No dia 20 de março de 2021 o astro da NBA LeBron James sofreu um trauma no tornozelo direito em partida disputada entre seu time, Los Angeles Lakers, contra o Atlanta Hawks, tendo que abandonar a partida. Segundo divulgado na imprensa, o atleta teria sofrido uma lesão da sindesmose do tornozelo (“ high ankle sprain”). Então vamos explicar como aconteceu, uma vez que qualquer atleta, inclusive amador, pode sofrer esse trauma.

Anatomia

A estabilidade entre a tíbia e a fíbula distal é conferida pela estrutura óssea e ligamentar da sindesmose, uma espécie de articulação fibrosa em que os ossos são unidos por um ligamento; sendo a fíbula, osso que se relaciona com a tíbia em uma incisura triangular acima aproximadamente seis à oito cm da articulação tíbio-társica. Os ligamentos tíbio-fibular anterior, interósseo, tíbio-fibular posterior, transverso e a membrana interóssea compõe a sindesmose. Lembrando que o ligamento deltoide, medialmente, também contribui para a estabilidade da sindesmose, região afetada pelo atleta.

A lesão da sindesmose é menos comum que a lesão do complexo ligamentar lateral do tornozelo, podendo estar presente entre 1% à 18% destas lesões, mas que chega à 25% quando se trata de atletas que praticam esportes de impacto, como os de colisões em velocidade, terrenos irregulares, que têm saltos e mudanças de direção (basquete, futebol, futebol americano e esqui, por exemplo).

Diagnóstico

São lesões de difícil diagnóstico, com resultados pouco previsíveis e que podem levar a uma recuperação mais prolongada. Um avaliação clínica minuciosa, com um exame físico bem feito, com aplicação de testes e exames complementares para a avaliação da sindesmose ajudam na interpretação final, como:

  • “Squeeze test” – teste da rotação externa;
  • Exames complementares como radiografias com carga e com estresse;
  • Ressonância magnética;
  • Atualmente sabemos que a artroscopia pode ser uma arma a mais no arsenal para o diagnóstico.

Classificação e tratamento

Há três graus de classificação das lesões de sindesmose no tornozelo — Foto: Istock Getty Images

Há três graus de classificação das lesões de sindesmose no tornozelo — Foto: Istock Getty Images

Existe uma classificação para as lesões da sindesmose (West Point) que vai do grau I ao III.

  1. grau I que é uma lesão estável, mais leve, sem comprometimento da estabilidade da sindesmose, é de tratamento conservador, com imobilização, retirar carga e reabilitação;
  2. A grande controvérsia está no tratamento das lesões grau II, que são lesões ligamentares mais severas que as do grau I, só que não têm uma diástase franca, mas podem ter uma instabilidade sútil da articulação tíbio-fibular distal que pode ser de difícil percepção até em testes de estresse sob anestesia. Ainda hoje não existe uma relação clínico-radiológica consistente que determina qual atleta com lesão grau II tem uma instabilidade dinâmica que necessita ser fixada ou não. O que sabemos por experiência é que para um atleta de alto rendimento, essa lesão pode influenciar na performance;
  3. A lesão grau III que é uma ruptura completa da sindesmose, com instabilidade e diástase também tem seu tratamento bem definido, com cirúrgico para fixação desta sindesmose.

A artroscopia é um bom método de avaliação da instabilidade da sindesmose, sendo que a abertura da mesma maior que 2 mm é indicativo de fixação. Além disso, sabemos que as lesões associadas, como as do complexo ligamentar lateral, lesões do deltoide e lesões osteocondrais, podem comprometer no resultado do tratamento.

Como essas lesões grau II são de tratamento controverso, mais pelo seu diagnóstico preciso, deve existir uma relação estreita entre o médico assistente, o atleta, o departamento médico da equipe e afins para que o tratamento instituído seja o melhor possível para o atleta, para um retorno mais rápido às atividades, sem limitações e dor no futuro, podendo praticar no mais alto nível como fazia anteriormente.

Alexandre Daher Albieri, membro da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE) e da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPÉ).

Referências:

  1. Kenneth JH, Phisitkul P, Pirolo J, Amendola A. High Ankle Sprains and Syndesmotic Injuries in Athletes. Journal AAOS, 661-673;
  2. Calder JD, Bamford R, Petrie A, McCollum GA. Stable versus unstable grade II high ankle sprains: a prospective study predicting the need for surgical stabilization and time to return to sports. Arthroscopy. 2016; 32(4):634-642;
  3. Magan A, Golano P, Maffulli N, Khanduja V. Evaluation and management of injuries of the tibiofibular syndesmosis. British Medical Bulletin, 2014, 111Ç101-115;
  4. Williams GN, Jones MH, Amendola A. Syndesmotic ankle sprains in athetes. AM J Sports Med. 2007; 35(7):1197-1207.

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Fonte: GE – Globo Esporte.