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COLUNA

O fascínio de Petra

Petra, Jordânia. - Imagem: Reprodução | Portal britannica
Petra, Jordânia. - Imagem: Reprodução | Portal britannica
Marlene Theodoro Polito

por Marlene Theodoro Polito

Publicado em 06/08/2024, às 09h42


Em nossas últimas férias resolvemos ir até a Jordânia. As referências bíblicas, os monumentos antiquíssimos, o contraste dos povos do deserto, o Mar Morto e seus manuscritos e, naturalmente, Petra eram razões mais do que certas para nossa escolha.

Apaixonei-me por Petra assim que a vi. A antiga capital dos nabateus, com suas rochas multicoloridas e suas estruturas extraordinárias, compõe um cenário único com a poesia de seu silêncio, com a mudança constante de suas cores à luz do sol, com o suave equilíbrio de seus templos e tumbas, esculpidos e entranhados na montanha arenítica há mais de dois mil anos. Observando a sinuosidade misteriosa de suas veredas, diante de uma beleza sem igual, um sentimento íntimo e profundo toma conta de todos.Esse é o seu fascínio.

Cenário inusitado

Minha passagem por Petra, entretanto, foi marcada também por outro fato. Ao percorrer seus caminhos, impressionada por sua grandiosidade, me dei conta de que uma menininha de uns sete anos, de repente, me tocava o braço e me oferecia um dos cartões postais que estava vendendo. Andava entre as inúmeras pessoas que visitavam o local e provavelmente, como as outras crianças que lá estavam, pertencia a uma das famílias beduínas que tentavam ganhar algum dinheiro naquela região.

Olhei encantada para ela: que linda figurinha!Um véu preto cobria-lhe a cabeça; usava pequenos anéis nos dedos das mãos, e sorria, sorria muito. Comprei seus cartões e depois, sorrindo de volta, inclinei-me e disse, na certeza de que ela não poderia entender minhas palavras, o quanto eu a achava especial, adorável.

Surpresa

Continuamos nosso caminho, observando as pessoas, as línguas diferentes; paramos nas inúmeras tendas para ver os artesanatos, fotografamos os camelos, o cenário inusitado, tomamos chá de maçã e comemos pão macio e branco.

Quando resolvemos voltar, a manhã brilhava sob o calor forte do deserto, e um número maior de pessoas agora fazia o caminho que havíamos trilhado horas antes. Irrequietas, conversavam animadamente umas com as outras, riam alto, apontando os burros e as carroças que passavam levando aqueles que preferiam, ou não podiam, fazer o trajeto a pé.

No meio desse vaivém, vi a menininha beduína ainda ocupada com a venda de seus cartões, andando entre as pessoas, tentando ser ouvida por elas. Passou os olhos rapidamente por mim e ia em direção a uma senhora que lhe acenava quando, subitamente, em um sinal claro de reconhecimento, parou e expressou, com toda a alegria de que era capaz, o seu contentamento por voltar a me ver.

Não entendi as palavras que me dizia. Não era necessário. Seus olhos, seu sorriso, seu jeito doce de falar, a forma como prazerosamente se deixou ficar ao meu lado para uma foto, para um beijinho nas bochechas queimadas de sol me disseram mais do que uma infinidade de palavras poderiam expressar. Sua alegria foi a minha alegria, e num momento tudo era claro, límpido, transparente.

Voltamos para Amã à noite no mesmo dia. Em um ponto da estrada, paramos nosso carro e o senhor Wassif, nosso guia, nos recomendou que olhássemos para o céu coberto por uma infinidade quase impossível de estrelas. Céu de Petra!, falei para mim mesma. Não podia ser diferente.

Lembrei-me, então, da menininha, dos amigos queridos, do sabor das pequenas alegrias da vida.Com a cabeça reclinada, eu continuava a olhar o céu que cintilava. Pensei “Ora (direis) ouvir estrelas!”. Não é que Bilac tem razão?!

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