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USP investiga pichações de suástica nazista em portas de alojamento estudantil

A Universidade de São Paulo (USP) investiga pichações de suásticas, símbolo do nazismo, feitas em portas de cinco apartamentos do Bloco A do Crusp (Conjunto

USP investiga pichações de suástica nazista em portas de alojamento estudantil
USP investiga pichações de suástica nazista em portas de alojamento estudantil

Redação Publicado em 18/10/2018, às 00h00 - Atualizado às 16h00


Segundo alunos, cinco apartamentos do Bloco A do Crusp foram alvos dos ataques na madrugada desta quarta (16). USP informa que está apurando o caso em São Paulo.

A Universidade de São Paulo (USP) investiga pichações de suásticas, símbolo do nazismo, feitas em portas de cinco apartamentos do Bloco A do Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo), alojamento estudantil da Cidade Universitária, na Zona Oeste da capital paulista.

Os estudantes criaram comitês de segurança para cada andar dos prédios após o caso ter sido revelado na quarta-feira (17) pelos próprios estudantes nas redes sociais.

Em uma das imagens postadas no Facebook, além do desenho nazista, há a frase “Volta para Bolívia”. Alunos ouvidos pelo G1 disseram que os ataques nas portas dos apartamentos começaram na terça-feira (16), com pichações misóginas e homofóbicas acompanhadas dos nomes de alunos da moradia estudantil. Na quarta, relataram ter visto as suásticas.

“Ninguém sabe como aconteceu. Acordamos e tinha a violação nas portas”, disse à reportagem uma estudante de Artes Dramáticas que reside no alojamento e compartilhou as fotos em seu perfil, mas não quis ser identificada.

O apartamento em que a jovem mora não foi alvo, mas ela também levou a denúncia à Segurança Universitária e direção da faculdade. “A segurança da USP está ciente, eles falaram que já tiraram fotos e passaram as informações para a reitoria”.

Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da USP informou que “está apurando os fatos”.

Alunos denunciam pichações nazistas em Bloco A do Crusp  — Foto: Kleber Tomaz/G1

Alunos denunciam pichações nazistas em Bloco A do Crusp — Foto: Kleber Tomaz/G1

Liberdade democrática

O G1 esteve no campus 1 da USP nesta quinta-feira (18) e visitou os locais onde ocorreram as pichações no Bloco A do Crusp. Alguns moradores já apagaram a maior parte das ofensas e símbolos. Eles ainda não sabem quem pichou os alojamentos onde moram cerca de 200 pessoas.

“Cada um tem a liberdade de se posicionar democraticamente como quiser, desde que não agrida, intimide ou hostilize os outros. Não pode é pichar a porta das pessoas como ocorreu com esses símbolos de suástica e ofensas contra gays”, reclamou uma aluna.

Apartamento do CRUSP amanheceu com suástica e frase xenófoba pichada  — Foto: Reprodução/Facebook

Apartamento do CRUSP amanheceu com suástica e frase xenófoba pichada — Foto: Reprodução/Facebook

Reivindicações

Um estudante, que mora em um dos apartamentos alvo dos ataques, relatou em seu perfil no Facebook que levou o caso à assistência social da USP. No texto, ele reclama do atendimento recebido.

“Não sabemos se essas suásticas estão direcionadas a nós. Porque foram cinco apartamentos que apareceram. Todo caso, estamos de alerta, já fiz uma denúncia para a segurança de assistência social do CRUSP – que foi omissa como sempre, disse que não pode fazer nada só a PM”, relatou o aluno.

Na postagem, ele cita o histórico do bloco e as reivindicações com relação ao serviço. De acordo com o estudante, os alunos que foram expulsos da instituição em 2011 por participarem da ocupação de uma sala da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) da USP, em protesto contra serviço de assistência social, residiam no alojamento pichado.

“Lembrando que esse bloco, o qual apareceram as suásticas tem um histórico de lutas de esquerda, grande parte dos estudantes que foram expulsos em 2011/2012 moravam nesse bloco. Acompanhei todo esse processo e sou prova viva para testemunhar. Seguimos na luta!”, diz o texto.

Portas de apartamentos do CRUSP são pichadas com suástica — Foto: Reprodução/Facebook

Portas de apartamentos do CRUSP são pichadas com suástica — Foto: Reprodução/Facebook

LGBTs e outras minorias

O prédio do Bloco A do Crusp tem seis andares, sendo 11 apartamentos por andar, não possui câmeras de segurança e a portaria fica descoberta, segundo eles, por falta de funcionários no turno da noite e da madrugada. As pichações ocorreram no terceiro, quarto, quinto e sexto andares.

O bloco ainda é conhecido principalmente como “bloco das mães” por abrigar moradoras com filhos. Também moram LGBTs, negros, nordestinos e estrangeiros.

“As pessoas que estão mais vulneráveis são as negras, homossexuais. O clima dentro do CRUSP não está diferente do que está acontecendo fora. É um clima de insegurança geral gerado pela onda de fascismo, intolerância, desrespeito. E tem um líder político incitando essas pessoas, que é deputado Jair Bolsonaro (PSL)”, comentou um dos estudantes.

Alojamentos pichados com símbolo nazista na USP — Foto: Reprodução/Facebook

Alojamentos pichados com símbolo nazista na USP — Foto: Reprodução/Facebook

Suspeitos

A Universidade e os alunos ainda não identificaram os responsáveis pela pichação, mas os alunos chegaram a cogitar o nome de um dos moradores, que teria distúrbio mental e é considerado antissocial por frequentemente se envolver em problemas de relacionamento com os demais, ou até mesmo algum outro aluno adepto do candidato Bolsonaro.

Outra possibilidade, levantada pelos estudantes, é a de que o responsável pelo ataque seja alguém de fora do campus, que nem mesmo possa ser aluno da USP. “Isso preocupa e nos deixa mais inseguros”, falou uma estudante, que também pediu anonimato. “Se o responsável pelas pichações for daqui de dentro, resolvemos internamente, conversando. Se ele for de fora é outra história”.

Entrada do Bloco A do Crusp não tem porteiro 24 horas, segundo alunos — Foto: Kleber Tomaz/G1

Entrada do Bloco A do Crusp não tem porteiro 24 horas, segundo alunos — Foto: Kleber Tomaz/G1

Comitês de segurança

Com medo, os alunos se reuniram na quarta com a Amorcrusp (Associação de Moradores do Crusp). Durante a assembleia, assinaram um abaixo assinado pedindo providências da USP e decidiram criar comitês de segurança para cada um dos andares atacados.

“É preciso contratar mais porteiros. Atualmente há poucos porteiros e eles têm de se revesar na portaria de outros blocos para monitorar a entrada e saída de alunos”, criticou uma universitária.

“Nem dormi nesta noite de quarta e madrugada de quinta. Fiquei acordado fazendo vigilia no andar onde moro com meu filho”, disse um aluno, membro do Amorcrusp, que ficou responsável por vigiar seu andar para evitar novos ataques. “Não sabemos com quem estamos lidando”.

Eles analisam a possibilidade de vir a registrar um boletim de ocorrência para denunciar a intolerância vista nas pichações. “É preciso que a Polícia Civil investigue isso”, disse um morador que teve a porta pichada. “As vítimas vão se reunir e deverão procurar uma delegacia na companhia de um advogado para prestar queixa”.

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