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O Jogo dos Riscos Financeiros: Estratégias Vencedoras para Empresas

Gestão de Riscos Financeiros nas Empresas - Imagem: Reprodução | Freepik
Gestão de Riscos Financeiros nas Empresas - Imagem: Reprodução | Freepik
Mauro Stopatto

por Mauro Stopatto

Publicado em 10/01/2024, às 06h51 - Atualizado às 10h51


Os Riscos Financeiros podem manifestar-se de diversas formas; consequentemente, podemos monitorar, mitigar e antecipar seus efeitos. Os riscos financeiros de maior relevância são: Risco de Caixa, Risco de Crédito, Risco de Dívida, Risco de Mercado e Risco do Ponto de Equilíbrio. Todos os riscos mencionados convergem para consequências no caixa das empresas. Essas consequências geram todo tipo de efeito adverso, percebido pelos desequilíbrios na saúde financeira da empresa, como desequilíbrio na estrutura de financiamento, desequilíbrio entre os prazos de entrada e saída de recursos, concessões inadequadas de crédito, entre outros. O impacto da má gestão financeira varia desde pequenas dificuldades até a insolvência completa da empresa. Gerir os riscos financeiros proporciona uma forma eficiente de evitar que esses riscos ocorram, prevenindo todas as desastrosas consequências relacionadas. A implantação da Gestão de Riscos Financeiros permite o monitoramento da real situação financeira, econômica e patrimonial, tornando a gestão financeira mais eficiente.

Gestão de Riscos Financeiros

A Gestão de Riscos Financeiros teve sua origem no mercado de capitais. Expoentes como Markowitz e Sharp avaliaram a diversificação nos investimentos e sua relação de risco-retorno, culminando com a criação de um modelo de precificação de ativos ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1990. Esse prêmio reconheceu a importância do trabalho desenvolvido nas décadas de 50 e 60 do século passado. Eles mediram a contribuição das ações para o risco de suas carteiras de investimentos, propondo e criando um modelo.

No início dos anos 90 do século passado, o Banco J. P. Morgan desenvolveu o modelo Riskmetrics para medir o Valor em Risco (VaR). Sua aplicação também ocorre no mercado de capitais, buscando prever preços de ações e medir o valor do risco dado um intervalo de confiança. Essa metodologia evoluiu para o Fluxo de Caixa em Risco (CFaR), que simula o valor em risco do fluxo de caixa futuro dado um intervalo de confiança.

RISCO DE CAIXA

Em relação ao VaR, existem no mercado algumas metodologias preditivas ou modelos de previsão. Os mais conhecidos são os paramétricos, baseados na estatística e na aderência à curva normal, e os modelos não paramétricos, baseados em séries históricas e simulações. Também são utilizados modelos preditivos de cenários, adotados por algumas consultorias financeiras. Ao traçarmos as hipóteses de cenários, podemos construir a hipótese de um cenário mais provável e cenários menos prováveis, otimista e pessimista. Independentemente do cenário, devemos evitar uma diminuição da geração de caixa. Todos os fatores que impactam no caixa, na gestão de risco financeiro, devem ser monitorados. Diversos fatores, como prazo de pagamento, prazo de recebimento, volume de vendas, número de clientes, volume de despesas, volume de dívidas, entre outros, contribuem para o aumento ou diminuição do risco de caixa.

RISCO DE DÍVIDA

Inserido no contexto do risco financeiro, o risco de dívida é monitorado através da análise da situação financeira, econômica e patrimonial. Ao monitorarmos índices de liquidez, como a Liquidez Global Real e a Liquidez Corrente, conseguimos medir os recursos em relação às obrigações. Utilizando indicadores e índices, avaliamos a estrutura patrimonial através do monitoramento da composição do passivo exigível. Dessa forma, sabemos a proporção de recursos próprios em relação a recursos de terceiros. Outro índice utilizado na avaliação da estrutura patrimonial é conhecido como índice de garantia ou de dependência financeira, medindo o grau de participação do capital de terceiros nos investimentos do ativo da empresa. Outro indicador utilizado na avaliação da estrutura patrimonial é o giro do imobilizável, onde monitoramos a relação entre o valor das vendas e o valor investido no ativo imobilizado. Conseguimos medir a conversão em vendas dos recursos imobilizados na empresa. No contexto do risco de dívida no âmbito do risco financeiro, realizamos a análise da situação econômica, mensurando, avaliando e interpretando lucros ou prejuízos gerados. Para esse aspecto, monitoramos o Retorno sobre o Investimento Total (ROI), ou seja, a capacidade que os ativos da empresa têm para gerar lucros, ou seja, o retorno obtido pelo total de investimento. Para cada real aplicado, sabemos quanto se obtém de lucro líquido.

