Dois adolescentes que integram a quadrilha que controla a venda de drogas no Morro do Dezoito , em Água Santa, Zona Norte do Rio, ajudaram a ocultar o cadáver
Redação Publicado em 04/12/2019, às 00h00 - Atualizado às 12h38
Dois adolescentes que integram a quadrilha que controla a venda de drogas no Morro do Dezoito , em Água Santa, Zona Norte do Rio, ajudaram a ocultar o cadáver de Matheusa Passarelli. A revelação foi feita à Polícia Civil pelo traficante Manuel Avelino de Sousa Junior, conhecido como Peida Voa , acusado de ter sido o responsável por ter dado os dois tiros que mataram a estudante, que se identificava como não-binária — termo usado por pessoas cuja identidade de gênero não é nem masculina nem feminina.
O relato foi gravado em áudio na manhã do dia 28 de maio na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), para onde Manuel foi levado após ser preso pela morte de Matheusa . O homem foi capturado num prédio em Piedade, onde passou a trabalhar como porteiro após abandonar o tráfico, três meses após o crime.
“Dois ‘menor’ que estavam lá me ajudaram a levar o corpo. Um está na boca e outro não está. São irmãos. Moram lá em cima do morro”, disse Manuel, num áudio gravado pelos investigadores e que faz parte do processo judicial a que ele responde pelo homicídio.
Manuel informou aos policiais os nomes dos irmãos. No entanto, a delegacia não conseguiu chegar à identificação completa deles.
Num depoimento gravado em vídeo, revelado pelo EXTRA na última segunda-feira (2), Manuel afirmou que deu dois tiros em Matheusa após ela “tentar tirar o fuzil” do traficante. Segundo a investigação, após a estudante ser morta, o corpo foi esquartejado e queimado num galão na área de mata na favela. Manuel diz que foi obrigado a assistir a queima do cadáver.
“Tive que ficar lá. A maioria das coisas que o cara fala, a gente tem que fazer. Algumas coisas, não concordava. Vi que não era vida para mim”, disse o homem, que deixou o tráfico três meses depois do crime.
O relatório final do inquérito da Delegacia de Descoberta de Paradeiro (DDPA) aponta que Matheusa foi a uma festa na madrugada de 29 de abril de 2018 na Rua Cruz e Souza, no Encantado, para fazer uma tatuagem na aniversariante. Na época, segundo depoimentos de amigos à polícia, a estudante do curso de Artes Visuais da Uerj passava por dificuldades financeiras e precisava do dinheiro que ganharia pela tatuagem. Durante a festa, no entanto, a amiga desistiu de ser tatuada, o que decepcionou Matheusa, que passou a “demonstrar intenso descontrole emocional”, segundo o relatório.
Quando foi levada pela aniversariante à porta da casa para ir embora, Matheusa a abraçou e saiu correndo em direção à rua, deixando sua bolsa e seu celular. Após deixar a casa, a estudante percorreu uma distância de 1,6km até chegar ao Clube da Várzea, próximo ao acesso do Morro do Dezoito. Todo o trajeto foi refeito pela DDPA, que coletou imagens de câmeras de segurança que mostram Matheusa correndo, nua, pelas vias. Além disso, agentes da especializada ouviram moradores do local, que contam ter visto a estudante entrando desorientada na favela.
Uma testemunha revelou à Justiça que Matheusa consumiu água com ecstasy durante a festa. Em audiência na 1ª Vara Criminal, no último dia 17 de setembro, a testemunha — que morava na casa onde acontecia a festa à época — disse que uma convidada deu uma garrafa de água com ecstasy para a estudante. A testemunha, entretanto, não soube dizer se Matheusa sabia que havia droga na bebida.
Além de Manuel, outros dois traficantes foram acusados pelo homicídio e ocultação de cadáver de Matheusa : Genilson Madson Dias Pereira, o GG, e Messias Gomes Teixeira, o Feio. GG foi morto numa operação da PM no Morro do Dezoito em março. Feio está preso.
Por iG
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