Diário de São Paulo
Siga-nos

Presidente do Santos detalha finanças e prevê 2022 melhor: “Luz no fim do túnel, e não é o trem”

Entre plantões de quase 12 horas na Vila Belmiro e reuniões que invadem a madrugada, o presidente Andres Rueda faz planos para o Santos. Se 2021 será um ano

SANTOS
SANTOS

Redação Publicado em 30/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h14


Entre plantões de quase 12 horas na Vila Belmiro e reuniões que invadem a madrugada, o presidente Andres Rueda faz planos para o Santos. Se 2021 será um ano de praticamente só reconstrução e acordos, o dirigente já consegue planejar 2022 sem tantos sustos.

No cargo desde janeiro de 2021, o presidente Andres Rueda diz que o torcedor Andres Rueda está feliz com sua gestão à frente do Santos. Acordos fechados, vendas de jogadores e uma troca de técnico depois, o dirigente vê uma luz no fim do túnel.

– Eu fico espantado com como os sócios deixaram chegar nessa situação. A situação do clube estava e está muito perigosa. Se pegarmos todos os últimos relatórios do conselho fiscal, eles começam sempre assim: “do jeito que está indo, pode ser irreversível”. Estou vendo uma luz no fim do túnel e não é o trem. Vai ser duro em 2021, 2022, mas imaginávamos que só conseguiríamos respirar em 2023. Agora, acho que 2022 vai ser completamente diferente – disse Rueda.

Andres Rueda, presidente do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Andres Rueda, presidente do Santos — Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

No último fim de semana, o presidente do Santos falou sobre os maiores desafios à frente do clube no primeiro semestre de 2021, analisou negociações polêmicas, como a venda de Luan Peres, e fez planos para o futuro, projetando mais investimento no futebol a partir de 2023.

– Não podemos esquecer nosso objetivo: o futebol. Temos um time competitivo, não está largado, temos uma base promissora. Salários em dia. Hoje eu me orgulho de falar disso. Temos salário e direitos de imagem completamente em dia. Temos parte de premiação atrasada, só, e os jogadores sabem quando e como será paga. É assim que você passa credibilidade. Não adianta só prometer. É prometer e cumprir. Aí você começa a mudar um pouco o cenário.

Veja, abaixo, as perguntas e respostas da entrevista com Andres Rueda:

Presidente, você acaba de completar 200 dias à frente do Santos. Que balanço você faz desse período?

– Se você colocar na balança tudo de positivo e negativo desse período, eu acho que se equilibraram. Tivemos muitas surpresas, mesmo tendo uma visão clara da situação do clube antes de assumirmos. Mas acho que o resultado foi muito bom, no sentido que começamos a equacionar o que estava ruim no clube.

– Conseguimos praticamente renegociar todas as dívidas principais, não só pelo valor, mas por interferir diariamente no dia a dia do clube. São dívidas que prendem receita e te dão transfer ban (proibição da Fifa de contratar novos jogadores). Conseguimos alongar as dívidas, descontos e acordos factíveis de serem cumpridos. Não adiantaria jogar a dívida para a frente e não conseguir honrar.

– Tivemos avanços no futebol. Na parte técnica começamos a implementar critérios de contratações. Não saímos contratando fora das nossas realidades. Temos de errar o mínimo possível. Usamos esses critérios em contratações pontuais que tínhamos de fazer para dar mais corpo ao time. E ficamos satisfeitos. Foram cinco contratações, todas com resultado. Não tivemos nenhuma surpresa. Todos vieram sem custo, sem pagamento de comissão a empresários. Todos vieram praticamente com valor fixado.

– Começamos a mexer na base, com uma política de processos. Nesse período todo, acho que conseguimos mexer em todas as áreas. Parece uma eternidade, mas são praticamente seis, sete meses, com tantos problemas… Conseguimos um patrocínio máster, que era um desejo grande. É um começo de uma batalha do dia a dia. Nosso dia a dia é bem trabalhoso.

Marcos Guilherme foi uma das contratações do Santos em 2021 — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Marcos Guilherme foi uma das contratações do Santos em 2021 — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Quantas horas por dia você fica na Vila Belmiro?

