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COLUNA

Amazônia, Rússia, Ucrânia e os novos tempos da geopolítica

Amazônia, Rússia, Ucrânia e os novos tempos da geopolítica . - Imagem: Divulgação/Exército
Amazônia, Rússia, Ucrânia e os novos tempos da geopolítica . - Imagem: Divulgação/Exército

Marina Roveda Publicado em 04/03/2023, às 10h01


Duas enormes crises estão acontecendo ao mesmo tempo, o que tem obrigado os líderes mundiais a terem que negociar de forma urgente o papel que seus países têm (e terão) no mundo.

A primeira dessas crises, e a mais urgente, é a climática. Durante muito tempo, ela foi deixada de lado, negligenciada, às vezes quase esquecida. Porém, os eventos extremos em todos os cantos do mundo deixam claro que, se não houver ações rápidas e eficientes, todos sofrerão com as adversidades, que incluem perdas de produção agrícola, de territórios e também de vidas.

Nesta crise, o Brasil tem papel fundamental, não só por ter em seu território a maior parte da Amazônia, mas também por ter outros biomas importantes para a preservação de espécies únicas da flora e da fauna. E, como já se sabe há décadas, a riqueza resultante dessa preservação, ou da exploração racional, tende a trazer diversos benefícios ao país e a algumas populações que hoje têm pouco acesso a recursos financeiros.

Ao contrário do governo anterior, o atual presidente escolheu uma equipe com reconhecimento internacional, está estimulando um trabalho com preocupação climática transversal, em diversos ministérios, e tem conseguido retomar os recursos do Fundo Amazônia.

Isso é suficiente? Ainda não, mas já há um posicionamento claro de que o Brasil vai tentar se mostrar como um importante player no rearranjo do poder geopolítico a partir da questão ambiental.

A segunda crise pela qual o mundo passa é a finalização do processo de reestruturação das forças depois da derrocada da União Soviética, que começou há 30 anos. Com o fortalecimento dos EUA, da OTAN e da União Europeia, parecia que o mundo teria um tempo longo de paz e tranquilidade, com o Ocidente apenas conferindo à distância o desenvolvimento econômico da China e dos que antes eram chamados de “tigres asiáticos”.

Porém, com a invasão da Rússiaà Ucrânia, houve uma aceleração da apresentação do poder da China, que desde o início vê na antiga potência soviética uma representante na fronteira com o Ocidente. Além disso, com a atuação dos súditos de Xi Jinping no domínio de parte da Ásia e da África, além de incursões pela América Latina, fica claro que a polarização do mundo pelas próximas décadas não terá fronteiras físicas muito claras.

Neste contexto, novamente o Brasil precisa entender qual papel pode ter. Os movimentos de neutralidade do novo governo frente ao conflito fratricida entre russos e ucranianos, com uma tentativa de propor uma paz que não interessa a muita gente, pode ser um indicativo de que Lula e sua equipe precisam entender que, em tempos tempos como esse, é preciso ter lado.

O risco de se manter entre os EUA, que lideram a OTAN e o Ocidente, e a aliança representada por Rússia, China e Índia, não por acaso nossos aliados no BRIC (desde antes da chegada da África do Sul ao bloco), é que na distribuição de poder o Brasil fique com pouco mais do que somente a antiga influência sobre os vizinhos da América do Sul.

Se a ideia é ser um país relevante, com capacidade de negociação tanto com a China quanto os EUA, é necessário retomar o processo de expansão econômica para a África, a América Central e, por que não, tentar entrar na Europa a partir de Portugal, que já tem grande parte da sua economia sustentada pela mão de obra e pelos investimentos brasileiros.

É hora de entender como o Brasilvai lidar com todos esses desafios geopolíticos nos próximos anos, e não somente neste governo, para que tenhamos finalmente um papel de relevância no mundo.

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