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Mãe de adolescente esfaqueada diz que não vai esquecer imagem da filha morta: ‘Não sai da minha cabeça’

Mãe da adolescente Tamires Paula de Almeida, de 14 anos, morta a facadas nas escadas do prédio onde morava, em Goiânia, a recepcionista Maria Paula de

Mãe de adolescente esfaqueada diz que não vai esquecer imagem da filha morta: ‘Não sai da minha cabeça’
Mãe de adolescente esfaqueada diz que não vai esquecer imagem da filha morta: ‘Não sai da minha cabeça’

Redação Publicado em 01/09/2017, às 00h00 - Atualizado às 15h31


Dias após assassinato de Tamires Almeida, de 14 anos, recepcionista conta que está abalada e quer procurar atendimento psicológico. Suspeito do crime é vizinho da vítima, de 13.

Mãe da adolescente Tamires Paula de Almeida, de 14 anos, morta a facadas nas escadas do prédio onde morava, em Goiânia, a recepcionista Maria Paula de Almeida, de 43, diz que não consegue esquecer o dia em que a filha morreu. Ela recorda que viu o corpo dela e se desesperou. “Não vou conseguir esquecer a imagem dela caída na escada”, afirmou.

Suspeito de cometer o ato infracional, um vizinho de prédio e colega de escola da vítima, de 13 anos, confessou ter esfaqueado a menina ao coordenador do colégio. Ele foi apreendido em seguida e está internado temporariamente.

Ao lembrar da morte da filha, Maria Paula disse que, naquele dia, a adolescente se despediu normalmente e saiu para ir à escola. Algum tempo depois ela ouviu gritos de uma mulher que batia contra a parede. Assim, Maria saiu do apartamento para ver o que estava acontecendo.

“Pediram para eu levar uma cadeira para essa senhora. Ela era a mãe do menino que matou minha filha, mas até então eu não sabia. Na hora não estava entendendo nada, a polícia chegou e entraram na escada. Até que vi o chinelo branco dela perto da porta. Me aproximei mais e vi minha filha em cima de uma poça de sangue”, contou.

Desesperada, Maria conta que gritava e pedia ajuda para quem estivesse lá, para que verificassem se a menina ainda estava viva.

“Ela morreu sozinha, na escada. Estava tão perto de mim e eu não pude fazer nada. Ela deve ter gritado, pedido por socorro e eu estava a metros dela. Até hoje eu finjo que estou vivendo um pesadelo”, lembrou, emocionada.

A mãe se recordou ainda que protegia a filha de todas as formas possíveis, não permitindo que ela saísse sem supervisão de adultos, ou à noite. Ela conta que tinha muito medo de violência. “Eu não moro em casa por medo de assalto. Não imaginava que estava morando no mesmo prédio que um assassino”, desabafou.

A recepcionista relata que está muito abalada desde então e tem contado com ajuda de parentes e amigos. Ela declara que não consegue mais viver no prédio onde filha foi morta e deve se mudar.

Convencida de que o vizinho premeditou o crime, ela pede para que o autor pague pela morte da filha e tenta entender os motivos do assassinato.

“Não tem motivo nenhum para ele fazer isso. Ela era só uma criança, cheia de sonhos, de vontade de viver. Não o vejo como um doente, vejo como um criminoso. Quero que ele fique preso os três anos, que é o que lei permite. Vou sobreviver para lutar por justiça pela minha filha”, declarou.

Questionada se perdoaria o autor pela morte da filha, ela disse: “Não sei responder isso agora. Ele deu uma facada na boca dela até o queixo. Ele não tirou só a vida dela, tirou a beleza dela também”.

Abalada, mãe de adolescente morta a facadas pede por justiça, em Goiânia

Abalada, mãe de adolescente morta a facadas pede por justiça, em Goiânia

Lembranças

Maria recordou que a filha estava esperando o boletim escolar sair, já que havia combinado com os padrinhos de receber R$ 10 para cada nota 10. Após a morte da adolescente, a mãe buscou os resultados da filha na escola, que comprovam a dedicação dela aos estudos.

“Ela era ótima aluna. Estava sempre lendo, tinha pilhas e pilhas de livros. Ela queria ser psicóloga, já estava se preparando para fazer o Enem. Era uma menina muito boa, tinha uma alma boa”, disse.