– Eu chego, pontualmente, 8h30 da manhã. Tenho de servir de exemplo. Eu nunca fiz isso nem na minha empresa. Chego 8h30 e aí umas 19h eu saio da Vila. Mas aí continuo de casa. Futebol é todo dia. Sábado, domingo, meia noite, uma da manhã, isso quando não tem algo complicado… Todo dia tem algo novo a ser resolvido. Mas é isso. Temos um esforço grande, mas estamos vendo os resultados.

Se você fosse só torcedor, estaria feliz com o presidente Andres Rueda?

– Muito. Muito feliz. Eu estaria muito, muito, muito feliz. Porque erros óbvio que vão existir. Erros e acertos. Mas eu estaria vendo uma gestão que está dando tudo de si, pensando em primeiro lugar no clube. A curto, médio e longo prazo. Eu não me sentiria traído por essa gestão. Deixamos claro para os sócios: vai ser um período duro para o clube. Vamos ter de cortar na carne. A situação é pior do que podemos imaginar.

– Eu fico espantado com como os sócios deixaram chegar nessa situação. A situação do clube estava e está muito perigosa. Se pegarmos todos os últimos relatórios do conselho fiscal, eles começam sempre assim: “do jeito que está indo, pode ser irreversível”. Estou vendo uma luz no fim do túnel e não é o trem. Vai ser duro em 2021, 2022, mas imaginávamos que só conseguiríamos respirar em 2023. Agora, acho que 2022 vai ser completamente diferente.

– Mas não podemos esquecer nosso objetivo: o futebol. Temos um time competitivo, não está largado, temos uma base promissora. Salários em dia. Hoje eu me orgulho de falar disso. Temos salário e direitos de imagem completamente em dia. Temos parte de premiação atrasada, só, e os jogadores sabem quando e como será paga. É assim que você passa credibilidade. Não adianta só prometer. É prometer e cumprir. Aí você começa a mudar um pouco o cenário.

Andres Rueda se debruça em contratos e acordos no Santos — Foto: Ivan Storti / Santos FC

Andres Rueda se debruça em contratos e acordos no Santos — Foto: Ivan Storti / Santos FC

Nesses seis meses, qual foi o principal nó que sua gestão desatou?

– O principal, que acho que pouca gente percebeu, foi o nó do Profut. Quando entramos, na primeira semana, entrei no sistema para ver como estava nossa situação e vi que estávamos cancelados. Estávamos com cinco mensalidades não pagas. O máximo que permitem é dois ou três meses. Isso assustou muito. Contamos com a ajuda do pessoal de Brasília. E conseguimos contornar a situação pagando à vista as cinco mensalidades em atraso e gerando um comprometimento de que isso jamais aconteceria. Aí conseguimos reverter.

– Outro ponto que assustou foi a parte tributária. Isso não ficou claro no momento de transição, que existia uma dívida de R$ 60 milhões. Foi um ponto que estava fora da curva. Graças aos nossos gestores conseguimos equacionar.

– E temos a Doyen, também. Que, poxa… Resolvemos o problema da Doyen” Isso estava estrangulando o clube. Muitas vezes de fora o pessoal não sente o dia a dia. Eu estava com 100% da receita extraordinária bloqueada. Se eu vendesse um jogador, o dinheiro ia todo para a Doyen. Aí tinha 15% das receitas ordinárias bloqueadas, também. Mas dos 85% tem de descontar uma antecipação de cota de 2020 que foi feita junto ao BMG. Isso estava estrangulando o clube. Foi uma negociação muito dura com a Doyen. Levou quatro ou cinco meses. Mas felizmente conseguimos chegar num acordo.

Você comentou dos salários. Hoje, o Santos, sem precisar vender um jogador e com o elenco que tem, quantos meses consegue pagar de salários e direitos de imagem sem atrasos?

