanto, para brigar com Lula, alguém vai precisar conquistar todo o sentimento antilulista, mesmo estando institucionalmente com ele de vez em quando. Por enquanto, Tarcísio de Freitas mostrou que é o único capaz disso.

É claro que as reviravoltas existem, e a figura de Bolsonaro é muito forte. Porém, como a inteligência estratégica não é exatamente um aspecto que se possa encontrar no ex-presidente, o mais provável é que ele se enrole nas birras e acabe rapidamente na irrelevância da qual nunca deveria ter saído.

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