Por Marcus Vinícius de Freitas
Redação Publicado em 27/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h30
Por Marcus Vinícius de Freitas
A eleição de 2022 ocorrerá num momento muito delicado da história global. O mundo ainda estará em recuperação da pandemia da Covid-19, com uma economia global estagnada num período difícil de transição entre Grandes Potências. O governo de Joe Biden enfrentará o desafio das eleições de meio de mandato, que, provavelmente, recolocarão os Republicanos na liderança da Câmara de Deputados e Senado nos Estados Unidos, o que diminuirá substancialmente a efetividade de Biden na presidência, levando-o rapidamente ao status de pato manco, abrindo uma disputa eleitoral intensa dentro do próprio Partido Democrata quanto à sucessão e que poderá, em 2024, por uma terceira vez, colocar os Democratas para enfrentar o extravagante Donald Trump. A China seguirá em ascensão, com uma resistência crescente dos Estados Unidos, que intensificarão a política de contenção do gigante asiático, estimulando uma aceleração na corrida armamentista na Ásia, inclusive fomentando a nuclearização do Pacífico.
No contexto europeu, a situação tampouco será fácil. A economia europeia tem enfrentado os desafios de uma lenta recuperação e de perda crescente de competitividade e influência. A dependência cada vez maior da energia da Rússia torna o continente europeu refém de Vladimir Putin, que, a despeito de sua posição contestada no poder, ainda seguirá liderando devido à ausência de opositores efetivos. A Europa também verá, caso o Talibã colapse no Afeganistão, por uma guerra civil ou por um apoio tácito a grupos terroristas, um aumento substancial no terrorismo no continente europeu e na questão de refugiados. Além disso, as movimentações contrárias à União Europeia tenderão a crescer, particularmente por parte daqueles oriundos da antiga União Soviética pelo fato de o processo de integração não lhes ter oferecido os tão sonhados benefícios.
O continente africano se deparará com a crise resultante da administração equivocada da Covid-19, além dos desafios inerentes a um crescimento demográfico não controlado, com a ausência de um capitalismo pujante para aumentar o desenvolvimento do continente. Neste sentido, os investimentos chineses oferecem ao continente uma contribuição vital e uma relativa esperança.
No caso latino-americano, a situação também é desafiadora. A América Latina, que tem apresentado resultados pífios comparativamente ao seu potencial, verá a Argentina, Venezuela, Bolívia, Perú e Colômbia enfrentarem problemas domésticos com impacto em seus resultados econômicos e de governabilidade. E a região poderá passar por sua terceira década perdida.
Neste complexo contexto global, o Brasil, que comemorará o bicentenário de sua independência, precisará ter claro o rumo que pretenderá tomar para que as mudanças tectônicas da ordem global não afetem o País sobremaneira, a fim de que possa melhorar sua relevância. Para tanto, deverá ter clara sua estratégia internacional de longo prazo, com os devidos ajustes na sua Política Externa para que o País assuma pragmaticamente um protagonismo maior.
Em primeiro lugar, o Brasil precisará repensar suas parcerias. Em Política Externa, o que deve prevalecer é o interesse nacional e a dinâmica das escolhas que levam a melhor maneira de atingi-lo. É necessário, portanto, repensar o papel que o Brasil pretende ter no seu contexto regional. Criticar Argentina e Venezuela, parceiros econômicos que já foram mais relevantes no passado, não é, de fato, o tipo de liderança que a América do Sul precisa. Tampouco persistir no erro do Mercosul como mercado comum faz sentido. É preciso que o Brasil dê um passo atrás no processo de integração econômica e busque transformar o Mercosul numa Área de Livre Comércio. Mas, para tanto, o Brasil precisará deixar de praticar o protecionismo que lhe é costumeiro e peculiar para que a livre movimentação de bens, capitais e finanças ocorram mais facilmente entre os países membros. Além disso, a saída para o Pacífico, que deveria ser totalmente custeada pelo Brasil, poderá abrir novos horizontes comerciais com os países asiáticos e nos fortalecer regionalmente. Esta saída para o Pacífico transformaria o Brasil, permitindo-lhe ampliar várias rotas comerciais. O Brasil deveria aproximar-se mais da China, país que pode oferecer ao Brasil não somente um mercado para suas commodities mas também uma oportunidade efetiva para agregação de valor às mercadorias exportadas no território nacional, com empresas sino-brasileiras agregando valor aos produtos localmente. O Brasil deveria criar nas regiões litorâneas áreas industriais livres de impostos para atração de investimentos estrangeiros para exportação e agregação de valor às commodities que o País vende.
A nossa diplomacia também deve ser recapacitada para as demandas atuais e futuras da agenda global e recrutada de modo diferenciado. Ademais, nosso maior erro persiste em repetir a velha história do poder brando (“soft power”). De fato, não existe poder brando que coloque um país nas principais mesas de negociação. O que existe, de fato, é poder militar e econômico. O resto é perfumaria. O trabalho diplomático para reverter a imagem de um Brasil considerado corrupto, queimador de florestas e à deriva é fundamental. É por isso que 2022 é fundamental para o futuro do Brasil. Há muita coisa por fazer.
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*Marcus Vinícius De Freitas
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