por Pablo Nobel
Publicado em 23/03/2024, às 07h45
Existe uma teoria no espectro das ciências políticas chamada “Teorema do Eleitor Mediano”. Esta teoria afirma que um sistema de votação de maioria absoluta selecionará sempre um melhor resultado para o eleitor mediano.
Desde o início dos anos 90 até final dos anos 2000, o eleitor mediano refletia o fenômeno da ocidentalização no mundo político, onde a democracia liberal predominava como espectro de escolha política deste eleitor. Era o “Fim da História” como descrito por Francis Fukuyama no pós Guerra Fria, no qual o autor afirmou que o advento da Democracia Liberal ocidental seria o ponto da evolução sociocultural e a forma final de governo.
Os atores que prevaleceram nesta ordem global liberal foram, os EUA e a União Europeia. Porém, o cenário de estabilidade liberal passou a entrar em decadência devido às fortes crises financeiras globais que estancaram a bonanza econômica que sustentava o sistema. Esses “clashes” trouxeram milhares de pessoas ao desemprego, o que acentuou a exclusão econômica e política destes eleitores.
A extrema-direita ressurge nesse contexto falando por esses excluídos através de uma retórica anti-establishment e antipolítica. Essa retórica foi ganhando forças com os “excluídos” socialmente e os “excluídos” ideologicamente. A pauta ideológica e a guerra cultural predominante no ocidente durante esse período eram voltadas para um espectro mais social, liberal e progressista.
A Europa Ocidental foi o terreno fértil para os novos políticos da extrema-direita que criticavam o sistema e queriam trazer mudanças drásticas defendendo políticas mais restritivas quanto a imigração, menos corrupção, mais ordem social e maior nacionalismo econômico. A tração desses grupos tem apelo e tende a crescer nos próximos anos. Será que o eleitor europeu mediano mudou?
Um acontecimento recente que concretiza o sucesso do movimento da extrema-direita europeia foi visto em Portugal. Nas recentes eleições legislativas do país a extrema-direita local representada pelo partido “Chega” quadruplicou seus assentos no Parlamento.
O sucesso do “Chega" pode ser atribuído a uma série de fatores estruturais na economia e política portuguesa, como o aumento do custo de vida no país, a redução salarial, a crise habitacional e o aumento da imigração.
Uma crise econômica desencadeia o retrato fiel do descontentamento político dos cidadãos, que buscam soluções diferentes para os mesmos problemas. Diante da atual conjuntura, a extrema-direita representa apenas os “excluídos” ou os descontentes com uma fórmula que não tem dado certo?
Quem sobreviver, verá.
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