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Veja lista de esportes adaptados para atletas amputados

Apesar do Brasil ser uma potência paralímpica, ainda é comum que pessoas com deficiência – seja ela física, intelectual ou visual – tenham que lidar com

ATLETAS
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Redação Publicado em 31/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h07


Apesar do Brasil ser uma potência paralímpica, ainda é comum que pessoas com deficiência – seja ela física, intelectual ou visual – tenham que lidar com preconceito e exclusão na sociedade, o que acaba também se refletindo no esporte. O EU Atleta abordou as possibilidades e adaptação para que deficientes visuais possam praticar esportes também de forma amadora, com dicas do nadador Wendell Belarmino. Desta vez, com as Paralimpíadas de Tóquio, vamos listar as modalidades que podem ser adaptadas e disputadas por atletas amputados, com o exemplo do lutador de parajiu-jitsu Juninho Cabral, campeão Pan-Americano da modalidade em 2019.

Ao todo, 18 modalidades do programa paralímpico de verão contemplam atletas amputados, um dos oito tipos de deficiência física, de acordo com a classificação do Comitê Paralímpico Internacional. Para as competições, não faz diferença se a deficiência é congênita (de nascença) ou adquirida. Entretanto, as classes e adaptações podem mudar de acordo com os membros afetados e o grau da perda de capacidade física, com especificidades em cada uma delas.

Modalidades que podem ser praticadas por atletas amputados

  • Atletismo – de acordo com a classe, o atleta pode competir com próteses ou cadeira de rodas
  • Badminton – um dos esportes estreantes em Tóquio, o badminton paralímpico pode ser jogado em meia-quadra nas classes em que os atletas possuem maior restrição de movimento com a cadeira de rodas. Atletas com deficiência nos membros superiores jogam sem adaptações.
  • Basquete sobre Cadeira de Rodas – os atletas recebem uma classificação de 1 a 4,5 de acordo com o grau de deficiência, e o time deve ter, no máximo, 14 pontos em quadra. As cadeiras também possuem design especial, com maior estabilidade que as tradicionais, e altura adequada à execução dos fundamentos mais usados pela posição do atleta. Nas regras, a única diferença para o basquete olímpico é que o atleta deve passar, quicar ou arremessar a bola a cada dois toques de dedo na cadeira.
  • Canoagem – os atletas são divididos em três categorias: os que remam só com movimento dos braços, os que usam braços e troncos e os que usam braços, troncos e pernas.
  • Ciclismo – atletas amputados nos membros superiores competem em bicicletas tradicionais que podem ter adaptações específicas para o uso de câmbios e freios. Para amputações nos membros inferiores, é utilizada uma versão especial: a handbike, em que os pedais são impulsionados pelo movimento das mãos.
  • Esgrima sobre Cadeira de Rodas – disputado em pista mais curta que a da versão olímpica, os atletas são classificados de acordo com a restrição dos seus movimentos de tronco e pernas.
  • Hipismo – restrito a atletas com deficiência nos membros inferiores, os atletas são divididos pelo grau de deficiência em categorias que também contemplam competidores paralisados, de baixa estatura e deficientes visuais.
  • Natação – um dos esportes mais inclusivos, contempla quase todos os tipos de deficiência, com divisões de acordo com as partes do corpo afetadas e grau de comprometimento. A principal adaptação para amputados é a largada, que pode ser feita de dentro da piscina ou sentado no bloco de partida.
  • Powerlifting – restrito a atletas com amputações nos membros inferiores, se difere do levantamento de peso olímpico por utilizar um único movimento vertical: o supino.
  • Remo – assim como na canoagem, a classificação é de acordo com as partes do corpo utilizadas no movimento da remada. Atletas com dificuldade de equilíbrio podem ser amarrados ao barco ou assento para competir.
  • Rugby sobre Cadeira de Rodas – o esporte é praticado por atletas com tetraplegia ou lesões equivalentes. Para o caso de amputados, são contemplados apenas atletas com múltiplas amputações. O sistema de classificação segue a mesma lógica do basquete, com atletas somando, no máximo, nove pontos em quadra. Se difere das versões tradicionais do rugby por ser praticado em uma quadra de basquete, com apenas quatro jogadores, e por possuir quatro tempos de oito minutos.
  • Taekwondo – debutante em Tóquio junto do badminton, o parataekwondo é disputado por atletas com amputações nos membros superiores, divididos em unilateral e bilateral. Ao contrário do taekwondo olímpico, chutes no rosto não são permitidos e podem render pontos para o adversário ou desclassificação do combate.
  • Tênis de Mesa – os atletas são separados entre andantes e cadeirantes de acordo com a deficiência. A única diferença para o olímpico é o saque adaptado para os atletas que jogam em cadeira de rodas. Há também casos de atletas que seguram a raquete com a boca.
  • Tênis sobre Cadeira de Rodas – dividido entre as classes aberta e quad (para atletas com tetraplegia), a única diferença para a versão olímpica é que a bola pode quicar duas vezes na quadra ao invés de uma.
  • Tiro com Arco – classificados de acordo com o número de membros afetados pela deficiência, a competição segue as regras da versão olímpica.
  • Tiro Esportivo – atletas competem de acordo com o nível de controle sobre o equilíbrio de seus corpos, podendo competir em pé, ajoelhados ou deitados.
  • Triatlo – segue as adaptações físicas dos três esportes que o compõem – natação, atletismo (corrida) e ciclismo.
  • Vôlei Sentado – com a mesma pontuação do vôlei olímpico, a versão paralímpica se difere pelo tamanho da quadra, altura da rede e pela possibilidade de bloquear o saque.
Samuel Henrique Arantes, vôlei sentado, Parapan-americano — Foto: Samuel Henrique Arantes/Arquivo Pessoal

Samuel Henrique Arantes, vôlei sentado, Parapan-americano — Foto: Samuel Henrique Arantes/Arquivo Pessoal

Outras modalidades que já integraram os Jogos Paralímpicos

Na lista, há também esportes adaptados para os Jogos Mundiais para Cadeirantes e Amputados.

