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Presidente do Ibama se demite após ministro questionar contrato de aluguel de caminhonetes

A presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Suely Araújo, pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira

Presidente do Ibama se demite após ministro questionar contrato de aluguel de caminhonetes
Presidente do Ibama se demite após ministro questionar contrato de aluguel de caminhonetes

Redação Publicado em 07/01/2019, às 00h00 - Atualizado às 15h53


No Twitter, ministro do Meio Ambiente questionou o valor de R$ 28 milhões do contrato, que considerou alto. Presidente do Ibama disse que declaração refletia ‘desconhecimento’.

A presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Suely Araújo, pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira (7).

O pedido foi feito um dia após o novo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ter criticado no Twitter um contrato de locação de veículos do órgão.

Suely assumiu o cargo no Ibama no governo do ex-presidente Michel Temer. No pedido de exoneração (leia a íntegra mais abaixo), ela argumentou que, mesmo antes do presidente Jair Bolsonaro assumir, o nome do seu sucessor já vinha sendo “amplamente” comentado na imprensa e dentro do próprio Ibama.

Procurado pelo G1, o Ministério do Meio Ambiente informou que a “substituição da presidente do Ibama já estava prevista” e que a nomeação de Eduardo Bim para o cargo ´”deve sair nos próximos dias”.

Aluguel de caminhonetes

A polêmica em torno do aluguel de caminhonetes começou com uma postagem do ministro do Meio Ambiente no Twitter. Veja a sequência dos fatos:

  • Ricardo Salles questiona valor de contrato

“Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só para o IBAMA….”, escreveu o ministro no Twitter, neste domingo (6).

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Ricardo Salles MMA@rsallesmma

Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só para o IBAMA….

Ele se referia a um contrato do Ibama, assinado em dezembro de 2018, no valor de R$ 28,7 milhões para aluguel de caminhonetes a serem usadas pelo órgão.

  • Bolsonaro comenta declaração de Salles, depois apaga

Também no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro chegou a fazer um comentário sobre a declaração de Ricardo Salles. Ao compartilhar o post do ministro, o presidente disse que o governo está desmontando “montanhas de irregularidades”.

“Estamos em ritmo acelerado, desmontando rapidamente montanhas de irregularidades e situações anormais que estão sendo e serão COMPROVADAS e EXPOSTAS. A certeza é; havia todo um sistema formado para principalmente violentar financeiramente o brasileiro sem a menor preocupação!”, escreveu o presidente.

Texto que Bolsonaro escreveu no Twitter, sobre declaração do ministro do Meio Ambiente, e depois apagou — Foto: Reprodução/Twitter

Texto que Bolsonaro escreveu no Twitter, sobre declaração do ministro do Meio Ambiente, e depois apagou — Foto: Reprodução/Twitter

Depois, Bolsonaro apagou o texto e manteve apenas o compartilhamento da mensagem do ministro.

  • Suely responde por meio de nota divulgada pelo Ibama

No mesmo dia, a presidente do Ibama disse em nota que refutava com “veemência qualquer insinuação de irregularidade na contratação”. Ela explicou que o contrato previa aluguel de 393 caminhonetes adaptadas para fiscalização e atendimento a emergências ambientais (como incêndios), que seriam usadas nos 26 estados e no Distrito Federal. Suely também disse que o contrato foi aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

“A acusação sem fundamento evidencia completo desconhecimento da magnitude do Ibama e das suas funções. O valor estimado inicialmente para esse contrato era bastante superior ao obtido no fim do processo licitatório, que observou com rigor todas as exigências legais e foi aprovado pelo TCU”, disse Suelly na nota.

  • Ricardo Salles diz que não levantou suspeita sobre o contrato

Ainda neste domingo, novamente no Twitter, Ricardo Salles afirmou que não levantou suspeita sobre o contrato, mas quis chamar atenção sobre o valor, que considerou elevado.

“Não levantei suspeita sobre o contrato, apenas destaquei seu valor elevado, conforme meus esclarecimentos na própria postagem. O valor elevado também foi questionado pelo TCU desde abril e, portanto, não precisava ser assinado a dez dias da troca de governo”, escreveu o ministro.

Ricardo Salles MMA@rsallesmma

Não levantei suspeita sobre o contrato, apenas destaquei seu valor elevado, conforme meus esclarecimentos na própria postagem. O valor elevado também foi questionado pelo TCU desde abril e, portanto, não precisava ser assinado a dez dias da troca de governo.

O Antagonista

Ministro do Meio Ambiente levanta suspeita sobre contrato do Ibama https://www.oantagonista.com/brasil/ministro-meio-ambiente-levanta-suspeita-sobre-contrato-ibama/ 

Leia a íntegra do pedido de demissão da presidente do Ibama:

Excelentíssimo Senhor Ministro,

1. Cumprimentando-o cordialmente, sirvo-me do presente para formalizar minha solicitação de exoneração do cargo de Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

2. Considerando que a indicação do futuro Presidente do Ibama, Sr. Eduardo Bim, já foi amplamente divulgada na imprensa e internamente na Instituição ainda em 2018, antes mesmo do início do novo Governo, entendo pertinente o meu afastamento do cargo permitindo assim que a nova gestão assuma a condução dos processos internos desta Autarquia.

3. Assim, comunico que a partir de amanhã, 08 de janeiro, não exercerei mais as funções de Presidente do Ibama. Nesse sendo, solicito que quando da publicação do ato, nele conste que trata-se de exoneração a pedido com efeitos a partir de 08/01/2019.

Respeitosamente, Suely Araújo

Mudanças no Meio Ambiente

Na nova configuração dos ministérios, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro, o Ibama continuou vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Outros órgãos foram transferidos de pasta. É o caso do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), que saiu do Meio Ambiente e foi para a Agricultura. Uma das atribuições do SFB é trabalhar pela recuperação da vegetação nativa e recomposição florestal.

  • Especialista avalia que mudança no Serviço Florestal Brasileiro pode gerar conflitos de interesse
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