por Babi Hanones
Publicado em 04/02/2024, às 05h48
Ela disse no meio de uma fala emocionada e abismada com a constatação de um início de relacionamento que escancarou na sua cara a falta de reciprocidade, num gesto singelo que nós amigas ouvimos questionando se ela não estava super faturando a situação. Mas não, a Ana estava escutando uma voz profunda que falava por meio de apertos no coração.
E na minha mente ecoava, a constatação de que "ele não sente o mesmo que eu" parece tão óbvio, mas por que será que para mim parecia um aviso sem sentido? Como psicoterapeuta, apelei pelo conhecimento e pensei projeção ou resistência? Me isentando naquele momento de estar vivendo a mesma situação.
Existem frases que parecem brilhar aos nossos olhos, sinalizando algo que resistimos a ver por ser tão simples, tão óbvio. É aquela máxima verdade de que o que está bem perto de nós nos faz perder a dimensão real do que aquilo contém.
E para mim não foi diferente, resisti em perceber que o que eu sentia não tinha correspondência, ou melhor, não havia resposta que caberia aos meus intentos na relação que vivia.
Temos a falsa ideia de que conhecemos o outro pela rede de crenças que carregamos, como se o outro fosse uma extensão nossa. Aqui amplio para o fato de que somos feitos das experiências que tivemos e um algo a mais que trazemos na alma que nos ajudaria demasiado a ler os sinais ocultos, o não dito e pouparíamos tempo e um certo sofrimento.
Trazemos uma sabedoria que avança essa experiência física e por que não ativamos com mais frequência esse saber?
Talvez tenhamos aquele problema de visão de nos vermos mais de perto, sem tantas projeções. E ancorarmos a real dimensão do quem somos num íntimo mais profundo de identidade.
Diria algo luminoso, com poucas tendências depreciativas e uma vontade imensa de brilhar pela vida, traduzindo ao mundo o nosso plano de alma, sermos quem somos de forma legítima e inteira, abraçando nossa sombra e expressando nossos talentos.
Termino com o amado mestre e revolucionário C. G. Jung," O ouro está na escuridão. Eu prefiro ser inteiro do que ser bom.”
Aqui entendemos escuridão ou sombra, como o que está inconsciente, não integrado à nossa consciência, portanto um algo em nós que ganha força própria e se manifesta na realidade física como António, o ex quase namorado de Ana.
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