A maioria da população de São Paulo (70%) considera que o preconceito racial manteve-se igual ou aumentou nos últimos 10 anos, revela pesquisa divulgada nesta
Redação Publicado em 17/11/2019, às 00h00 - Atualizado às 16h31
A maioria da população de São Paulo (70%) considera que o preconceito racial manteve-se igual ou aumentou nos últimos 10 anos, revela pesquisa divulgada nesta quarta-feira (13) pelo Instituto Nossa São Paulo.
Entre os negros, grupo que engloba pretos e pardos, 73% afirmam que a discriminação manteve-se ficou igual ou aumentou, percepção que prevalece entre 66% dos brancos.
Entre os locais em que há percepção de tratamento diferente entre brancos e negros, aparecem com destaque os shopping centers e outos estabelecimentos comerciais, em que o tratamento discriminatório é visto por 69% da população. O racismo está presente ainda nos espaços públicos, na opinião de 64% dos entrevistados, nas escolas e faculdades (62%), no trabalho (60%) e no transporte público (57%).
Uma em cada sete pessoas (69%) diz que pessoas negras têm menos oportunidades no mercado de trabalho do que as brancas.
Como exemplo do racismo presente no cotidiano, a secretária municipal adjunta de Direitos Humanos e Cidadania, Elisa Lucas Rodrigues, lembrou as denúncias de tortura de negros e pardos em supermercados que tiveram ampla repercussão neste ano. “A questão dos supermercados, a questão do quartinho de correção, que, embora neguem, existe, sim”, enfatizou.
Em setembro, vídeos que circulavam nas redes sociais indicaram a prática de tortura em ao menos dois supermercados da capital paulista. Em um dos casos, um adolescente era chicoteado nu e amordaçado por seguranças particulares do estabelecimento. Em outro, um homem, acusado de furto, apanhava com um bastão e era agredido com uma arma de choques elétricos. Sete pessoas chegaram a ser presas durante as investigações dos dois casos.
Elisa destacou ainda as denúncias de discriminação recebidos pela secretaria de casos ocorridos em escolas. “É muito ruim quando se recebe uma denúncia – e a gente tem recebido, infelizmente, várias, de escolas que discriminam.” Segundo a secretaria, na maioria das vezes, são ocorrências envolvendo alunos, inclusive crianças, que sofrem preconceito dos próprios colegas em escolas particulares.
Para contornar o problema, a secretária disse que a pasta tem tentado conscientizar os professores e o corpo administrativo dos estabelecimentos de ensino. “É isso que a gente está buscando com as escolas, com as escolas particulares, às vezes, escolas públicas, essa reflexão, por parte de professores, coordenadores e diretores”, acrescentou.
A pesquisa mostrou ainda uma ocupação desigual da cidade. Segundo o estudo, 35% dos negros vivem na região sul da capital paulista, enquanto 29% dos brancos vivem nessa parte da cidade. No centro, residem 3% dos negros e 6% dos brancos. Em bairros mais afastados, como o Jardim Ângela, a população de pretos e partos chega a representar 60% do total, enquanto em áreas nobres, como Moema, apenas 5,8% são negros.
Para a presidente do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Maria Sylvia Aparecida de Oliveira, o estudo ajudou a mostrar uma realidade que a população preta já percebe na prática. “São dados relativamente novos, mas que nós já sabíamos, de vivência. Eu sou uma moradora da periferia de São Paulo, e a gente percebe que exite esse apartheid [segregação] em relação à população negra em relação aos locais de moradia”, disse Maria Sylvia, ao comparar a desigualdade na capital paulista ao regime de segregação racista que vigorou na África do Sul até a década de 1990.
Por Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil
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