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COLUNA

China: Anistia Internacional denuncia que chineses morando no exterior são vigiados e intimados após fazer críticas ao comunismo

Monitoramento. - Imagem: Reprodução / Gilles Sabri / The New York Times
Monitoramento. - Imagem: Reprodução / Gilles Sabri / The New York Times
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 15/05/2024, às 08h27


O novo relatório da Anistia Internacional, publicado em 13 de maio, indica que mesmo chineses vivendo no exterior são perseguidos pelo regime comunista. Xi Jinping, presidente do regime totalitário, mantém um sistema que vigia e intimida estudantes chineses que frequentam universidades no exterior, com objetivo de abafar críticas ao comunismo e ao governo comandado pelo Partido Comunista Chinês.

Intitulado “No meu campus, tenho medo”, o levantamento da Anistia Internacional entrevistou estudantes residentes em países como, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. Eles relatam serem fotografados e seguidos nos protestos de que participaram nas cidades onde moram. Muitos afirmaram que suas famílias na China foram ameaçadas pela polícia devido ao seu ativismo no exterior. A estimativa é que haja quase um milhão de estudantes chineses no exterior.

“Os testemunhos recolhidos neste relatório pintam um quadro assustador de como os governos da China e de Hong Kong procuram silenciar os estudantes, mesmo quando estão a milhares de quilômetros de casa, deixando muitos estudantes com medo”, afirmou Sarah Brooks, Diretora da Anistia Internacional na China.

Uma estudante, que chamaremos de Rowan por questões de segurança, conta que poucas horas após assistir a uma manifestação em memória das vítimas da repressão da Praça Tiananmen, ocorrida em 1989, soube que seu pai foi contatado por autoridades de segurança na China. A mensagem é que deveriam “educar sua filha que está no exterior para estudar e não para participar em quaisquer eventos que possam prejudicar a reputação da China no mundo”.

Rowan não revelou seu nome verdadeiro durante o protesto nem postou on-line sua presença ali. Por causa disso, ficou impressionada com a rapidez com que as autoridades chinesas a identificaram, localizaram seu pai e o usaram para ameaçá-la contra atos de dissidência. A estudante disse à Anistia Internacional que a mensagem era clara: “Estão sendo vigiados e, embora estejamos do outro lado do planeta, ainda podemos chegar até vocês”.

Cerca de um terço dos estudantes chineses entrevistados pela Anistia Internacional assegura que suas famílias foram perseguidas em consequência de sua postura pública. A lista de ameaças inclui desde a revogação de passaporte, passando pela demissão sumária do emprego, e até a limitação da liberdade de transitar pelo país. Outra denúncia grave é que o governo pressiona as famílias na China a cortar eventuais ajudas financeiras aos familiares que estudam fora, para assim silenciá-los.

A Anistia Internacional também mostrou que esses cidadãos chineses não podem expressar livremente suas opiniões nas redes sociais, pois há um sistema de vigilância digital de Pequim.Isso inclui postagens em plataformas não chinesas, como X, Facebook e Instagram. Vários estudantes apresentaram evidências desta vigilância, como quando a polícia mostrou aos pais de um aluno transcrições das suas conversas privadas com os familiares no WeChat, aplicativo chinês semelhante ao WhatsApp.

Esses relatos verídicos inevitavelmente remetem ao famoso romance 1984, de George Orwell. A obra fala de uma sociedade totalitária, onde um partido político controla a sociedade. Seu lema é “O Grande Irmão está de olho em você", aviso que aparece em cartazes nas ruas e em televisões espalhadas por locais públicos e casas.

É desse “Grande Irmão”, Big Brother no original em inglês, que surgiu a inspiração para o reality show mais famoso do Brasil. Ao julgar pelas novas políticas propostas por aqui, tanto no Legislativo quanto no Judiciário, a ideia de vigilância de opinião e tentativa de silenciamento de críticas não é algo “Made in China”, nem apenas obra de ficção.

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