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Hora de combater o racismo ambiental

Racismo ambiental. - Imagem: Divulgação / Coripa.pr.gov
Racismo ambiental. - Imagem: Divulgação / Coripa.pr.gov
Adriana Galvão

por Adriana Galvão

Publicado em 12/03/2024, às 07h19


O homem vilipendia a natureza e, como resultado, prejudica o próprio homem. A ganância passa por cima do patrimônio natural, e a nossa desigualdade histórica aprofunda-se sob a forma de desastres ambientais que atingem os vulneráveis. Lembre-se e enfatize-se que, entre os vulneráveis, a maior parcela é de negros. Não poderia haver termo mais adequado a tal situação que “racismo ambiental”.

Muitos ainda torcem o nariz à denominação, mas são pessoas que nunca se preocuparam em reconhecer as raízes escravocratas da sociedade brasileira. A elas basta a preservação da bolha em que vivem imunes a tudo de ruim que acomete o mundo real. 

Entre outros inúmeros exemplos, o desastre de Brumadinho (MG), em 2019, deixou 272 mortos. As enchentes e os desbarrancamentos no Litoral Norte de São Paulo, no início de 2023, mataram 65 pessoas. Em janeiro de 2024, as chuvas na Zona Norte do Rio Janeiro foram responsáveis por 12 mortes. Não é preciso indagar sobre em que degrau da pirâmide social situavam-se as pessoas que morreram, nem a cor da pele da maioria delas.  As próximas tragédias humanitárias decorrentes de intempéries climáticas em áreas de risco e periferias são esperadas pelo Poder Público com a inação que o caracteriza.

O termo “racismo ambiental” foi cunhado em 1980 pelo químico americano Benjamin Franklin Chavis Jr. Também reverendo, Chavis Jr., na juventude, fora assistente de Martin Luther King. O estopim de sua manifestação indignada foram depósitos de resíduos tóxicos feitos no condado de Warren, estado da Carolina do Norte, onde a maioria da população era negra.

A prática ambiental de viés racista - ou seria prática racista de viés ambiental? - acontece na hora de as autoridades indicarem os locais onde serão instados lixões e aterros sanitários, bem como no momento em que se direcionam iniciativas antipoluidoras ou quando se decidem investimentos em saneamento básico. Compõem esse cenário de injustiça os crimes de grilagem e exploração de terras pertencentes aos povos originários, justamente aqueles cuja existência é indissociável da preservação da natureza.

Com propriedade, Marcos Bernardino de Carvalho, professor de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, declarou: “As pessoas vitimadas pelo processo de degradação ambiental, em bolsões de gente vulnerabilizada, não são apenas pessoas vulneráveis e empobrecidas, mas pessoas negras”.

O que temos é desigualdade socioambiental na veia, quadro que não se reverterá sem esforço conjunto de governos, empresas, organizações não-governamentais e comunidades. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz vem se debruçando sobre o tema, editando o mais que recomendável, obrigatório Mapa de Conflitos, Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil.

Dos estudos da Fundação Oswaldo Cruz extraímos algumas medidas sem as quais o racismo ambiental, certamente, recrudescerá:

• Reconhecimento da existência do racismo ambiental e conscientização da sociedade sobre a gravidade do problema;
• Investimentos em infraestrutura de saneamento básico e água potável em comunidades marginalizadas;
• Regulação mais rigorosa de empresas que causam danos ambientais, incluindo multas e outras penalidades;
• Participação e consulta das comunidades afetadas nas decisões relacionadas a projetos de infraestrutura e desenvolvimento;
• Políticas públicas que promovam a igualdade socioambiental, como a distribuição justa de recursos e serviços ambientais;
• Promoção de iniciativas educacionais e culturais que incentivem a diversidade e o respeito às diferentes culturas e tradições.

Mãos à obra com determinação, pois os ventos contrários não param de soprar!

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