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A morte do gato Adamastor.

Era o ano de 1985, eu era VP de Marketing do Citibank cuja sede ficava na Rua da Assembleia em pleno centro do Rio, minha equipe era formada por grandes

A morte do gato Adamastor.
A morte do gato Adamastor.

Redação Publicado em 13/08/2018, às 00h00 - Atualizado às 09h45


Era o ano de 1985, eu era VP de Marketing do Citibank cuja sede ficava na Rua da Assembleia em pleno centro do Rio, minha equipe era formada por grandes profissionais, porem cada um com uma mania, lembro-me de todos eles, o Nelson impecável no trajar, mas grosso como um casco de tartaruga para esculhambar pessoas que cometiam equívocos, ele começava a berrar e o interlocutor ficava aos prantos a ponto de querer cometer suicídio ou demissão voluntária, o Jurandir, ótima pessoa que começou como office boy e acabou por toda sua competência como assistente geral da área, o problema dele era tentar disfarçar que não era gay numa época que era quase pecado, não conseguia de jeito nenhum cada vez que tentava era uma tragédia, tínhamos a Angela, bonita inteligente e ótima profissional na área de pesquisa, sabia todos os dados de mercado e de nosso segmento, o problema é que ela sofria de um distúrbio grave, dormia de repente em qualquer local, em reuniões com a presidência, na sua mesa de trabalho, em taxis e em metrôs, nesse transporte então ela passava do ponto toda hora, tínhamos o Silvinho o gerente de produtos da área de seguros, sabia tudo do setor, só era ruim em criar nomes e slogans para seus produtos, uma vez ele queria chamar “seguro de vida” de “seguro de morte”, alias faz todo sentido mas acho que jamais venderíamos uma apólice se deixássemos ele fazer isso, e tínhamos também o Renato da área de eventos, grande profissional, mas totalmente desligado do mundo, não prestava atenção em absolutamente nada, o que acontecia fora do seu mundo era um detalhe, seu maior defeito era querer entrar no meio de um assunto em discussão sem ter ideia do que estava sendo discutido.
Ou seja, uma equipe de malucos mas que deu certo porque nunca mais esse banco foi o mesmo em marketing desde que deixamos a organização, modéstia a parte.
Mas o caso desta semana quero destacar um que aconteceu quando todos esses profissionais meio doidos estavam na sede da agencia de propaganda do banco, a VS Escala que ficava em um sobrado de mais de cem anos no bairro de Botafogo, uma casarão com amplas janelas que davam para uma rua calma e cheia de arvores, estávamos todos entretidos com uma magistral apresentação que estava sendo feita pelo dono da agencia quando de repente ouvimos um som de uma freada brusca seguida de um grito, todos com exceção do desligado do Renato correram até a janela para ver o que tinha acontecido, era o querido Adamastor o gato siamês e mascote da agencia que havia sido atropelado, todos com exceção do Renato correram para rua motivados pela aflição dos funcionários que adoravam aquele animalzinho e que lamentavelmente já havia falecido, alguém pegou o corpo do Adamastor e o colocou na calçada, como era uma rua calma e cheia de crianças brincando não queríamos que elas vissem aquela cena do gatinho morto, e ai, desesperados gritamos da rua para a janela para que o Renato nos jogasse alguma coisa para cobrir o corpo do Adamastor, o Renato saiu na janela, a Angela gritou “Renato me joga um jornal rápido”, e o nosso herói respondeu: o Globo ou o Jornal do Brasil?

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