  • Dartchery, esporte híbrido que combina dardo e tiro com arco
  • Futebol de Amputados
  • Jogos de Bilhar
  • Lawn Bowl, variação da bocha disputada sobre grama
  • Levantamento de Peso
  • Racerunning, variação da corrida em que o paratleta corre junto a um triciclo adaptado
  • Queda de Braço
  • Wrestling (Luta Olímpica)
  • Vela
Jogo de Futebol de Amputados no Ceará — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução

Jogo de Futebol de Amputados no Ceará — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução

Sobre o Juninho Cabral

Nascido com má formação congênita nos quatro membros, Juninho Cabral sempre se viu deteminado a viver sua paixão pelo esporte. Antes de ser atleta de jiu-jitsu, ele jogou futsal, futebol e handebol, acompanhado de colegas que não possuíam nenhuma deficiência. Juninho conta que a sensação de ser capaz sempre esteve com ele, apesar do olhar ressabiado de muitos.

– Foi uma coisa que nasceu comigo. O esporte para mim sempre foi um caminho. Sempre fui apaixonado por futsal e futebol. A primeira vez que eu entrei em quadra foi com 15 anos, mas com nove, dez anos eu já queria jogar bola, só que os meus professores de Educação Física não deixavam. Eles tinham receio de que eu não fosse conseguir, que poderia me machucar, e eu falava que ia dar conta. Essa sempre foi minha briga com os professores de Educação Física. Quem me conhece já sabe que eu dou conta. As pessoas que não me conhecem olham com receio e com desconfiança, mas eu vou lá e mostro para eles que sou capaz – relembra Juninho.

Juninho pronto para entrar no tatame e competir — Foto: Arquivos/Assessoria Unic

Juninho pronto para entrar no tatame e competir — Foto: Arquivos/Assessoria Unic

O atleta diz ter uma grande admiração pelo velejador Lars Grael. Embora não tenha competido nos Jogos Paralímpicos, Lars é um exemplo de esportista de destaque com deficiência. Depois de ganhar dois bronzes olímpicos, o timoneiro teve sua perna mutilada em um acidente, em 1998. Oito anos depois, ele voltou a competir entre os melhores do mundo e, em 2015, se consagrou como Campeão Mundial da classe Star. Assim como Lars, Juninho também competiu, em sua época de futsal, contra atletas que não possuíam nenhuma deficiência e lembra de um episódio de preconceito em que deu a resposta em quadra, com uma dose de irreverência.

– A gente estava jogando na faculdade contra o time de outra sala e o cara, para motivar o time dele, falou: “Vamos, galera! A gente está com um a mais em quadra e está perdendo”. Eu olhei em volta, meus amigos falando: ‘Vai deixar, Juninho?”. No próximo lance, eu dei um chapéu no cara e falei: “Isso porque está com um a mais. Imagina se a gente estivesse completo.” Toda vez que eu lembro desta história eu dou risada. O cara quis me discriminar e tomou um chapeuzinho” – ele conta.

Como muitas vezes não o deixavam jogar com as outras crianças, Juninho começou a alimentar outro sonho com a sua paixão pelo esporte: o de cursar Educação Física. Durante o curso, se tornou também auxiliar técnico do time de futsal feminino da Universidade de Cuiabá (Unic) em Rondonópolis, onde se formou. E seria dali que sairia também seu primeiro contato com o jiu-jitsu, esporte em que se destaca hoje.

– O jiu-jitsu entrou na minha vida em 2019. Fui buscar patrocínio para o time de futsal em uma academia aqui da região, e o professor disse que me dava se eu fizesse uma aula experimental de jiu-jitsu. Eu fui e não parei até hoje. Me apaixonei! – ele declara.

Juninho mostra a medalha de ouro conquistada no Campeonato Pan-Americano, disputado no Uruguai — Foto: Arquivos/Assessoria Unic

Juninho mostra a medalha de ouro conquistada no Campeonato Pan-Americano, disputado no Uruguai — Foto: Arquivos/Assessoria Unic

De lá para cá, Juninho acumulou conquistas na nova modalidade. Em 2020, se consagrou Campeão Pan-Americano no Uruguai. Nesse ano, conquistou a medalha de prata no Grand Slam do Rio de Janeiro, o que lhe rendeu uma vaga no Campeonato Mundial que acontecerá em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, ainda sem data definida por conta da pandemia. Ele, que experienciou tanto o esporte adaptado como atleta quanto o esporte tradicional como treinador, destaca que, no momento de competição, a deficiência se torna apenas um detalhe.

– A diferença está para quem olha de fora. Para a gente que está lá dentro, não tem diferença nenhuma. Pelo contrário, o nível é sempre altíssimo e a vontade de vencer e mostrar que dá conta é a mesma. Um conselho que eu posso dar e, que serve para a pessoa que não tem deficiência também, é para não desistir dos seus sonhos e seguir em frente, porque você é capaz. Eu tenho meus três passos do dia a dia, que é: eu quero, eu posso, eu consigo. O ser humano é capaz de tudo. O segredo é não ter medo e seguir em frente – completou Juninho.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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