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O confronto entre Pablo Marçal e Jair Bolsonaro: um caminho de prejuízo político?

Faixa de Marçal para a presidência, em ato na Av. Paulista. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais

Agenor Duque Publicado em 09/09/2024, às 21h00

Épocas de campanha eleitoral é, geralmente, marcada por confronto entre os candidatos, tanto nos debates promovidos pelas emissoras de televisão, como, após o advento da internet como veículo de promoção dos candidatos, em podcasts e lives. 

Nos últimos meses, a corrida eleitoral para a prefeitura de São Paulo tem sido marcada por uma série de confrontos e estratégias políticas inesperadas. Um dos episódios mais discutidos foi o embate público entre Pablo Marçal, influenciador, produtor digital e empresário que despontou no cenário político, e o ex-presidente e uma das vozes de maior relevância no cenária da defesa dos valores de direita, Jair Messias Bolsonaro. Esse confronto, segundo o vereador Milton Leite, tem prejudicado a campanha de Marçal, gerando reflexos que ainda reverberam no cenário eleitoral.

Pablo Marçal, que anteriormente tentava se posicionar como uma figura próxima ao bolsonarismo, mudou de estratégia e decidiu adotar um tom mais crítico. Essa guinada, que poderia ser vista como uma tentativa de se distanciar da figura polarizadora de Bolsonaro, trouxe complicações políticas para Marçal. O empresário passou a ser visto por muitos eleitores de Bolsonaro como um traidor ou um oportunista, buscando se aproveitar do capital político do ex-presidente enquanto critica aspectos de sua liderança.

Esse movimento estratégico de Marçal, de acordo com Milton Leite, acabou por isolá-lo em meio ao eleitorado conservador, dificultando a sua capacidade de formar alianças políticas sólidas. Para Leite, o maior beneficiado com essa postura é Ricardo Nunes, atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, que tem se posicionado de forma mais alinhada com Bolsonaro. Nunes, inclusive, tem conseguido capitalizar sobre o desgaste da relação entre Marçal e Bolsonaro, consolidando seu apoio dentro da base bolsonarista.

É importante lembrar que, desde o início de sua carreira política, Marçal se destacou por uma retórica antissistema, cativando eleitores desiludidos com os partidos tradicionais. Contudo, ao confrontar Bolsonaro diretamente, ele se coloca em uma posição delicada, especialmente porque o ex-presidente ainda mantém uma forte base de apoio, particularmente em São Paulo. A falta de uma coalizão política ampla e o afastamento de parte significativa do eleitorado conservador prejudicam as chances de Marçal em sua campanha.

O confronto entre Marçal e Bolsonaro teve episódios emblemáticos, como o momento em que Marçal desafiou o ex-presidente a "tomar atitude de homem". Tal fala reverberou negativamente entre os apoiadores mais fiéis de Bolsonaro, que interpretaram a declaração como um ataque à masculinidade e à liderança do ex-  -presidente. Em um momento em que Bolsonaro busca solidificar seu apoio a candidatos em diferentes Estados, esse tipo de retórica pode ter efeitos duradouros sobre a imagem de Marçal.

Ainda assim, Marçal tenta caminhar pela tênue linha entre manter seu discurso crítico e não perder completamente o eleitorado conservador. Ele tem, em algumas ocasiões, declarado que sua intenção não é romper com Bolsonaro, mas oferecer uma alternativa aos eleitores que buscam uma liderança diferente. Esse tipo de argumento, no entanto, não parece ter conseguido reconquistar aqueles que se sentiram traídos por seu confronto público com o ex-presidente.

O resultado dessa estratégia poderá ser medido nas urnas, mas as pesquisas de opinião já começam a mostrar sinais de desgaste. Enquanto Ricardo Nunes ganha terreno, Marçal enfrenta dificuldades para estabilizar seu apoio entre os conservadores. Para Milton Leite, essa situação é fruto direto dos embates desnecessários com Bolsonaro, que afastaram potenciais aliados e enfraqueceram a base eleitoral de Marçal.

A disputa pela prefeitura de São Paulo continua imprevisível, mas é certo que o confronto com Bolsonaro terá um impacto significativo na trajetória política de Pablo Marçal.

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