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Inclusão

Pela 1° vez na história, Constituição brasileira é traduzida para idioma indígena

Grupo de 15 indígenas fez a tradução para o nheengatu

Pela 1° vez na história, Constituição brasileira é traduzida para idioma indígena - Imagem: Supremo Tribunal Federal
Pela 1° vez na história, Constituição brasileira é traduzida para idioma indígena - Imagem: Supremo Tribunal Federal

Nathalia Jesus Publicado em 25/07/2023, às 08h24


Mais de três décadas depois de ser promulgada, a Constituição brasileira ganhou uma versão traduzida para uma língua indígena: o nheengatu.

Patrocinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a nova versão da Carta Magna foi lançada nesta quarta-feira (19) no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), em uma cerimônia na maloca da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN).

Chamada para representar o STF no evento, a ministra Rosa Weber disse que a tradução é um marco para a história do país. “Traduzir a Constituição para um idioma indígena é um símbolo do nosso compromisso de garantir que todos os povos indígenas tenham acesso à justiça e conhecimento das leis que regem nosso país, fortalecendo sua participação na vida política, social, econômica e jurídica”.

Um grupo com 15 indígenas bilíngues da região do Alto do Rio Negro e Médio Tapajós foi responsável pela tradução da Constituição, em uma ação ao marco da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) das Nações Unidas. 

Segundo informações da Agência Brasil, o último levantamento de língua indígenas do Brasil registrou que as 305 etnias existêntes no país mantêm vivos 274 idiomas.

“(As línguas) conseguiram sobreviver mesmo diante de sucessivos ataques desde o início do processo de colonização desse território, que já era casa de inúmeros povos indígenas antes de ser chamado de Brasil. Por isso, preservar e valorizar a diversidade linguística brasileira é fundamental para a construção de uma sociedade plural e inclusiva”, salientou a ministra Rosa Weber.

A presidente do STF também disse que a escolha da língua nheengatu se deu devido a importância dela para região amazônica. “Partiu da percepção de que esta língua historicamente permitiu a comunicação entre comunidades de distintos povos espalhados em toda a região amazônica, até a fronteira com o Peru, Colômbia e Venezuela, e chegou, segundo historiadores, a ser prevalente no Brasil, até ser perseguida e proibida”, explicou. 

Chamada de Língua Geral Amazônica, o nheengatu é a única língua ainda viva hoje que descende do tupi antigo, tendo traços que a relacionam com o tupi falado na costa brasileira. “Aprendi que o nheengatu é uma língua do tronco do tupi-guarani e legou para a língua brasileira milhares de vocábulos, o nosso sotaque nasal e com prevalência de vogais, que em conjunto com a herança de outros idiomas indígenas e dos idiomas africanos, caracteriza a nossa língua como única e uma das mais ricas do mundo”, concluiu Weber. 

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