Diário de São Paulo
Siga-nos
COLUNA

A discussão deve ser muito mais séria do que privatizar ou não

Enel. - Imagem: Divulgação
Enel. - Imagem: Divulgação
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 11/11/2023, às 07h51


Nesta semana, mais uma vez, os ventos (sim, os ventos!) trouxeram uma discussão muito importante: afinal, o ideal é que a energia elétrica seja distribuída por empresa pública ou privada? O que é que funciona melhor?

Depois do apagão que tomou conta de São Paulo, o que eu posso dizer é que, nesta discussão, em geral, os dois lados não têm razão. Afinal, o que funciona melhor é a regulação competente, é fiscalização que realmente acontece.

Porque, no final das contas, as pessoas que comandam as empresas, assim como os políticos, só vão trabalhar direito se souberem que há realmente gente pressionando para que os resultados apareçam.

Para se ter uma ideia de como isso faz toda a diferença, note que a maioria das privatizações no Brasil tem, entre os seus participantes e, muitas vezes, os seus ganhadores, empresas públicas de outros lugares do mundo. E a pergunta que fica é: por que eles trabalham tão bem nos seus países de origem e não tão bem no Brasil?

E a resposta é simples: porque, nos países de origem, a regulação existe, e os lucros, consequentemente, são menores. Por isso, eles vão para o Brasil e outros países, para tentar aumentar o lucro da operação mundial.

Portanto, o que o Brasil precisa neste momento é rever os contratos de privatização em todos os setores, não somente na energia elétrica, para realmente ter controle sobre as empresas que estão prestando serviços.

E, claro, se houver mais possibilidades de privatização, isso tem que ser feito com muita responsabilidade. Mas note que, se houver a necessidade de manter empresas públicas, a gente também tem que ter uma grande capacidade de fiscalização sobre elas, pois é só assim que elas também funcionam.

Por isso, não adianta pensar que privado é melhor que público, ou que público é melhor do que privado se não houver regulação, se não houver controle, se a fiscalização não acontecer.

É esta a razão pela qual, quando a gente olha para outros países, com economias desenvolvidas principalmente, as coisas funcionam muito bem: porque tem gente observando o tempo todo, com regulação clara e punições também muito bem definidas.

O que ocorre é que, se fizermos isso direitinho, é muito provável que as empresas internacionais se afastem dos leilões, por saberem que vão ter que gastar dinheiro para manter equipes competentes, que em geral são mais caras.

É hora de todos os governos (federal e estaduais, principalmente) olharem para o que querem oferecer para a população, e não para acionistas de fundos de investimento.

Afinal, é para isso que foram eleitos, embora muita gente tenha contas de campanha para pagar.

Compartilhe  

últimas notícias