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Exército pede sigilo em portarias sobre armas para evitar crise “midiática”

Troca de emails entre o Comando do Exército e a Controladoria Geral da União (CGU) revelam que os militares pediram para manter em sigilo documentos

Exército pede sigilo em portarias sobre armas para evitar crise “midiática”
Exército pede sigilo em portarias sobre armas para evitar crise “midiática”

Redação Publicado em 14/09/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h40


Militares trocaram e-mails com a Controladoria Geral da União pedindo sigilo para evitar crise institucional porque as portarias têm “viés político e ideológico muito exacerbado”

Troca de emails entre o Comando do Exército e a Controladoria Geral da União (CGU) revelam que os militares pediram para manter em sigilo documentos relacionados à elaboração de portarias que tratavam de regras sobre controle da produção de armas e munições, alegando que a divulgação dos estudos poderia provocar uma crise “institucional e midiática “. As portarias foram revogadas em abril deste ano por determinação do presidente Jair Bolsonaro. Em mensagem, o Exército diz ainda que o tema das portarias contém “viés político e ideológico muito exacerbado”.

Obtidas com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), as mensagens trocadas entre CGU e o gabinete do comandante do Exército expõem a preocupação da Força militar de não tornar público um tema que desagradou Bolsonaro. Até então, a justificativa oficial do Exército era que os estudos continham erros e precisavam ser revistos para edição de uma nova portaria. Os e-mails fazem parte do processo aberto pela CGU para analisar seis pedidos de informação sobre o tema, um deles de autoria de jornalista do GLOBO. O Exército havia negado acesso a todos os pedidos e o caso foi parar na CGU, instância de recurso prevista na LAI quando um órgão federal se nega a fornecer a informação.

O GLOBO revelou em agosto que o sigilo dos estudos que embasaram a edição das portarias foi mantido pela CGU, apesar de parecer interno determinando a liberação dos documentos. Novos registros mostram detalhes de como a Controladoria tomou a decisão a favor do Exército. A legislação prevê que, para decidir se um recurso de pedido negado, a CGU pode pedir esclarecimentos ao órgão.

Os argumentos do Exército não convenceram a auditora da CGU que analisava o caso e ela emitiu parecer determinando a liberação de todos os estudos. Seus superiores, no entanto, discordaram e o sigilo foi mantido, como revelou o GLOBO em agosto. Na decisão da CGU que manteve os documentos restritos, os argumentos sobre “viés político e ideológico” do assunto, citados pelo Exército não foram citados. Apenas o que se referia à antecipação de informações privilegiadas foi mencionado.

No dia 23 de junho, a auditora da CGU responsável pelo caso enviou o primeiro pedido de esclarecimento ao Exército. A auditora fez oito perguntas. O Exército só respondeu uma. A auditora insistiu uma segunda vez. E ainda ficou sem respostas para a maioria dos seus esclarecimentos . Um mês depois, a auditora repassou a seus superiores na Ouvidoria-Geral da CGU as pendências sobre o caso e o ouvidor-geral adjunto Fábio do Valle Valgas da Silva se encarregou de fazer contato direto com o Exército para tentar obter esclarecimentos sobre o caso.

No dia 28 de julho, Fabio do Valle remeteu email ao gabinete do Comando do Exército solicitando esclarecimentos adicionais. E explicou em letras maiúsculas que o Exército precisava deixar claro qual o risco para a divulgação das informações para que a CGU também rejeitasse os pedidos de acesso. “Deve ser um texto que explicite (sic) QUAL É O RISCO EXISTENTE e COMO ELE SE MATERIALIZARIA (quais consequências para o processo decisório e/ou para a segurança jurídica e confiança dos administrados). Essa demonstração é fundamental para que possamos ter segurança no que diz respeito ao pleito de negativa apresentada por vocês”, escreveu o ouvidor adjunto. Ele ainda recomendou ao Exército que marcasse uma data para a edição da nova portaria, encerrando o email com uma saudação ao oficial destinatário de mensagem: “Fraterno abraço, Brasil!”

Recebida a resposta do Exército nos moldes do que fora solicitado, a auditora da CGU ainda não viu elementos para manter os documentos em sigilo . Mas seus superiores preferiram atender o pleito dos militares mantendo a restrição aos estudos até que uma nova portaria seja editada.

Procurado, o Comando do Exército não se manifestou.

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iG

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