Desde agosto, estou morando em Helsinque, capital de Finlândia e a complicação começa pelo fato de que os finlandeses não são latinos
por Kleber Carrilho
Publicado em 26/11/2022, às 08h14
Desde agosto, estou morando em Helsinque, capital de Finlândia. Além de curtir a neve e as temperaturas negativas, que já começaram por aqui em pleno outono, uma das minhas principais atividades tem sido explicar para alguns finlandeses o que está acontecendo no Brasil.
A complicação começa pelo fato de que os finlandeses não são latinos, não se parecem com latinos, quase não têm palavras de origem latina na língua (que é a mais estranha do mundo) e não têm a mínima ideia do que é proximidade. Então, abraço para eles é evento e ser apaixonado por político, então, é algo que não têm o menor sentido.
Então, tenho começado sempre por falar dessa nossa tradição latina de gostar de ficar perto de quem tem poder, afinal, herdamos essa característica de grande parte dos que nos formaram, principalmente do jeito de fazer política de portugueses, espanhóis e italianos.
Porque, para uma parte da Europa, a ideia de populismo tem uma relação direta com algum risco, principalmente na proteção das nacionalidades. Húngaros, poloneses e ucranianos, que são estudados por aqui e convivem também com projetos políticos populistas, têm, na construção desses projetos, o temor da invasão por outros povos, os riscos nas fronteiras e por isso veem uma saída na superproteção da ideia de nacionalidade e de um único povo.
Nós não temos esses riscos diretamente. Nenhum dos países que nos cercam tem a intenção de nos invadir, nem temos a chegada de um enorme número de estrangeiros que podem colocar em risco a maioria de brasileiros no país.
Então, falo principalmente da nossa grande capacidade de criar inimigos ou de adotar os monstros que os líderes que adoramos ajudam a inventar. A luta sempre é contra o comunismo, o globalismo, a ditadura LGBTQIAPN+, os abortistas, entre tanta coisa que existe de forma organizada somente nas narrativas que ganham novos contornos a cada compartilhamento nas redes sociais. Porque, de verdade, nada disso existe.
Por isso, a minha explicação quase não fala sobre política institucional. Os papéis constitucionais da Presidência da República, do Congresso Nacional ou do Supremo Tribunal Federalnão fazem parte disso, mas todas as histórias criadas ao redor das atuações, com certeza são fundamentais para entender o cenário.
A briga é uma novela, e aí a explicação começa a fazer sentido. O mito Bolsonaro contra o ditador Alexandre de Moraes, que vive em conluio com o grande estrategista do mal, o ex-presidente Lula, que quer dividir casas com mais de 60 metros com outras famílias, o que seria operacionalizado por Guilherme Boulos. Do lado dos cidadãos do bem, estão Roberto Jefferson, Valdemar da Costa Neto, Sérgio Moro, que já teve um papel majoritário na novela, quando tentou impedir que o maior bandido da história pudesse ser eleito. Quem decidiu que era o maior bandido? O próprio herói.
E inclui-se aí também muita participação de promessas divinas, de pirâmides financeiras, de criptomoedas, de golpes de gente pedindo ajuda pela “democracia” por pix, de camisas de futebol, de promessas de picanha e cerveja para todos.
Por isso, ao tentar explicar o Brasil para quem não conhece, sempre peço para que esqueçam da política. E que entendam que a intenção é que haja sempre uma história a ser contada, não importa quão inverossímil ela seja. A ideia de que tudo é política é somente o pano de fundo.
Porque, para uma parte da Europa, a ideia de populismo tem uma relação direta com algum risco, principalmente na proteção das nacionalidades. Húngaros, poloneses e ucranianos, que são estudados por aqui e convivem também com projetos políticos populistas, têm, na construção desses projetos, o temor da invasão por outros povos, os riscos nas fronteiras e por isso veem uma saída na superproteção da ideia de nacionalidade e de um único povo.
Nós não temos esses riscos diretamente. Nenhum dos países que nos cercam tem a intenção de nos invadir, nem temos a chegada de um enorme número de estrangeiros que podem colocar em risco a maioria de brasileiros no país.
Então, falo principalmente da nossa grande capacidade de criar inimigos ou de adotar os monstros que os líderes que adoramos ajudam a inventar. A luta sempre é contra o comunismo, o globalismo, a ditadura LGBTQIAPN+, os abortistas, entre tanta coisa que existe de forma organizada somente nas narrativas que ganham novos contornos a cada compartilhamento nas redes sociais. Porque, de verdade, nada disso existe.
Por isso, a minha explicação quase não fala sobre política institucional. Os papéis constitucionais da Presidência da República, do Congresso Nacional ou do Supremo Tribunal Federal não fazem parte disso, mas todas as histórias criadas ao redor das atuações, com certeza são fundamentais para entender o cenário.
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