Além do esforço na escola, a mãe recorda que a filha gostava muito de se arrumar e incentivava a mãe a se cuidar também. “Ela era ótima maquiadora. Fazia maquiagem nela e falava: ‘Vem cá, mãe’, para fazer em mim também. Só as unhas que eu não deixava ela fazer”, contou.

Tamires Paula de Almeida, de 14 anos, foi morta a facadas (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Tamires Paula de Almeida, de 14 anos, foi morta a facadas (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

A mãe recorda ainda que se mudou para o prédio onde moravam pensando na filha, que estava saindo de Pires do Rio para ir viver com ela, em Goiânia.

“Eu morava em outro bairro, era um lugar mais afastado, feio. Pensei que quando ela mudasse para cá ia querer estar num setor mais bonito, por isso comprei esse apartamento. Esse um ano e meio que moramos juntas foi maravilhoso. Éramos só nós, eu estava ensinando ela a cozinhar, porque se quando ela ficasse moça quisesse morar sozinha, já ia saber”, lembrou.

O corpo de Tamires foi velado na Casa de Velórios de Pires do Rio na quinta-feira (24). Cerca de 200 pessoas estiveram no local para se despedir. O enterro ocorreu às 11h, no Cemitério Explanada. Muito abalada, a mãe dela passou mal, precisou ser amparada e foi retirada do local antes do fim da cerimônia.

Na terça-feira (29), foram realizadas missas de sétimo dia em homenagem à estudante em Goiânia e em Pires do Rio. Na capital, amigos e vizinhos compareceram para lembrar a adolescente. Já na cidade onde ela nasceu e vive a maioria dos familiares, parentes participaram da cerimônia.

Mãe guarda lembranças da filha Tamires (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Mãe guarda lembranças da filha Tamires (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Investigação

Tamires foi morta na última quarta-feira (23). De acordo com a Polícia Civil, o menino desceu de elevador até o 5º andar do prédio, puxou a menina e a arrastou até a escada de incêndio, onde a esfaqueou. Após ir até a escola e comunicar o crime ao coordenador, o menor foi apreendido.

Imagens de câmeras de segurança mostram o garoto logo após a morte da vizinha (assista abaixo). Primero, ele aparece dentro do elevador olhando a camiseta e as costas, pelo espelho. Em seguida entra um homem com o filho e o menino demonstra nervosismo e olha para as mãos. Ao elevador abrir, ele sai rápido do prédio, pulando os degraus em direção à escola onde ele e Tamires estudavam.

Vídeo mostra menor suspeito de matar vizinha entrando em elevador após o crime, em Goiânia

Vídeo mostra menor suspeito de matar vizinha entrando em elevador após o crime, em Goiânia

O delegado responsável pelo caso, Luiz Gonzaga Júnior, afirmou que o menino confessou o ato infracional durante conversa informal. No depoimento formal, colhido ainda na Central de Flagrantes, ele foi orientado por seu advogado a ficar em silêncio.

Na última quinta-feira (24), o Juizado da Infância e Juventude de Goiânia acatou o pedido do Ministério Público e decretou a internação provisória. Ele já está recolhido em um centro de internação.

O delegado acredita que o adolescente premeditou o ato. “A investigação aponta que ele já planejava esse crime desde o seu aniversário [em junho], quando recebeu um dinheiro da família como presente, comprou uma faca e desde então a levava para a escola. Ele tinha como alvos três adolescentes do sexo feminino, que são pessoas mais vulneráveis e facilitaria a execução do crime por parte dele”, explicou.

A faca e a camiseta do garoto, ambas com manchas de sangue, foram recolhidas e serão periciadas. O delegado disse que o menor apresentava um comportamento frio e não demonstrava arrependimento durante a conversa. Ele também não explicou o motivo de ter atacado a vítima, diferentemente do que vislumbrava em relação aos outros dois alvos.

Reação

Segundo o advogado da família, Agnaldo Ramos, o adolescente se mostrou arrependido do crime durante um encontro com os pais, na última sexta-feira (25). “Nesse encontro com a mãe e com o pai ele manifestou arrependimento. Ainda disse mais: Caiu a ficha, mãe”, afirmou em entrevista à TV Anhanguera.

A mãe do adolescente já havia dito que entende que o filho deve ser responsabilizado pelos atos. Abalada, ela tenta entender o que aconteceu e as razões que o levaram a cometer o ato. Ela contou ao G1 que viu o corpo da vítima na escadaria do prédio. Na hora, ela disse que teve um “apagão” e desmaiou, sofrendo um princípio de AVC.

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