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China e Estados Unidos

China e Estados Unidos - Imagem: Reprodução | Freepik
China e Estados Unidos - Imagem: Reprodução | Freepik
Cesário Melantonio Neto

por Cesário Melantonio Neto

Publicado em 29/03/2024, às 06h21


Na articulação do sistema internacional pós guerra fria o fenômeno mais visível e a ascensão da China. Os dados são conhecidos: o país tornou-se a segunda economia do mundo, ampliou sua base militar de poder , desenvolveu notável capacidade tecnológica e expandiu sua presença econômica internacional.

Essa constatação não resolve porém o problema de conhecer quais são as consequências da ascensão da China para a ordem internacional, tampouco esclarece de que maneira Pequim usará o poder adquirido, que conflitos pode provocar ou ajudar a resolver.

Para responder a essas perguntas um fator fundamental e a relação com os Estados Unidos.

Estamos longe de afirmar a inevitabilidade de uma guerra entre as duas potências. O objetivo é outro: refletir sobre vós fatores que induziriam a guerra e qual seria o caminho para evitar o conflito.
Essa análise pode partir de uma observação do historiador ateniense Tucidides sobre as origens da guerra entre Atenas e Esparta pelo controle do Peloponeso.

Segundo Tucidides a ascensão de Atenas e o consequente temor instalado em Esparta tornaram a guerra inevitável.

Essa observação incorpora uma lição permanente para entender situações em que potências emergentes desafiam as dominantes e portanto seria a melhor lente disponível para analisar as relações entre China e Estados Unidos.

Vários Estados caíram nessa armadilha como Portugal e Espanha no século quinze, o confronto entre a França e os Habsburgos , as disputas europeias até fins dos novecentos, em seguida os conflitos da primeira e da segunda guerras mundiais, a guerra fria e a reação da França e da Inglaterra a reunificação da Alemanha.

Desses casos alguns resultaram em guerras mas outros não.

As diferenças de poder engendram desequilíbrios, instalam a armadilha e correspondem ao fator estrutural na origem daqueles conflitos. Mas a escalada ou não para a violência responde a movimentos conjunturais, definidos por fatores variados , dos estratégicos aos da psicologia coletiva.

Vistos em sequência, os episódios apesar das diferenças sugerem um padrão inteligível. E o argumento ganha contornos mais claros : como nenhuma situação de armadilha está préfixada o imperativo e estudar as maneiras de evitar rivalidades escalem.

A solução nesse caso seria um apelo a razão dos governantes americanos e chineses para que , ao reconhecerem o alcance e a abrangência da rivalidade, aceitem soluções negociadas para contê-los .

Os Estados Unidos deram os primeiros passos da expansão imperial depois da guerra hispano-americana com intervenções na América Central e no Caribe e a transformação da Doutrina Monroe em instrumento para legitimar intervenções na região.

Daí o interesse em perguntar de que maneira a liderança americana reagiria se os chineses se tornassem igualmente exigentes em relação ao seu entorno. Os britânicos que eram hegemônicos na América do Sul aceitaram a expansão dos Estados Unidos e se acomodaram. Nesse caso a potência emergente venceu e sem guerra.

Por caminhos diferentes, a China construiu também uma ambição de potência, e Xi Jinping e o personagem que consolida o processo.

Devemos sublinhar a singularidade da história da China, o isolamento do império do meio, o passado de humilhações e a disposição surpreendente de enfrentar inimigos poderosos, como aconteceu no caso da invasão americana da Coreia em 1952.

Para entender o ethos chinês devemos recorre a Kissinger e a Lee Kuan Yew , primeiro ministro de Cingapura que bem conhece as lideranças chinesas .

O sonho de Xi combina o desejo firme de potência de Theodore Roosevelt a construção da prosperidade de Franklin Roosevelt. Essa sensação de destino despertado e uma força avassaladora.

Daí a disposição chinesa de refazer a hegemonia regional e a necessidade de bloquear as pretensões americanas na Ásia. O recado a Washington e claro : não se metam.

As ambições de Pequim e Washington resultam de histórias diferentes, mas hoje, parecem aproximar os dois países que sofrem ambos de um complexo de superioridade extremos.

O confronto, visível no plano estratégico, está impulsionado por diferenças civilizacionais. Para os americanos a referência é a Democracia, apesar de Donald Trump , e a China acha esse tipo de atitude inaceitável, se valendo dos seus cinco mil anos de experiências de modos de Governo, e dispensa as lições americanas.

Realmente o teste da armadilha de Tucidides se aplica ao caso visto que há situações que poderiam desencadear um conflito bélico: colisão acidental de belonaves em alto-mar; reversão da situação política em Taiwan; colapso do regime norte-coreano e conflito econômico que se convertesse em militar.

A guerra entre os dois países não é inevitável mas é possível.

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