Diário de São Paulo
Siga-nos

Filho do ex-jogador Abedi se destaca no parajiu-jítsu e sonha com patrocínio e título mundial

Sem os movimentos dos membros inferiores, ele chega de cadeira de rodas na academia localizada na Rua Professor Gonçalves, em Campo Grande, na Zona Oeste do

FILHO
FILHO

Redação Publicado em 07/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h06


Sem os movimentos dos membros inferiores, ele chega de cadeira de rodas na academia localizada na Rua Professor Gonçalves, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O tatame fica no segundo andar e seu pai o carrega no colo para subir as escadas e colocá-lo no local que o faz feliz. O ritual se repete religiosamente de segunda a sexta-feira. Se fora dali não anda, ao tocar o solo, voa. Este é Robson Thuler, o Robinho, lutador de jiu-jítsu paradesportivo, campeão brasileiro da modalidade e filho do ex-jogador do Vasco Abedi.

Hoje com 20 anos, na faixa-roxa da arte suave e com um currículo que já impõe respeito, o vascaíno Robinho teve sua história tornada pública quando tinha apenas seis e ela ganhou notoriedade especialmente após um clássico entre Vasco e Fluminense, no Maracanã. Naquele 3 de junho de 2007, quando o relógio apontava 29 minutos da primeira etapa, Abedi recebeu a bola, arrumou para a perna direita e bateu forte, de fora da área, para abrir o placar do jogo que terminou em 1 a 1. Na comemoração, simulou a brincadeira que fazia com o filho ao socar a bola de volta para o gol tricolor, mas o árbitro Alício Pena Junior achou que era uma provocação e deu cartão amarelo para o jogador. A lembrança segue viva na mente de Robson.

– As lembranças que tenho do meu pai são dele jogando, lá no Maracanã, com aquela rede linda que quando chutava na gaveta, a bola ia lá no fundo. Eu entrando em campo com ele, no colo sempre, ele comemorando aquele gol contra o Fluminense que ele até tomou um cartão amarelo injustamente. Aquilo ficou na minha memória.

– Ele (o árbitro) não entendeu. Achou que eu estava desmerecendo o Fernando Henrique (goleiro do Fluminense na partida). Peguei a bola e joguei dentro do gol de novo. Ele achou que eu estava desfazendo do Fernando Henrique, mas era um negócio que eu tinha combinado com o Robinho – recordou Abedi.

O diagnóstico de linfoma de Burkitt leucemizado – um tipo de câncer do sistema linfático que afeta as células de defesa do corpo – veio quando tinha apenas três anos. Ao realizar uma biópsia, no entanto, perdeu o movimento das pernas. Até hoje não houve conclusão sobre o que ocasionou a lesão. Mesmo assim, nada parece abalar Robinho.

– O Robinho, desde que conheço, sempre foi um moleque alto astral. Nunca deixou a deficiência deixar ele pra baixo. Ele serve de inspiração pra mim e creio que para todos da academia. Ele chegou e falou: “Bombom, agora eu vou lutar”. Começou a ver as competições, participou e ganhou. Ele é alto astral. Ele é aquele cara que diz “vou fazer, vou conseguir” – contou um de seus atuais treinadores, Pedro Alex, também conhecido pelo apelido de Bombom na academia.

Fã de MMA desde a infância, Robinho preferia os confrontos resolvidos na trocação e achava “sem graça”, como ele mesmo diz, quando as lutas iam para o solo. Quis o destino que em 2013, quando Abedi jogava na Cabofriense, ele conhecesse a academia de Leonardo Bileo e se apaixonasse pelo jiu-jítsu.

Robinho torce para o Vasco, clube pelo qual seu pai se destacou — Foto: Arquivo pessoal

Robinho torce para o Vasco, clube pelo qual seu pai se destacou — Foto: Arquivo pessoal

Tratado de igual para igual em relação aos outros alunos praticantes de jiu-jítsu convencional, Robinho não quis mais abandonar o esporte.

– Bileo me tratou de um jeito que foi um paizão pra mim desde sempre. Gosto quando as pessoas me tratam desse jeito, sem essa coisa de muito cuidado. Gosto de me virar. Foi exatamente o que ele fez. Me deixou tranquilo. Ali era meu local de brincar. A brincadeira foi virando um trabalho.

Foi o próprio Bileo quem indicou a academia na qual Robson treina atualmente, em Campo Grande, quando a família precisou voltar a morar no Rio de Janeiro. Lá, sob o comando de Gabriel Marinho, foi graduado faixa-roxa, tornou-se campeão brasileiro de parajiu-jítsu e foi vice-campeão sul-americano no jiu-jítsu convencional. Agora, sonha ainda mais alto, mas esbarra na falta de apoio para poder bancar as participações nos campeonatos que gostaria.

– Me vejo sozinho em casa, imaginando ganhando um Campeonato Mundial, com público depois da pandemia, todo mundo gritando. Fico viajando, mas esse é meu sonho. É o sonho de todo lutador. Apesar das dificuldades, já que todo lutador tem a dificuldade de conseguir patrocínio. Acredito que no parajiu-jítsu, como está começando agora, tem um pouco mais de dificuldade de apoio. Se consagrar campeão mundial acho que é o sonho de todo mundo. Ganhar vai ser uma coisa maravilhosa – profetiza Robson.

E se Abedi foi a inspiração de Robinho para querer competir no esporte, Robinho também será sempre a inspiração de Abedi.

– Para mim é uma bênção, uma força, tento mostrar para todos os amigos que têm dificuldades, que reclamam da vida. “Olha quem é meu filho, o que ele faz, a força que ele tem. Como você não consegue fazer isso? Se meu filho consegue, você vai conseguir. A força está aí”. O Robson, se vocês não sabem, ele andava normal. Teve um probleminha dele, um linfoma de Burkitt, foi fazer a biópsia, voltou sem andar. No momento foi um baque pra todos nós. Mas como Deus é tão bom, mexeu com a perninha dele, mas não mexeu com a mente. Tem adolescentes da idade dele, 20 anos, que andam e vivem aprontando. Meu filho não anda só pela perna, mas a mente anda, corre, faz tudo. A força que ele tem… Pra mim meu filho é 100% normal – declarou o ex-jogador, que atualmente é dono de uma escolinha de futebol.

Robinho começou a treinar jiu-jítsu aos 12 anos — Foto: Arquivo pessoal

Robinho começou a treinar jiu-jítsu aos 12 anos — Foto: Arquivo pessoal

Inclusive, a versão pai de atleta de Abedi já surpreendeu o próprio Robson. Leigo confesso quando o assunto é jiu-jítsu, o ex-jogador deixou o próprio filho espantado ao torcer em uma de suas lutas.

– Entrei pra lutar e tinha um cara gritando. Começou a luta, o cara aumentou a voz. Normalmente, lutando não escuto muito quem está em volta. E tinha um cara me enchendo o saco. Saí da luta, graças a Deus ganhei, saí já falando com ele: “Pai tinha um cara muito chato na arquibancada gritando muito”. Aí ele: “Era eu, era eu” (risos) – diverte-se Robinho ao relatar a história.

E o lutador pretende agora retribuir a comemoração que recebeu do pai em homenagem e prometeu que fará no próximo campeonato que vencer.

– Eu vou retribuir no próximo campeonato. Vou dar essa moral, se Deus quiser.

.

.

.

Fontes: Ge – Globo Esporte.

Compartilhe  

últimas notícias