RISCO DE CRÉDITO

No contexto do risco financeiro, o risco de crédito apresenta uma gama de fatores a monitorar. Esse risco está associado à possibilidade de não receber pelas vendas conquistadas, sendo o risco de vender e não receber. Ao conceder crédito, existe o risco de ser malsucedido. Nesse sentido, é necessário monitorar o nível de renda ou faturamento do cliente, o score de crédito, a margem consignável ou o percentual da renda já comprometida com descontos, o percentual não comprometido, referências comerciais, referências bancárias, referências pessoais, entre outros. Devemos observar as consequências para as vendas e os recebimentos do aumento no rigor na concessão de crédito, bem como as consequências para as vendas e recebimentos da diminuição no rigor da concessão de crédito. Dessa forma, medimos o nível de impacto causado pelo custo de negar crédito, pelo custo de conceder crédito ou pelo custo de oportunidade na concessão e o custo das perdas geradas com os créditos inadimplentes.

RISCO DE PONTO DE EQUILÍBRIO

O risco do ponto de equilíbrio está relacionado ao aspecto do risco financeiro dentro do universo de custos, despesas, preços de comercialização e margem de venda. Todo empreendimento precisa ter a medida de seu ponto de equilíbrio, sabendo qual é o volume de vendas mínimo necessário para cobrir todos os custos fixos e variáveis. Dessa forma, a empresa sabe que abaixo desse volume de vendas terá prejuízo e acima terá lucro proporcional ao ganho de margem de contribuição unitária acima do volume do ponto de equilíbrio. Com essa informação, é possível monitorar as informações sobre faturamento para saber antecipadamente se terá ou não os recursos necessários para cumprir suas obrigações. Pode planejar com antecedência aplicações dos recursos da sobra de caixa e consegue antever momentos de falta de recursos em função do volume de vendas, podendo também ter esforços no sentido de aumentar as vendas e consequente aumento de receitas. Monitorando os fatores desse risco, é possível identificar o tamanho do custo fixo total, uma medida que compromete o ponto de equilíbrio. Quanto maior o custo fixo, maior o volume de vendas necessário para manter essa estrutura. O preço e a margem praticada também estão relacionados diretamente ao ponto de equilíbrio, sendo necessário o monitoramento desses fatores de impacto.

RISCO DE MERCADO

Até o momento, o artigo abordou os riscos sob o aspecto de riscos internos à organização, dentro do risco financeiro. Agora é o momento de abordarmos o risco de mercado, que está relacionado a aspectos macroeconômicos incontroláveis do ponto de vista empresarial. Esses fatores são incontroláveis, pois a empresa não tem gestão sobre eles, mas sofre as consequências. Podendo se beneficiar ou ser atingida por esse risco, a empresa precisa estar preparada para reagir ou agir antecipadamente, em virtude dos possíveis cenários relacionados aos aspectos macroeconômicos que influenciam ou podem influenciar as operações. Fatores que podem causar impacto significativo incluem o crescimento, mais ou menos acelerado, do Produto Interno Bruto (PIB), e a taxa de câmbio, mais especificamente a cotação do dólar. A empresa precisa monitorar indicadores como o fator de risco de mercado, a taxa de juros da economia (que influencia o estímulo ao consumo e está relacionada à inflação e aos endividamentos das empresas e famílias), e a inflação, que está vinculada ao poder de compra das empresas e famílias. Quanto maior a inflação, mais instável a economia e maior a perspectiva de elevação das taxas de juros, levando a uma diminuição da atividade econômica. 

Conclusão

O Risco Financeiro, monitorado através de suas diversas manifestações, seja o risco de caixa, o risco de mercado, o risco de crédito, o risco de dívida e o risco do ponto de equilíbrio, precisa, para uma gestão eficiente do risco financeiro, ter acompanhados os fatores de impacto. O monitoramento dos fatores de riscos financeiros leva à mitigação de riscos, à identificação de processos, à identificação de pontos de melhoria e à identificação de falhas e aspectos da operação que estão sendo trabalhados de maneira correta, mas que também podem ser aperfeiçoados. Com esses aspectos medidos e avaliados, é possível estabelecer planos e linhas de ação para os diversos cenários que podem se apresentar em virtude de aspectos negativos e positivos do risco, sendo que os positivos se traduzem como oportunidades. Quanto melhor a empresa estiver estruturada para a gestão de riscos financeiros, melhor agirá de forma antecipada diante das questões que se apresentam ou que podem vir a ser apresentadas. Assim, a empresa pode mitigar consequências indesejadas, como todas as dificuldades financeiras operacionais do cotidiano, como honrar compromissos financeiros com fornecedores, funcionários, etc. Manter a saúde financeira da empresa é essencial e estratégica, sendo a gestão de risco financeiro, monitorada pelos diversos aspectos aqui apresentados, fundamental para esse sucesso.

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