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Empoderamento feminino

Apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres, afirma pesquisa

Renata Spallicci, executiva da Apsen, comenta falta de figuras femininas no comando de grandes empresas

Renata Spallicci, executiva da Apsen, comenta falta de figuras femininas no comando de grandes empresas - Imagem: reprodução Freepik
Renata Spallicci, executiva da Apsen, comenta falta de figuras femininas no comando de grandes empresas - Imagem: reprodução Freepik

Vitória Tedeschi Publicado em 31/03/2023, às 14h16


A representatividade das mulheres em altos cargos de diversas áreas profissionais vem aumentando ao longo dos anos, mas é fato que as dificuldades ainda persistem. Em números, apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil tinham presença feminia, de acordo com uma pesquisa realizada pela Grant Thornton em 2022.

O resultado do levantamento também apresentou uma pequena queda em relação ao estudo de 2021, quando 39% das mulheres estavam em cargos de liderança. E por isso, existe o longo caminho que ainda precisa ser trilhado para uma realidade onde o número de homens e mulheres em cargos altos seja equivalente ou pelo menos mais justo.

Isso porque, existe um preconceito estrutural que perpassa toda a carreira da mulher, mas é manifestado ainda mais fortemente no início da carreira, é o que pensa a a executiva da Apsen Farmacêutica, Renata Spallicci.

Normalmente, o preconceito impede que a maioria das mulheres ocupem altos cargos de liderança, uma vez que ele se reflete desde no menor número de oportunidades, até em menor possibilidade e tempo para desenvolvimento profissional. Por isso, pensando especificamente nas posições de liderança, acredito que nesse ponto a mulher que chegou lá já passou por todos esses obstáculos e com o tempo de carreira vamos criando uma "casca grossa", além de resultados que falam por nós. Então, eu entendo que, nos cargos mais altos, o preconceito seja menor", diz Renata.

Vale citar ainda que, existe ainda um outro lado de toda essa discussão sobre a igualdade profissional entre homens e mulheres, que tem a ver com a maternindade.

Isso porque, ainda de acordo com a executiva, normalmente a oportunidade para ocupar esses espaços muitas vezes chega junto com o momento dos filhos. E, é neste momento onde ainda existe uma barreira ainda maior para a mulher que além de profissional se torna também mãe.

"Infelizmente, o que observo é que o mercado e os colegas passam a vê-la nesse momento como menos focada no trabalho, o que é uma visão totalmente preconceituosa e descabida. Parece que quando a mulher vira mãe, diminuem automaticamente as chances de que essa mulher seja considerada para promoções, novos empregos e outras oportunidades", avalia Renata.

Desse modo, para conseguir abraçar as duas áreas da vida, muitas líderes se veem obrigadas a deixar um pouco "de lado" o cuidado de suas famílias, terceirizando isso para outras mulheres (como as babás, por exemplo) - algo que também muitas vezes é criticado pela sociedade.

É como se não tivesse uma resposta certa: ou somos boas mães, ou boas líderes – parece que não podemos ser as duas coisas. Enquanto isso, nem de longe os homens recebem toda essa carga de responsabilidade. Como ainda não sou mãe, eu nunca sofri diretamente com isso, mas percebo a desigualdade profissional entre mulheres e homens em muitos outros pontos", completa.

Renata ainda faz questão de enfatizar que até hoje existem alguns espaços que são mais reconhecidos como "masculinos", da mesma forma que há outros estereotipados como femininos.

No caso dela, a executiva conta que, por frequentar muitos congressos médicos como Vice-Presidente Executiva da Apsen Farmacêutica, percebe que algumas especialidades da medicina, por exemplo, ainda são muito mais ocupadas por homens, como as da urologia e ortopedia.

"Isso normalmente reflete diversos padrões que são culturais, e muitas vezes influenciam nas escolhas de formação das mulheres. Existe uma quebra de paradigmas por parte de toda mulher que decide se tornar uma cientista ou atuar na área da saúde com uma função que não seja enfermeira, ginecologista, pediatra ou psicóloga, que são especialidades vistas como femininas", desabafa ela.

Apesar do cenário, muitas vezes desanimador, ela afirma que reconhce que as mulheres estão assumindo a posição de conversar sobre esse assunto, que antes não era tão comentado, e isso é essencial. Ela aproveita para acrescentar que em sua empresa criaram um movimento totalmente baseado na sororidade e empoderamento feminino.

"Chamamos de Mulheres Fortes Se Apoiam. A partir dele, temos discutido assuntos como a saúde mental, gestão do tempo, maternidade, autoconhecimento e assédio, e até mesmo os desafios enfrentados pela mulher na área de pesquisa e no mercado de trabalho. A criação dessa rede de apoio teve um impacto gigante para as nossas colaboradoras, sobretudo porque elas se sentem pertencentes, ouvidas e acolhidas para além do mês da mulher, que é quando esses temas são normalmente abordados", finaliza.

Conheça mais a Renata Spallicci:

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