Diário de São Paulo
Siga-nos
Revoltante!

Criança com autismo chega da escola com 'plaquinhas' e mãe faz denúncia: 'dói porque entendemos o significado'

Placas continham o rosto da criança para a representar como agressor

Placas continham o rosto da criança para a representar como agressor - Imagem: reprodução g1
Placas continham o rosto da criança para a representar como agressor - Imagem: reprodução g1

João Perossi Publicado em 28/08/2022, às 19h41


O Ministério Público recebeu nessa quinta-feira (25) uma denúncia feita por uma mãe após seu filho de 5 anos, que possui autismo, voltar da escola com "plaquinhas" no pescoço que continham frases proibitivas.

O caso aconteceu na segunda-feira (15) na Escola Municipal de Educação Básica Alberto Bauer, em Jaraguá do Sul, Santa Catarina.

As plaquinhas tinham o rosto da criança, representado como agressor, junto de frases como "não pode bater" e "não pode empurrar", além de um chamativo X vermelho.

O Ministério Público informou que ações para notificar a escola já estão sendo tomadas. Em depoimento ao G1, a mãe de 27 anos afirmou que entrou em contato com a escola e foi informada de que apenas seu filho tinha recebido os crachás.

"Eles confirmaram que só ele tinha recebido (o crachá). À tarde, fui na escola e tive uma reunião com a diretora e o orientador. Eles explicaram que aquele era o 'crachá do menino bonito'. Então, quando ele fazia alguma coisa tiravam o crachá, quando não fazia, colocavam. Não entendi muito bem" afirmou ela.

Segundo a mãe, essa não é primeira vez que o menino usa os crachás, mas ela só ficou sabendo da "dinâmica" por causa de um descuido dos funcionários da escola, já que as plaquinhas não deveriam ser levadas para casa.

O estudante foi diagnosticado com autismo tipo 2 neste ano. "Ele é inocente, mas eu olhei aquilo e não sabia o que fazer. Pra gente que é mãe, dói, porque entendemos o significado. Eu já pensei que outras crianças iriam ver aquilo e se afastar dele. E a gente quer que ele se enturme, que aconteça a inclusão. Confesso que já pensei mais de uma vez em mudar ele de escola", contou a mulher.

Já a escola se pronunciou sobre o caso por meio de uma nota escrita pela diretora, Célia Reichert Engelmann. Segundo a diretora, as plaquinhas fazem parte de uma dinâmica chamada "cordão do menino bonito", e serve para "auxiliar em momentos de crise".

A diretora afirmou que a dinâmica já tinha sido explicada para mãe e o padrasto do garoto, que foi identificado como "aluno B" na nota. A criança passaria o dia inteiro com esses crachás, mas caso cometesse uma infração, teria o cordão retirado, e voltaria a se comportar para receber de volta.

Já para a secretária de Educaçãodo Município, Ivana Atanasio Dias, o uso de recursos visuais é parte importante do processo pedagógico, mas as "plaquinhas" não deveriam ter sido usadas.

"É inadmissível o que aconteceu. Não é porque foi com uma criança autista, isso não poderia ter acontecido com nenhuma criança. Este foi um reforço negativo, porque a criança não tem maturidade para entender. Eu, pessoalmente, fiz questão de ligar e me desculpar com a família", afirmou a secretária em entrevista ao G1.

"O crachá foi uma 'invencionice' dela (professora) que achou que seria adequado. Em vez de ilustrar crianças brigando, a orientação é colocar se abraçando, demonstrando gentileza. E se estivesse na parede, não teria problema. O erro está em pessoalizar o aluno. Não se coloca as figuras no corpo da criança ou na carteira dela", continuou.

Dias reforçou também que as escolas do município contam com psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos que passaram por treinamento recente. Segundo a secretária, a professora responsável pelos crachás é uma "profissional excelente", mas errou no caso.

A docente segue dando aulas após reconhecer o erro.

Compartilhe  

últimas notícias