por Cesário Melantonio Neto
Publicado em 05/01/2024, às 07h33
Na reorganização das forças no Oriente Médio promovida pela guerra, ficam evidentes, de um lado, a turbulenta situação de Netanyahu, refém ele próprio de partidos religiosos radicais e altamente impopular e de outro a relevância adquirida pelo Catar no meio de campo da mediação.
Empenhado em se sobressair e ampliar sua área de influência nessa zona conturbada do mundo, o país hospeda uma representação do Hamas e dá guarida a sua cúpula política,além de sustentar financeiramente o poder público em Gaza o que lhe deu o cacife para negociar concessões junto aos palestinos.
Os cataris iniciaram sua empreitada diplomática há duas décadas intermediando acordos no Iêmen, em 2007, e no Líbano no ano seguinte.
A negociação de agora envolveu diplomatas dos Estados Unidos, França, Holanda e Egito. O foco de Doha é garantir que Israel e o Hamas cumpram os termos acertados nos acordos.
Até o Irã, inimigo número um de Israel, e maior fornecedor militar do Hamas, sentou-se à mesa de debates. Sua atuação envolve o destino de onze trabalhadores rurais tailandeses presos em Gaza - o governo da Tailândia percebeu que eles não estavam recebendo atenção e apelaram para Teerã que viu na missão uma chance de melhorar a imagem.
Ainda que tenha se concretizado e representado um alívio temporário, a suspensão da guerra por curto período não desatou a crise que se abateu sobre a região.
Pois na verdade Israel teme que o cessar-fogo sirva para que o Hamas se organize e faça novos ataques contra Israel.
Tréguas podem ainda intensificar as pressões internacionais sobre Tel Aviv pelo fim do conflito, o que contraria os planos de Netanyahu de só terminar as operações quando extinguir o Hamas, meta quase impossível.
Ao final do conflito, porque ele terá cedo ou tarde um final, o atual governo de Netanyahu deve cair e uma nova administração em Israel terá de encontrar uma saída diplomática para a guerra com o apoio da comunidade internacional e das Nações Unidas.
Apesar das resistências às Nações Unidas do atual governo de Israel que a hostiliza regularmente por condenar os excessos de Netanyahu contra a população civil palestina.
Mais de dois milhões de pessoas sem teto , comida , energia e segurança vão constituir um problema difícil de resolver este ano.
Os países árabes e o mundo islâmico vão certamente tentar ajudar Gaza mas terão necessidade neste esforço de recuperação da ajuda de outros países inclusive do Brasil.
Nossa comunidade de origem árabe estimada em quinze milhões pode eventualmente ajudar nesse processo de reconstrução de Gaza.
O Itamaraty tem condições de agir como ponto focal para canalizar os nossos esforços nesse sentido tanto no Governo quanto junto à sociedade civil brasileira.
E coordenar esses esforços de nossa parte com os organismos internacionais.
Este ano que se inicia com duas guerras devastadoras no oriente médio e na Europa pode marcar o fim dessas hostilidades desde que as partes em conflito e a comunidade internacional privilegiem o diálogo no lugar da guerra .
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