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COLUNA

Quem tem medo da Inteligência Artificial?

IA. - Imagem: Reprodução | Freepik
IA. - Imagem: Reprodução | Freepik
Bruno Bernardes

por Bruno Bernardes

Publicado em 02/03/2024, às 07h10


Pode não parecer, mas a inteligência artificial está mais presente na sua vida diária do que você imagina. As pessoas estão familiarizadas com o uso da inteligência artificial na recomendação de filmes e conteúdo nas redes sociais ou ferramentas de busca na internet, seu uso em chatbots no comércio online, além da sua aplicação no desenvolvimento de veículos autônomos, na segurança pública com as polêmicas em torno do uso do reconhecimento facial, no comércio e na indústria.

A gama de aplicações que a Inteligência Artificial oferece é ampla e em constante inovação. O avanço desta tecnologia nos últimos 4 anos foi muito rápido com impactos que ainda são impossíveis de serem mensurados. As pessoas têm medo das consequências quanto ao seu uso, e de fato, o impacto do seu mau uso pode ser irreversível, principalmente, quando se tratar de escolhas políticas que podem impactar o futuro de nações inteiras.

O ano de 2024, é o maior ano eleitoral da história, e um dos maiores questionamentos é: como a Inteligência Artificial, principalmente, a tecnologia deep fake vai impactar o processo eleitoral como um todo?

O uso da Inteligência Artificial representa a terceira onda de transformação tecnológica na política do século 21, depois do uso intenso das redes sociais e da proliferação das fake news. Com a tecnologia do deep fake é possível substituir o rosto de pessoas em vídeos ou simular falas, com o mesmo tom de voz e com a sincronização com o movimento dos lábios.

A deep fake vai trazer muita dor de cabeça aos candidatos e ao eleitorado como um todo, podendo gerar consequências significativas para a integridade do processo democrático. As recentes eleições argentinas foram vítimas da deep fake, e ao que tudo indica, as principais eleições de 2024 sofrerão com isso, Biden já foi vítima. Em pesquisa recente feita nos EUA, cerca de 80% do eleitorado já está preocupado com o uso de IA em propagandas eleitorais.

No Brasil, as eleições municipais serão o palco mais propício para a disseminação do deep fake, isso por conta da imensa quantidade de municípios espalhados pelo país. O controle do mau uso será um desafio para as autoridades e reguladores brasileiros.

O TSE está tentando correr para não chegar atrasado, ao proibir o uso das deep fakes nas campanhas de maneira absoluta. Na contramão da alta restritividade do judiciário, temos a morosidade do legislativo federal brasileiro que desde 2020 está tentando aprovar uma lei que seja de fato completa para regular Inteligência Artificial no país, e até agora conseguiu tímidos avanços: com 4 Projetos de Lei principais ainda em tramitação.

O grande desafio com Inteligência Artificial é que os reguladores dificilmente poderão acompanhar a mesma velocidade com que essa tecnologia se desenvolve e ganha novos produtos e facetas. As autoridades no mundo devem se dar conta disso e atuar o mais rápido possível para desenvolver projetos que não sejam altamente restritivos mas sirvam como uma base legal para o uso seguro desta tecnologia. Ao restringir demais o uso de qualquer nova tecnologia, abre-se um espaço perigoso para o seu uso irregular, impedindo ao mesmo tempo que avanços tecnológicos possam melhorar a própria ferramenta.

Inteligência Artificial, se usada corretamente, é imensamente benéfica a todos e o Brasil deve se tornar protagonista do seu uso. O ano de 2024 é o ano para os legisladores e figuras políticas fazerem história, desenvolvendo uma governança e regras claras para o uso seguro desta tecnologia na política e na sociedade

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