Nesta quarta-feira (25) completou 4 anos do incêndio no galpão que estocava açúcar e que causou uma “cachoeira de caramelo” em Santa Adélia (SP).
O fogo fez grande quantidade de açúcar derreter. O melaço invadiu casas, poluiu rios e matou milhares de peixes. Na época, a empresa responsável foi multada em R$ 15 milhões, mas não pagou a quantia após 4 anos.
Depois de quatro anos, ainda não há uma conclusão sobre o que teria provocado esse incêndio. A TV TEM entrou em contato com a empresa Agrovias, mas não teve retorno.
O Ministério Público informou que a empresa concordou em assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) onde se compromete a pagar o valor da multa, reajustado. A empresa também vai ter que oferecer cursos de preservação ambiental para crianças e adolescentes das regiões que tiveram prejuízo por causa do caramelo. Esse documento, segundo o MP, deve ser assinado nos próximos dias.
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Todo o açúcar produzido na região era estocado no local e depois transportado de trem até o porto de Santos (SP). Mauro Sérgio Rodrigues é morador da cidade e lembra da tragédia. “Um depósito desse pegando fogo e o fogo aumentava cada vez mais. Quanto mais jogava água, mais pegava fogo”, relembra.
Na época, o incêndio consumiu tudo o que havia dentro do galpão e cerca de 30 mil toneladas de açúcar foram queimados. As chamas já começaram a atingir um armazém que fica ao lado e as ruas próximas ao local foram interditadas porque havia riscos de explosões porque o açúcar é altamente inflamável.
Os moradores ficaram assustados e algumas casas foram interditadas, assim como a ferrovia que chega ao galpão.
Em pouco tempo, o açúcar derretido transbordou o muro do armazém e formou uma “cachoeira de caramelo” que atingiu ruas e casas. “A gente tinha que andar descalço, o caramelo só não entrou na minha casa porque meu marido fez uma barreira de terra”, diz a aposentada Cleudina Zan Rossi.
Uma barreira de terra foi montada em frente às casas para impedir o avanço do líquido. A força do açúcar derretido e a temperatura alta ameaçava derrubar um dos muros do armazém que ajudava a conter o produto.
Na época, a empresa que administra o local disponibilizou hotel para os moradores. Uma empresa foi contratada para fazer o transbordo do caramelo até uma usina.
O fogo no local foi controlado após cinco dias, mas o prejuízo ambiental avançou com o incêndio. O melaço atingiu 300 quilômetros dois rios na região e pelo menos 14 toneladas de peixes morreram. Muitos tentaram sobreviver chegando à superfície para respirar.
“O açúcar, através de suas reações químicas, retira o oxigênio da água. Segundo medições da Cetesb, o oxigênio aqui na água chegou a zero miligramas por litro, ou seja impróprio para a vida”, explica o tenente da Polícia Ambiental Alonso Ferreira da Silva.
Para tentar salvar os peixes, a Polícia Ambiental, pescadores da região e a Cetesb se uniram em uma força tarefa.
Os policiais usaram redes e tarrafas para capturar os peixes. Depois, eles eram colocados em um caminhão com água e oxigênio artificial e os peixes eram levados para a parte de cima do rio, onde não havia contaminação.
“O episódio foi um dos mais intensos e extensos do interior de São Paulo. Praticamente 1,5 mil toneladas de açúcar caramelizado atingiram o rio São Domingos e rio Turvo, provocando uma multa de R$ 15 milhões à Agrovias que, por sua vez, também deveria reparar o dano. Ao que consta com o Ministério Público, não reparou”, conclui o engenheiro sanitarista da Cetesb José Mário Ferreira de Andrade.
Em janeiro de 2016, a empresa encerrou as atividades em Santa Adélia. Em nota, a Agrovias informou que tomou a decisão por questões de mercado.