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SAÚDE MASCULINA

Quais os principais cuidados com a saúde masculina?

Pedimos para o urologista, Prof. Dr. Ariê Carneiro, detalhar todos os cuidados precisos do nascimento à terceira idade

Saúde masculina. - Imagem: Freepik
Saúde masculina. - Imagem: Freepik
Marina Roveda

por Marina Roveda

Publicado em 01/12/2022, às 11h18


Diferentemente da população feminina, os homens não possuem o hábito de terem uma rotina de acompanhamento preventivo da saúde. Em geral, os homens apenas procuram o serviçode saúde quando apresentam algum sintoma.

A campanha “novembro azul” iniciou-se com o objetivo de conscientizar o homem da importância da realização de exames “preventivos” do câncer de próstata, no entanto, esta campanha foi crescendo de forma significativa e apresentando grande impacto social. Atualmente, a campanha se tornou mais abrangente, incluindo todo o ciclo de cuidados nas deferentes faixas etárias dos homens.

Para conversar um pouco mais sobre este tema, convidamos nosso colunista Prof. Dr. Ariê Carneiro.

*Diário: Na infância, quais os cuidados especiais com a saúde masculina?

*Dr Ariê: Desde a primeira infância toda criança deve passar por uma avaliação recorrente de suas genitálias. De forma geral, os pediatras acabam tendo esta incumbência, mas é de fundamental importância que os pais e mães também aprendam a observar e identificar sinais de alerta. Algumas patologias frequentes na infância, quando diagnosticadas precocemente, podem ser tratadas e, com isso, evitar sequelas futuras para a criança. Dentre as doenças, vou destacar aqui duas que considero mais frequentes e relevantes na infância:

  • 1) Criptorquidia (“testículo escondido”): Trata-se da condição em que o testículo não se encontra na sua posição habitual dentro do escroto, podendo ocorrer em um ou ambos os lados. Se não tratado adequadamente, pode aumentar o risco de infertilidade e a incidência de câncer de testículo. O tratamento pode ser medicamentoso através de reposição hormonal ou através de fixação cirúrgica (orquidopexia). Deve ser realizado entre 6 e 12 meses de vida para evitar problemas futuros já mencionados. Portanto, se não conseguir identificar o testículo dentro do “saquinho” do bebê ou da criança, um especialista deve ser consultado.
  • 2) Fimose: Trata-se do fechamento/estreitamento do prepúcio (“pele que recobre a glande”) que pode dificultar ou impossibilitar a exposição da glande. A maioria dos meninos nascem com esta condição e com o passar dos meses ocorre uma abertura natural. Em alguns meninos essa condição pode persistir para a segunda infância e impactar na higiene local. A fimose pode estar relacionada a infecções locais, aumento da incidência de doença sexualmente transmissível, com obstrução do fluxo urinário e, em casos extremos, ao câncer de pênis. O tratamento na primeira infância, em geral, é através do uso de pomadas e massagem local. Em alguns casos, pode ser necessário o procedimento cirúrgico de retirada do prepúcio (cirurgia de postectomia). Trata-se de um procedimento de baixa complexidade e pode ser realizado em qualquer idade.

Portanto, mães e pais, é de fundamental importância avaliar o pênis e os testículos dos bebês, seja no banho ou na troca de  fraldas. Em crianças maiores, devemos ensiná-los a higienizar de forma correta as genitais, bem como avaliar sinais de alerta. Em caso de dúvida procurar um especialista.

*Diário: Na adolescência quais os cuidados especiais com a saúde masculina?

*Dr. Ariê: Nesta fase da vida o menino passa a entender melhor as genitais e terão início as atividades sexuais. Assim como as meninas começam a ir ao ginecologista, é de fundamental importância que os pais também levem os meninos a um urologista. Nesta consulta, o especialista além de examinar as genitálias já reforça para o adolescente a importância da higiene genital e como ela deve ser realizada. Também já ensina a realizar o “autoexame” nos testículos e inicia uma orientação ao menino a respeito do início da atividade sexual, bem como prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

O câncer de testículo é mais frequente na população adulta jovem e adolescente, e com isso é de fundamental importância que se oriente os jovens a sempre apalpar os testículos e, em caso de alteração de tamanho ou consistência, imediatamente comunicar o pai ou mãe e procurar um especialista.

Importante destacar que, de forma geral, culturalmente os meninos e homens tem receio ou vergonha de conversar sobre as genitais e vida sexual bem como as doenças relacionadas. Com isso, muitos pacientes são diagnosticados de forma tardia e, com isso, perdem a possibilidade de tratamentos mais simples.

Assim, gostaria de reforçar e pedir aos pais, mães e responsáveis que conversem com seus filhos e deem a eles a liberdade de falar sobre esses temas. Em caso de dúvida ou dificuldade nessa abordagem, procure um especialista.

*Diário: Nos homens adultos, entre 20 e 50 anos, quais os cuidados especiais com a saúde masculina?

*Dr. Ariê: Apesar de os homens, na fase adulta, já terem uma vida independente, os tabus em relação aos genitais e sexualidade ainda continuam em muitas pessoas. Nesta fase devemos continuar a realizar o autoexame no pênis e testículos e a qualquer alteração um especialista deve ser consultado. A população masculina adulta jovem é a mais frequentemente acometida pelo câncer do testículo que, quando diagnosticado precocemente, tem chances altíssimas de cura.

