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COLUNA

Furacão Milton revela a falta de escrúpulos dos políticos ao usar tragédias

Furacão Milton revela a falta de escrúpulos dos políticos ao usar tragédias - Imagem: Reprodução | YouTube
Furacão Milton revela a falta de escrúpulos dos políticos ao usar tragédias - Imagem: Reprodução | YouTube
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 13/10/2024, às 09h37


Na política, vale dedo no olho e golpe abaixo da cintura. Ou seja, vale tudo para vencer eleições. E não há inocente nessa peleja. De uma extrema ideologia a outra, assim surgem as oportunidades: miram a artilharia pesada contra os adversários sem dó nem piedade

Nesses momentos de sofrimento, a comoção é generalizada, as pessoas buscam rapidamente um culpado. Não há muita razão nessa história, pois o que precisam mesmo é identificar um “responsável”.

O furacão Milton

Podemos nos lembrar de algumas campanhas em São Paulo. Os analistas diziam que, se chovesse, as chances de o governo de turno vencer o pleito seriam reduzidas. E falavam assim sem a menor cerimônia, como se fosse o comentário mais natural do mundo.

Nos Estados Unidos apareceu agora o furacão Milton. Dizem ser um dos mais catastróficos da história americana. Como não poderia deixar de ser, Trump já ajeitou o topete laranja e passou a criticar a administração Biden. Fez acusações sérias sobre os valores que seriam repassados aos sobreviventes.

As acusações de Trump

Biden contestou de imediato, alegando que esses ataques não passam de fake news. Tenta mostrar as inverdades divulgadas pelo opositor e esclarece o que efetivamente deseja fazer. Mas como notícia ruim corre mais depressa que as boas, muitos eleitores já estão assustados com as informações que receberam.

O governo afirma que o adversário deseja provocar pânico no país e que tudo não passa de narrativa falsa. Toda essa celeuma ocorre às vésperas das eleições. Essa troca de acusações pode favorecer Trump. E como a disputa entre ele e Kamala Harris está apertada, o descontentamento por parte da população pode influenciar nas urnas.

As acusações de Biden

Biden não agiu de forma diferente quando Trump estava no poder. Atuando na oposição e de olho na Casa Branca, atribuiu ao então governo toda a culpa pela pandemia da COVID-19. O opositor de Trump não deu tréguas ao inimigo: “Ele desistiu da América. Ele só quer que fiquemos paralisados”. E prometia mundos e fundos para acabar rapidamente com a doença.

Trump tentava se defender. Acusava Biden e outros democratas de reagirem de maneira exagerada à pandemia e que assim prejudicavam a economia. Certo ou errado, com ou sem razão, por todos os motivos que poderiam ser destacados, não há dúvida de que aquele período pandêmico foi decisivo para a troca de governo.

Um exemplo tupiniquim

Não foi diferente aqui no Brasil. Talvez tenha sido até pior, pois além de todas as histórias que não se sustentavam, os opositores passaram a chamar Bolsonaro de genocida. E como vimos, em momentos de desespero, as pessoas acreditam no que ouvem. Tanto é verdade que, mais de dois anos depois, o ex-presidente ainda precisa se defender dessas acusações.

O certo é que ninguém pode reclamar. Ou até pode, mas se não olhar para o espelho. Trump tem contado com alguns aliados de última hora. Primeiro foi o tiro que recebeu na orelha. Todos imaginavam que aquele fato poderia ser decisivo para a vitória do republicano.

O melhor dos argumentos

Afinal, ser alvo de um atentado em que o candidato é atingido próximo da cabeça e sai ferido diante da multidão e das câmeras de televisão era o melhor dos argumentos que um candidato poderia desejar. Não há plataforma política nem argumento de campanha que possa ser mais eloquente para quem deseja conquistar a vitória.

Estranhamente, entretanto, assim que Kamala foi indicada pelos democratas, a tentativa de assassinato sumiu da imprensa. Davam pequenas notas de rodapé, mas sem nenhum alarde que pudesse continuar a comover a população. O assunto nasceu e morreu em pouco tempo. A candidata democrata era a principal notícia.

Novo atentado

Pouco tempo depois, no dia 15 de setembro, próximo ao Aeroporto Internacional de Palm Beach, um membro da equipe de Trump viu um rifle entre os arbustos nas imediações do sexto buraco de um campo de golfe. O ex-presidente foi rapidamente retirado do local.

Com o suspeito, encontraram o rifle com mira telescópica, capaz de atingir um alvo a 400 metros de distância. Se a história de parte da orelha arrancada havia caído no esquecimento, esse novo episódio reacendeu para a população o papel de vítima do ex-presidente. Era tudo o que Kamala Harris não desejava naquele momento.

Agora surge Milton, o furacão que está sensibilizando e amedrontando as pessoas, e fornecendo a Trump uma munição renovada para as suas investidas contra o governo atual. Se vai funcionar ou não, é uma incógnita que será decifrada em poucos dias.

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