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Sistema Cantareira passa a operar oficialmente na faixa de restrição, com menos de 30% de sua capacidade

O Sistema Cantareira passou a operar, oficialmente, em novembro, na faixa de restrição, com 28,4% do volume de sua capacidade nesta terça-feira (2).

Sistema Cantareira passa a operar oficialmente na faixa de restrição, com menos de 30% de sua capacidade
Sistema Cantareira passa a operar oficialmente na faixa de restrição, com menos de 30% de sua capacidade

Redação Publicado em 02/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 22h25


Em outubro, choveu mais do que a média histórica para o mês no reservatório, com 116 milímetros, mas mesmo assim, o volume da água diminuiu.

O Sistema Cantareira passou a operar, oficialmente, em novembro, na faixa de restrição, com 28,4% do volume de sua capacidade nesta terça-feira (2).

Em 2 de outubro, o reservatório já tinha entrado nessa faixa, abaixo de 30%, porém, oficialmente o sistema só passou a funcionar em restrição em novembro porque a Agência Nacional de Águas (ANA) considera o último dia do mês anterior.

Em outubro, choveu mais do que a média histórica para o mês no Cantareira, com 116 milímetros, mas mesmo assim, o volume da água diminuiu. O nível no último dia de outubro, 31, foi de 28,1%, que determina a quantidade de água que a Sabesp pode retirar no mês seguinte.

O reservatório entra em faixa de restrição quando chega a um volume útil acumulado igual ou maior que 20% e menor que 30%, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Para ser considerado normal, o volume do manancial tem de estar com pelo menos 60% de sua capacidade.

Na prática, a mudança de faixa de alerta para o de restrição diminui a quantidade de água que Sabesp pode retirar do reservatório desde que ele esteja com volume menor que 30% no último dia do mês.

A falta de chuvas acelerou a chegada dessa fase. Pela previsão do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Cantareira atingiria o patamar de 30% de sua capacidade somente no final deste ano.

Sistema Cantareira entra neste sábado (02) em estado de restrição

Sistema Cantareira entra neste sábado (02) em estado de restrição

Considerado o maior reservatório de água da região metropolitana, o Cantareira abastece cerca de 7,2 milhões de pessoas por dia. Mas não é só o Cantareira que está com pouca água.

Conforme o g1 adiantou, moradores de todas as regiões da capital paulista já têm relatado falta de água mais cedo do que o costume.

Depois da fase de alerta, a próxima é chamada de fase especial, quando o sistema tem volume útil menor que 20%. Em julho de 2014, quando houve a crise hídrica, o Sistema Cantareira chegou a zero. Abaixo dele, havia o volume morto, que não foi projetado, originalmente, para uso.

Trata-se de uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira. A Sabesp passou a operar bombeando água do volume morto. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população.

Para especialistas sobre o tema, a mudança de faixa é importante para a população se conscientizar de que os riscos de falta de água estão maiores, já que, na prática, isso não deve impactar no trabalho da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), pelo menos por enquanto.

De acordo com a outorga, a mudança de fase de alerta (igual ou maior que 30%) para a fase de restrição (igual ou maior que 20%) diminui a quantidade de água que a Sabesp tem permissão da Agência Nacional de Águas (ANA) para retirar do manancial.

A mudança, entretanto, só acontece se o volume igual ou menor do que 20% for registrado no último dia de cada mês. Se isso acontecer, o limite máximo de retirada do reservatório no mês seguinte passa de 27 m³/s para 23 m³/s. Dessa forma, de acordo com a ANA, “a faixa de operação do Sistema Cantareira a ser considerada para fins de definição das vazões a serem praticadas, no mês de outubro de 2021, será a Faixa 3 – Alerta.”

A Sabesp, porém, informou que já tem retirado os 23 m³/s da fase de restrição, o que é possível graças à integração com os demais sistemas. O Cantareira faz parte do chamado Sistema Integrado, composto ainda por outros seis mananciais: Alto Tietê, Cotia, Guarapiranga, Rio Claro, Rio Grande e São Lourenço. Esse sistema permite transferências de água entre regiões, conforme a necessidade operacional.

Porém, isso não garante que haverá água suficiente para abastecimento da população nos próximos meses. Em comparação a 2013, ano pré-crise hídrica na região metropolitana de São Paulo, a Sabesp tem retirado mais água do que entra sistema, como mostram os gráficos a seguir, feitos com dados da Sabesp e análise de Pedro Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP):

Em azul, o quanto estava entrando de água (volume afluente) em 2013. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Em azul, o quanto estava entrando de água (volume afluente) em 2013. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Em azul, o quanto está entrando de água (volume afluente) em 2021. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Em azul, o quanto está entrando de água (volume afluente) em 2021. Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente) no mesmo ano — Foto: Reprodução

Os gráficos comparam quanta água entrou e saiu do Sistema Cantareira de janeiro a setembro dos anos de 2013 e 2021. Em azul é o quanto estava entrando de água (volume afluente). Em vermelho, o quanto foi retirado de água (volume defluente). Se compararmos 2013 (primeiro gráfico) com 2021 (segundo gráfico), fica claro que entra muito menos água este ano, apesar da retirada de água se manter parecida nos dois anos.

