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Lula não está preocupado com a esquerda

Paulo Gonet, Luiz Inácio Lula da Silva e Flávio Dino. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Paulo Gonet, Luiz Inácio Lula da Silva e Flávio Dino. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 02/12/2023, às 07h28


Nesta semana, as indicações do presidente Lula para o STF e a PGR fizeram algum barulho. Muitos grupos protestaram porque não há mulheres, outros porque não há negros, e outros ainda porque os desejos do PT e de outros partidos mais à esquerda não foram atendidos.

Então, eu tenho que dizer uma coisa importante para quem ficou chateado: Lula não está nem um pouco preocupado com a sua chateação. Isso mesmo! O que ele quer é manter a governabilidade, mesmo que, para isso, ele tenha que comprar algumas brigas com setores da esquerda e, em determinados momentos, com a esquerda como um todo.

A indicação de Paulo Gonet e de Flávio Dino levam a gente a acreditar que o presidente está de olho na reeleição. Afinal, ao indicar Gonet, que claramente não está ao lado das demandas da esquerda, ele deixa contentes setores do centro e da direita. Já com Dino, ele agrada os partidos que iniciaram com ele a frente ampla, mas que estavam desconfiados do poder que o PT poderia ter no governo.

E, se a ideia de Lula é manter a base, ele está conseguindo. No ambiente bolsonarista, as críticas têm acontecido, mas pouco tem havido movimento para a formação de uma nova liderança. Se Bolsonaro não puder mesmo ser candidato em 2026, a falta de planejamento para uma nova liderança à direita deixa Lula com muita vantagem. Para formar um novo candidato até lá, por mais que três anos pareçam muito tempo, é algo muito difícil

Portanto, observem muito bem esses movimentos. Lula está claramente tentando manter o poder sobre o ambiente político, o que inclui o Centrão, que representa uma ideia de centro mas que tem principalmente a centro-direita e muito da base regional conservadora, o que é fundamental numa tentativa de reeleição.

Portanto, antes de ir para o Oriente Médio e tentar conseguir investimentos para o PAC com os árabes, Lula fez esse movimento interno para manter um governo que consiga entregar promessas e inviabilizar o surgimento de um novo nome na oposição.

Embora ainda tenha se perdido no uso das redes sociais, o governo Lula explica muito para Bolsonaro o que ele não foi capaz, isto é, dominar o ambiente político e ter coragem para brigar com a própria base ideológica.

Afinal, se o PT e o PSOL, que foram os que mais fizeram barulho pela indicação de Gonet e Dino, não quiserem mais estar com Lula por causa dessas escolhas, eles estarão com quem?

Isso porque é evidente que eles jamais estariam do outro lado. Então, por que Lula deveria satisfazer seus desejos agora?

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