Cerca de 11,82% dos futuros professores não fazem estágio obrigatório

A maioria dos estudantes que se formam em cursos de licenciatura no Brasil não está cumprindo a carga horária mínima exigida para o estágio obrigatório. Além disso, cerca de um a cada dez futuros professores sequer realiza o estágio. Esses dados foram obtidos a partir do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2021 e foram compilados pelo movimento 'Todos pela Educação' para a Agência Brasil.

O estágio obrigatório é um período em que os estudantes de licenciatura acompanham a rotina escolar, sob supervisão de professores, com o objetivo de adquirir experiência e preparação para a carreira de professor. De acordo com as resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE), esse estágio deve ter uma duração mínima de 400 horas.

Entretanto, os dados do Enade mostram que, na prática, essa regra não está sendo cumprida. No Enade, os estudantes que estão concluindo a graduação realizam provas e respondem a um questionário sobre a formação. O questionário inclui perguntas sobre o estágio.

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Cerca de 55% dos estudantes que concluíram cursos de licenciatura, o que equivale a aproximadamente 165 mil alunos, relataram ter cumprido menos de 300 horas de estágio. Outros 11,82%, correspondendo a 35,5 mil alunos, afirmaram que não realizaram o estágio. Os dados também revelam que 19,49% (cerca de 58,5 mil estudantes) cumpriram entre 301 e 400 horas de estágio, enquanto apenas 13,71% (cerca de 41,2 mil estudantes) fizeram estágios com mais de 400 horas.

Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, enfatiza a importância do estágio como uma oportunidade para os estudantes conectarem a teoria com a prática. Ele ressalta que o estágio permite que os estudantes entendam a dinâmica da escola, os papéis dos diferentes profissionais da equipe escolar e a organização do ambiente educacional.

Gontijo também observa que os estudantes que se formaram em 2021 foram afetados pela pandemia, que levou ao fechamento das escolas por pelo menos um ano. No entanto, os dados do Enade mostram que mesmo antes da pandemia, o estágio não estava sendo totalmente cumprido. Nos anos em que os cursos de licenciatura foram avaliados (2014 e 2017), cerca de 3% dos estudantes declararam que não haviam realizado o estágio. Ainda assim, cerca de 60% dos estudantes não cumpriram a carga horária mínima, realizando 300 horas ou menos de estágio obrigatório.

É importante destacar que, para receber o diploma, os estudantes precisam cumprir a carga horária do estágio. Entretanto, Gontijo sugere que as altas porcentagens de estudantes que declaram não ter concluído os estágios podem ocorrer porque muitos conseguem documentos afirmando que cumpriram as práticas, mesmo que tenham sido realizadas de forma não estruturada.

Gina Vieira, professora aposentada da rede pública e atualmente professora voluntária na Universidade de Brasília (UnB), que também atua na formação de professores da educação básica, destaca a importância do estágio na formação dos futuros professores. Ela observa que a formação inicial de professores tem se tornado cada vez mais precária, e muitos estudantes precisam conciliar a formação com trabalho e outras obrigações, o que dificulta o cumprimento da carga horária mínima do estágio.

Os dados do Enade também indicam que a maioria dos formandos em cursos de licenciatura deseja atuar nas escolas públicas, sendo 64% dos concluintes com essa aspiração. Outros 13% pretendem trabalhar na gestão educacional no setor público, enquanto 11% planejam buscar oportunidades fora da área da Educação. É fundamental que os futuros professores tenham contato com a prática pedagógica durante o estágio, o que ajuda na formação de profissionais de qualidade. Gina Vieira argumenta que a carga horária do estágio deveria ser ampliada, permitindo que os estudantes tenham uma experiência mais enriquecedora.

No cenário educacional brasileiro, a maioria das matrículas em cursos de licenciatura (64,4%) está em instituições privadas de ensino superior, de acordo com o Censo da Educação Superior de 2021. Além disso, 61% dos estudantes de licenciatura frequentam cursos a distância.