– Falta muito para equilibrar conta. Você só vai poder ter uma tranquilidade a partir do momento que você equilibrou receita e despesa corrente. Enquanto não acontecer, sempre existe uma defasagem. A gente paga muita divida. Só de acordos trabalhistas são R$ 5 milhões por mês. Você vai equilibrando com cota de televisão, campeonato, venda de jogador. Não tem como fugir. Para poder ter fôlego e equilibrar a parte financeira estava previsto que teria de vender jogador. Não tem como mentir para o sócio.

E você falou que não está esquecendo o futebol. Nas redes sociais, as principais críticas à sua gestão são normalmente referentes ao futebol. Sobre mudanças na base…

– Toda crítica que leva em conta um fato real (é justa). Ela tem de existir, é bem-vinda e tem de acontecer. Torcida não tem de estar preocupada com o que tem para pagar. Ela tem de cobrar título, campeonato, jogador. Não tenha duvidas. Porque torcida age com a emoção. A gestão tem de trabalhar com a razão. As coisas não podem acontecer de um dia para o outro.

– A base, que você citou, embora tivéssemos um planejamento, eu não posso simplesmente entrar e sair mudando. Optamos por fazer um trabalho, que não foi tão demorado, de levantar o que estava certo e errado. E aí leva tempo. Ouvimos várias pessoas e começamos a implementar. No futebol, muita gente reclamava que demoramos para ter um executivo.

– Demoramos, mas por quê? Por que no mercado é difícil de achar pessoa técnica e que se adeque ao nosso modelo de pensamento. Não técnico. Pensamento profissional e ético. Não sei como falar sem ofender ninguém. Eu quero ter um gerente executivo que eu tenha a confiança no quesito dolo. Mas é um setor muito difícil de selecionar. Demoramos, mas contratamos certo. Sempre digo que na nossa situação financeira temos de procurar errar o mínimo possível.

Luan Peres foi vendido pelo Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Entre alguns dos negócios da sua gestão está a venda do Luan Peres. Você queria vender o Luan Peres?

– Claro que não (queria vender o Luan). Mas claro que não. Eu contratei o jogador em janeiro. Fui criticado, porque falaram que o valor foi alto. Primeiro, o mercado está muito fechado para transação. O mercado não está comprador. Não chega proposta de nada. O Luan não recebeu uma proposta do futebol europeu. O Luan recebeu uma proposta encabeçada pelo Sampaoli. Não foi algo natural.

– Eu precisava de dinheiro para resolver a Doyen e o Krasnodar, com quem eu fiz um acordo e tenho de pagar 1 milhão de dólares no dia 30 de julho para honrar o acordo. E não cai do céu. Óbvio que tenho de vender o jogador. A proposta que veio foi só aquela do Luan Peres. Não teve outra. Óbvio que eu não queria, mas foi uma necessidade. Eu simplesmente encarei. Até para me confortar com a saída dele, eu pensei: não estou vendendo um jogador, estou resolvendo um problema gravíssimo no clube.

– Por que gravíssimo? Porque depois de cinco meses de negociação com a Doyen, a gente conseguiu chegar num acordo, entre aspas. Eles falaram que iam ceder. Iam aceitar uma parte à vista, parcelar em duas semestrais e o que faltar a gente paga com 15% da venda de futuros jogadores. Se não vender ninguém, não pago. É uma proposta financeiramente muito boa para o clube, mas eu tinha de pagar à vista e não tinha esse dinheiro. Isso nos motivou. Só de conta bloqueada, eu tinha mais de R$ 15 milhões. O juiz já tinha falado para a Doyen pegar e levar embora.

E qual é a situação do clube hoje?

– Não é calma. Ela passou de uma situação completamente descontrolada para uma situação controlada. Controlada em partes. Sabemos o que temos de resolver. Mas ainda é crítica. A parte financeira ainda vamos demorar até 2022 para dizer que está mais tranquila e que vamos poder investir realmente em futebol.

– Não falo só em jogadores. Falo de infraestrutura, embora não estejamos esquecendo do resto. Estamos fazendo coisas em paralelo, não esquecemos da base, da arena, não esquecemos de nada disso. Mas temos um agravante que, queira ou não queira, atrapalha muito. Agora temos de honrar esses acordos que temos feito.

.

.

.

Fontes: Ge – Globo Esporte.

Compartilhe  

últimas notícias