A comparação com 2013 ajuda a entender a gravidade da situação atual. Se em 2013 tínhamos mais água disponível e houve crise de abastecimento nos dois anos seguintes, a situação atual aponta para uma provável falta de água nas casas da Grande São Paulo no ano que vem, de acordo com Côrtes.

“Comparativamente, hoje temos cerca de 21% menos água armazenada do que na mesma época em 2013, ano que antecedeu a crise hídrica. Em 2020, nesta mesma época, o volume de água armazenada era 32% maior. A situação de crise hídrica já está configurada e caminhamos para uma crise de abastecimento de água”, afirma.

Em nota, a Sabesp disse que “não há risco de desabastecimento neste momento, mas a Companhia reforça a necessidade do uso consciente da água.”

“A projeção para a região metropolitana de São Paulo aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada. Importante destacar que a queda no nível das represas é normal nesta época do ano devido ao período de estiagem e ao volume baixo de chuvas.” (leia a íntegra da nota abaixo)

Projeções

O Brasil vive a pior seca dos últimos 91 anos, de acordo com o alerta de emergência hídrica emitido em maio deste ano por um conjunto de órgãos do governo federal. Na capital paulista, o volume de chuvas durante o inverno foi 56% menor do que a média histórica.

Em agosto, um técnico da Sabesp fez uma projeção de que o Sistema Cantareira chegaria a cerca de 20% de seu volume total em julho de 2022. Na ocasião, o analista de sistemas da Sabesp Emerson Martins Moreira foi desmentido pelo presidente da companhia, Benedito Braga, que disse ao g1 que o estudo não representava a visão da empresa e que obras de interligação e infraestrutura dão “tranquilidade de que não vamos ter uma crise”.

Se a seca persistir, inclusive, a projeção do analista Emerson pode se concretizar antes de 2022, de acordo com Côrtes.

“Se o nível do Cantareira continuar abaixando no mesmo ritmo, acredito que em 60 dias ele poderá ficar com 20%. Isso aconteceria no início de dezembro. Teremos alguma chuva neste início da primavera, mas a situação de estiagem volta com intensidade no verão. Para reverter a situação dos nossos reservatórios, precisaríamos de chuvas muito intensas. Porém, os prognósticos climáticos indicam que teremos chuvas abaixo da média.”

No vídeo abaixo, veja quando o governo emitiu alerta de crise hídrica para cinco estados:

Governo emite alerta para crise hídrica em cinco estados

Governo emite alerta para crise hídrica em cinco estados

O que diz a Sabesp

A Sabesp esclarece que a situação atual não prevê alteração na operação do Sistema Cantareira. Conforme as regras da outorga, válidas exclusivamente para esse sistema, quando o nível registrado no último dia do mês for inferior a 30%, o limite máximo de retirada do reservatório no mês seguinte passa de 27 m³/s para 23 m³/s. Nesta quinta, último dia de setembro, o Cantareira atingiu 30,4%, não havendo alteração no limite máximo de retirada permitido em outubro.

A Sabesp esclarece que a retirada atual tem sido de 23 m³/s, inferior ao limite máximo, o que é possível graças à integração com os demais sistemas. O Cantareira é um dos sistemas que abastecem a RMSP, dentro de um Sistema Integrado composto ainda por outros seis mananciais: Alto Tietê, Cotia, Guarapiranga, Rio Claro, Rio Grande e São Lourenço.

Esse sistema permite transferências de água entre regiões, conforme a necessidade operacional. Nesta quinta (30/9), o Sistema Integrado opera com 38,3% da capacidade, nível similar, por exemplo, aos 40,6% de 2018, quando não houve problemas no abastecimento.

Não há risco de desabastecimento neste momento, mas a Companhia reforça a necessidade do uso consciente da água. A projeção para a RMSP aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada. Importante destacar que a queda no nível das represas é normal nesta época do ano devido ao período de estiagem e ao volume baixo de chuvas.

A Sabesp vem realizando nos últimos anos ações que dão mais segurança hídrica, como a ampliação da infraestrutura, integração e transferência entre sistemas, além de campanhas para o consumo consciente. Destaque para a Interligação Jaguari-Atibainha (que traz água da bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira) e o novo Sistema São Lourenço, ambos entregues em 2018.

A capacidade de transferência de água tratada entre os diversos sistemas de abastecimento foi quadruplicada em relação ao período anterior à crise hídrica de 2014/15, passando de 3 mil litros/segundo em 2013 para 12 mil l/s em 2021. Ao mesmo tempo, a capacidade de reservação de água tratada saltou de 1,7 bilhão de litros em 2013 para 2,2 bilhões de litros em 2021.

Toks para Economizar Água:

A Sabesp está realizando mais uma campanha para engajar a população a usar a água de maneira consciente: “Toks para Economizar Água – Abriu, Usou, Fechou”.

#eucuidodaágua:

Para engajar a sociedade, a Sabesp também criou o hotsite, que reúne informações e dicas em torno do assunto.

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G1

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