Nesta faixa etária é onde os homens mais comumente vivenciam as doenças sexualmente transmissíveis, alterações hormonais e de desempenho sexual.

A ejaculação precoce e a disfunção erétil podem já aparecer e, em geral, nesta faixa dispomos de diversas alternativas para tratar.

Nos últimos anos, temos observado uma crescente demanda cultural em busca de medicamentos para aumentar o rendimento, tanto profissional como sexual e física. Muitos destes medicamentos podem, a longo prazo, gerar impacto negativo na saúde. Por isso, é de fundamental importância antes de fazer uso de qualquer tipo de medicação, procurar um especialista.

Hoje, observamos muitos profissionais da área da medicina “vendendo” soluções mágicas e resultados a curto prazo mas, em geral, os riscos nem sempre são bem expostos. Com isso, o paciente acha que está fazendo tudo correto e com orientação de um médico. Assim, sugiro que pesquisem a formação dos especialistas; se possuem residência médica validada pela AMB e, em caso de dúvida, consulte uma segunda opinião. 

Importante destacar que todo tipo de manipulação hormonal pode sim trazer consequências muitas vezes irreversíveis.

Sim, todos nós queremos ter músculos mais evidentes e melhor desempenho sexual em curto prazo. Mas é importante reforçar sempre as consequências, que raramente são discutidas com profundidade por médicos que prestam “assessoria” na reposição de testosterona.

A reposição hormonal pode estar relacionada ao aumento de incidência de cânceres, além de infertilidade irreversível. Por isso, reforço: estar fazendo reposição supervisionada por um médico não significa estar livre das consequências. Procure sempre conversar e se aprofundar nas possíveis consequências a longo prazo dos tratamentos e, na dúvida, procure uma segunda opinião com um especialista.

Com isso, sempre oriento a todos os homens dos 20 aos 50 anos a, sempre que tiverem qualquer dúvida ou pelo menos a cada 3-5 anos, passem em um urologista de confiança da família para conversar e tirar dúvidas. A medicina preventiva sempre é o melhor caminho. É muito mais coerente ir ao médico e ele dizer que não tem nada relevante do que deixar de ir e perder a chance de curar ou reverter alguma doença.

*Diário: Nos homens adultos acima de 50 anos, quais os cuidados especiais com a saúde masculina?

*Dr. Ariê: Nesta faixa etária devemos dar destaque ao câncer de próstata, hiperplasia prostática benigna (HPB), doença androgênica do envelhecimento masculino (DAEM) e disfunção erétil.

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, todos os homens a partir dos 50 anos devem passar anualmente no urologista para uma avaliação de rotina. Homens da raça negra ou com antecedente familiar de câncer de próstata devem iniciar seus exames de rastreamento com 45 anos.

O câncer de próstata é o câncer sólido (excluindo os de pele) mais frequente na população masculina. Nos últimos anos observamos um grande aumento no conhecimento biológico desta doença bem como estamos vivenciando uma grande revolução tecnológica que tem permitido tratamentos cada vez menos invasivos e com menos sequelas aos pacientes. Devemos destacar, que nem todos os tumores de próstata possuem um comportamento agressivo e, com isso, casos iniciais podemos até acompanhar através de uma vigilância ativa, sem realizar um tratamento ativo. Para casos mais avançados podemos lançar mão da cirurgia robótica e procedimentos minimamente invasivos como a terapia focal com HIFU, além de equipamentos de radioterapia de última geração; esses permitem altas taxas de cura e com manutenção da qualidade de vida na maioria dos pacientes.

Importante destacar que, quanto mais precoce o diagnóstico, menos invasivo e mais simples é o tratamento. A terapia focal do câncer de próstata com HIFU, é um tratamento que permite manter a ereção e continência em praticamente todos os pacientes, no entanto, só pode ser realizado em casos muito iniciais. O câncer de próstata não se relaciona com sintomas urinários e por isso devemos passar por avaliação de rotina mesmo sem ter qualquer sintoma.

Neste mesmo momento da vida do homem também é comum observarmos o aumento da frequência de disfunção erétil e redução do nível de testosterona. Devemos lembrar que a medicina evoluiu muito permitindo uma maior longevidade da vida sexual nos homens. Para disfunção erétil dispomos de medicamentos orais, medicamentos injetáveis e próteses. Importante destacar que antes de iniciar qualquer tipo de tratamento para disfunção erétil um especialista deve ser consultado.

A hiperplasia prostática benigna, é o aumento benigno da próstata que pode “fechar” o canal da urina e prejudicar a micção. Trata-se de uma afecção que todos os homens vão vivenciar e pode ser ou não sintomática.

Os sintomas mais frequentes são: Aumento da frequência urinaria (diurna e noturna), urgência miccional, urge-incontinência, perda da força do jato urinário, dificuldade em iniciar a micção, entre outros. Estes sintomas, quando presentes, podem impactar de forma significativa na qualidade de vida.

O tratamento da HPB pode ser realizado com medicamento, e em casos refratários existem procedimentos minimamente invasivos que podem ser realizados.

*Diário: Obrigado doutor pela entrevista.

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