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Maduro, a pedra no sapato de Lula

Maduro e Lula. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Maduro e Lula. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 06/04/2024, às 05h05


Há alguns meses, Lula foi muito claro ao aconselhar Maduro sobre as eleições venezuelanas. Elas deveriam acontecer da maneira mais democrática possível, pois do contrário haveria consequências ruins para ambos os países.

Antes de explicar as consequências, precisamos nos lembrar que, quando falamos da Venezuela, não estamos nos referindo a um vizinho qualquer, mas a um dos maiores produtores mundiais de petróleo, que desperta interesses de diversos países em todo o mundo, principalmente dos Estados Unidos.

Por isso, de acordo com Lula, Maduro deveria se manter aceito por parte da comunidade internacional, depois de reconduzido ao cargo com eleições limpas, contando com a presença de observadores de diversos países e instituições para certificar que ele ainda é o líder que os venezuelanos realmente querem.

E por que essa preocupação de Lula aconteceu somente agora? Primeiramente, porque é a primeira eleição no país vizinho depois do retorno do petista à Presidência. Segundo, porque o governo de Maduro é uma referência importante para o discurso de Bolsonaro e de seus seguidores. E terceiro, e mais grave, a eleição dos Estados Unidos neste ano, que pode resultar na vitória de Trump, pode levar a uma invasão da Venezuela se o ambiente social estiver claramente instável.

As preocupações de Lula parecem fazer sentido, porque, ao impedir que a oposição pudesse apresentar a candidata desejada, o regime de Maduro deu mostras de que não tem certeza do apoio da população, e precisaria influenciar mais uma vez na eleição para garantir a vitória. O problema é que, com isso, qualquer agitação dos opositores nas ruas poderá causar uma instabilidade natural, além da orquestração organizada por quem quer ver os bolivarianos fora do poder, chegando até mesmo a uma guerra civil, como previu José Dirceu há alguns dias.

Se houver essa instabilidade, qualquer coisa pode acontecer. E, como a oposição parece não estar organizada para derrubar Maduro e montar um governo, uma participação direta dos EUA sob a liderança de Trump seria o próximo passo.

Com um vizinho aliado ocupado, a liderança regional que Lula quer confirmar para conseguir destaque mundial fica ameaçada, afinal, por muito tempo, ele foi o avalista do regime venezuelano.

Com Trump no poder, uma invasão à Venezuela pelos EUA e a comunicação do governo que não dá conta de garantir apoio interno, a possibilidade de que isso tudo influencie no resultado de 2026 é claro. E, se os adversários de Lula conseguiram eleger Bolsonaro, não seria difícil transferir os votos para outro candidato mais ao centro.

Tudo isso está tirando o sono de Lula. Portanto, quando ele aconselhou Maduro a manter o poder com aparente normalidade democrática, e agora o critica em público, o presidente brasileiro está de olho nas urnas em 2026.

Será que Maduro entendeu o recado?

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