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O lado sombrio do chocolate que você come

Imagem O lado sombrio do chocolate que você come

Redação Publicado em 08/07/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h46


O chocolate é provavelmente a guloseima mais popular do mundo.

E parece que pouca gente resiste a esta iguaria — nós consumimos mais de 7 milhões de toneladas anualmente. É quase 1kg para cada pessoa que habita o planeta.

Mas este apetite tem efeitos colaterais sinistros, como vários documentários, incluindo The Dark Side of Chocolate (2010), já apontaram.

A indústria do chocolate vendo sofrendo pressão há muito tempo para resolver questões éticas e de sustentabilidade, como o desmatamento e o uso de trabalho infantil na colheita do cacau, de onde vem a iguaria.

Mas como a indústria está lidando com estas questões, que lançam uma grande sombra sobre um negócio tão lucrativo?

Sustentabilidade: de onde vem o chocolate?

Uma das principais questões da indústria do chocolate é o fato de que os grãos de cacau, matéria-prima do chocolate, estão longe de ser abundantes.

O cacau, a matéria-prima do chocolate, só cresce em condições climáticas bastante específicas — Foto: Getty Images via BBC

O cacau, a matéria-prima do chocolate, só cresce em condições climáticas bastante específicas — Foto: Getty Images via BBC

Os cacaueiros são bastante sensíveis e requerem alta pluviosidade e temperatura para crescer, além de cobertura florestal para protegê-los da luz e do vento. É por isso que só alguns países oferecem estas condições.

Apenas duas nações da África Ocidental — Costa do Marfim e Gana — são responsáveis ​​por quase 52% dos grãos de cacau colhidos em todo o mundo, segundo dados do braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para alimentação e agricultura, a FAO.

Outros países da região, como Nigéria e Camarões, ajudam a elevar a participação da África para quase 69%.

Outros países da região, como Nigéria e Camarões, ajudam a elevar a participação da África para quase 69%. — Foto: FAO/BBC

Outros países da região, como Nigéria e Camarões, ajudam a elevar a participação da África para quase 69%. — Foto: FAO/BBC

Mudanças climáticas e desmatamento

A mudança climática é uma grande preocupação, já que a expectativa é de que eleve as temperaturas e aumente os períodos de seca na África Ocidental, o que é uma má notícia para os produtores de cacau.

Outro problema é o desmatamento: os produtores muitas vezes não hesitam em avançar sobre áreas florestais.

Ambientalistas dizem que o cultivo de cacau é um dos principais culpados por trás do assombroso índice de desmatamento na Costa do Marfim — dados do Banco Mundial mostram que o país perdeu 80% de sua cobertura florestal nos últimos 50 anos. É uma das maiores taxas de desmatamento do planeta.

O desmatamento e o cultivo de cacau muitas vezes andam de mãos dadas — Foto: Getty Images via BBC

O desmatamento e o cultivo de cacau muitas vezes andam de mãos dadas — Foto: Getty Images via BBC

E a floresta ainda está ameaçada. O grupo ambientalista Mighty Earth, com sede nos Estados Unidos, que mapeia o desmatamento com a ajuda de dados de satélite, afirma que o país africano viu uma área florestal de 470 km² desaparecer só em 2020.

Mas o desmatamento está fortemente ligado às mudanças climáticas, que no longo prazo ameaçam os meios de subsistência dos mesmos agricultores.

Michael Odijie, pesquisador da University College London (UCL), no Reino Unido, especializado na indústria de cacau da África, acredita que uma simples economia está conduzindo este círculo vicioso.

“Há um enorme custo ecológico envolvido no cultivo de cacau. Infelizmente, isso provavelmente continuará porque o custo de produção de cacau em área florestal (mata virgem) é menor do que em campos, e os preços [do cacau] são muito baixos para uma produção sustentável”, diz Odijie à BBC.

Ritmo da destruição da área florestal na Costa do Marfim — Foto: Banco Mundial/Mighty Earth/BBC

Ritmo da destruição da área florestal na Costa do Marfim — Foto: Banco Mundial/Mighty Earth/BBC

Mas a indústria diz que está tomando medidas para corrigir seus atos.

A gigante de confeitaria Mars, a maior vendedora de chocolate do mundo, com sede nos Estados Unidos, afirmou à BBC que implementou medidas para tornar sua cadeia de suprimentos de cacau mais sustentável, o que inclui ter cacau totalmente “livre de desmatamento” até 2025.

“O cacau de origem ilegal não tem lugar na cadeia de suprimentos da Mars”, disse em nota.

A Mars também observou que faz parte da Cocoa and Forest Initiative, uma parceria público-privada com os governos da Costa do Marfim e de Gana que visa acabar com o desmatamento e restaurar áreas florestais nestes países.

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