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Como nasceu o minuto de silêncio

Por Reinaldo Polito

Como nasceu o minuto de silêncio
Como nasceu o minuto de silêncio

Redação Publicado em 07/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 21h32


Por Reinaldo Polito

Como nasceu o minuto de silêncio

Ao longo de quase dois anos o planeta parou e permaneceu em silêncio para homenagear as vítimas do Covid-19. As emissoras de televisão mostraram cenas de pessoas entristecidas com a perda de entes queridos por causa da pandemia. Nos estádios de futebol, em todos os jogos, antes do início das partidas, o juiz tem determinado um minuto de silêncio para homenagear as centenas de milhares de pessoas que foram vítimas desse vírus.

Dependendo do local e da circunstância, esse tempo é mais ou menos prolongado. Porque não é o tempo em si, mas sim o que ele representa.

Não apenas com as mortes provocadas pela pandemia, como também em todas as circunstâncias em que há tragédias que ceifam vidas é comum reverenciar com um minuto de silêncio a memória das pessoas que se foram. 

Como surgiu o minuto de silêncio

Afinal, como surgiu essa ideia de ficar em silêncio durante um minuto em sinal de respeito à morte de uma pessoa? Descobri, por acaso, alguns indícios que explicam a origem dessa prática utilizada por quase todos os povos. Como a maioria sabe, a arte de falar em público depende em algumas circunstâncias das regras do cerimonial. Por isso, desde muito cedo procurei aprender os fundamentos essenciais dessa matéria. 

No início dos anos 1980 fiz um curso de cerimonial com o Dr. Nelson Speers, que naquela época era um dos mais conceituados profissionais nesse tema. Além das aulas teóricas e práticas, li com interesse os dois volumes da sua obra que, de forma bastante didática, reproduz exatamente o que o mestre ensinava em suas aulas. 

Em um de seus livros encontrei a curiosa informação sobre a origem do minuto de silêncio: “O emocionante rito que consiste em guardar um minuto de silêncio tem suas origens no começo do século XX. Em Lisboa, no ano de 1912, o senado estava reunido quando chegou a notícia de que morrera o Barão do Rio Branco, chanceler do Brasil”.

Segundo o Dr. Speers, esse fato fez com que se prestasse pela primeira vez um tempo de silêncio: “O presidente da casa, em sinal de pesar, propôs guardarem silêncio por dez minutos. Todos se levantaram, espontaneamente. E a partir daí esse rito foi adotado por todas as assembleias europeias, mais tarde espalhando-se praticamente pelo mundo inteiro, com o tempo de silêncio, no entanto, reduzido para um minuto”.

Uma reviravolta na história

Pensei que a grande descoberta era definitiva até conversar sobre o assunto com Max Gehringer. Ele me apresentou outra versão, ainda mais curiosa: Um jornalista de Melbourne, Edward George Honey, foi o primeiro a propor um período de silêncio pelo Dia da Memória Nacional em uma carta publicada no London Evening News em 8 de maio de 1919.

A sugestão chamou a atenção do rei George V, do Reino Unido. Depois de testar a praticidade de um silêncio de cinco minutos – uma tentativa fora realizada com guardas granadeiros permanecendo silenciosamente em posição de sentido – o rei fez publicar uma proclamação em 7 de novembro de 1919 em que convocava para um silêncio de dois minutos.

Sua proclamação pedia que “todo movimento fosse interrompido, de forma que, em plena quietude, os pensamentos de todos pudessem se concentrar e reverenciar a memória dos gloriosos mortos”.

Às 11 da manhã do dia 11 de novembro de 1919, os australianos, pela primeira vez, fizeram uma pausa e se levantaram num tributo silencioso aos homens e mulheres da Força Imperial Australiana que morreram nos campos de batalha no Oriente Médio, Gallipoli e Europa.

Um caso documentado

A nossa conversa reservava uma história ainda mais curiosa. Max me contou um fato sobre um minuto de silêncio, esse sim bem documentado: Jogo Ceará x Fortaleza, em 1984. Antes do jogo, um minuto de silêncio pela morte da mãe do juiz. Aos 5 minutos, o juiz anula um gol do Ceará. E a torcida começa a gritar: “Órfão da p…! Órfão da p…!”

Independentemente da origem, e de se cumprir ou não exatamente o tempo de um minuto, a verdade é que em inúmeras situações o silêncio é extremamente representativo. E fala muito mais que as palavras. Siga pelo Instagram @polito

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Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]
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