Polícia procura por ranchos que quadrilha possa ter se hospedado antes de mega-assalto

Redação Publicado em 19/10/2017, às 00h00 - Atualizado às 06h55

A Polícia Civil está analisando os imóveis da zona rural da região de Araçatuba (SP) porque acredita que a quadrilha que explodiu uma empresa de valores na madrugada de segunda-feira (16) possa ter se hospedado em um rancho de Glicério (SP).

Os peritos estiveram em um imóvel nesta terça-feira (17) e a polícia acredita que os criminosos teriam alugado e se hospedado no rancho por pelo menos 15 dias antes do crime. Os moradores da região afirmam que um grupo foi embora do local na noite do último domingo, horas antes do crime.

Polícia investiga possíveis ranchos que quadrilha teria se hospedado antes de mega-assalto

Um morador próximo ao rancho, que não quis se identificar, afirmou que apenas homens frequentavam a casa e que, às vezes, havia movimentação de carros. “Tinha dia que apareciam até três carros, tinha dia que não aparecia nenhum. Para mim e para todo mundo eles disseram que eram construtores”, afirma.

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A polícia acredita que outros imóveis da região também foram utilizados pelos criminosos.

Criminosos explodiram parte de empresa de valores em Araçatuba (Foto: Arquivo Pessoal)

“Nós partimos da premissa que eles [os criminosos] não chegaram aqui no dia, pelo menos não toda a quadrilha. Estamos checando imóveis locados no último mês por pessoas de fora e principalmente em casos que não há contrato escrito e de pessoas que pagaram antecipadamente. São casos que aumentam a suspeita”, explica o delegado Marcelo Cury.

O delegado acompanha o caso e informou que não dará detalhes para não comprometer a investigação. Segundo Cury, o crime foi de grande proporção e assustou muita gente.

“Nessa proporção e com toda essa organização, eu estou com quase 30 anos como delegado e nunca vi nada deste tipo na nossa região.”

Polícia busca por integrantes de quadrilha que explodiu e roubou empresa de valores

O ataque

A ação da quadrilha explodiu o prédio de uma empresa de valores na madrugada desta segunda-feira, em Araçatuba. Um grupo foi até a empresa Protege e usou dinamite para explodir o local.

Os criminosos ficaram cerca de 40 minutos no local. Um dos dois cofres da empresa explodiu. A quantia roubada não foi informada, nem pela empresa e nem pela polícia. Até a noite desta terça-feira, oito veículos de luxo e blindados foram localizados.

Para evitar a ação da polícia, cerca de 30 criminosos atearam fogo em caminhões bloqueando a saída de viaturas do quartel da Polícia Militar, que fica perto do local do roubo.

Os ladrões também atiraram contra a entrada para impedir a saída dos policiais que estavam no quartel e houve troca de tiros, informou a polícia.

Após a explosão na empresa, policiais militares fecharam as ruas Dona Idá, Marcondes Salgado e Antonio de Freitas Menezes por apresentar risco de explosão, já que artefatos explosivos ficaram no local.

Policial civil foi morto após quadrilha explodir prédio de empresa de valores em Araçatuba (Foto: Arquivo Pessoal)

Foram apreendidas 66 emulsões de explosivos que estavam no local. Parte delas foi entregue ao Gate para perícia especializada.

Os criminosos fugiram em seguida. Imagens de uma câmera de segurança próxima à Protege flagrou três carros chegando juntos ao bairro. Segundo a polícia, dois deles aparentam ser os veículos que foram encontrados abandonados.

Tempo depois, um caminhão passa no local e os veículos saem. Um caminhão semelhante também foi apreendido na região do crime. Ele transportava cerca de 30 quilos de explosivos.

Em nota, a Protege confirmou o assalto e disse que “todos os vigilantes encontram-se em segurança e a empresa está colaborando com as autoridades na investigação em curso”.

A empresa disse, ainda, que cumpre a legislação em vigor do setor, atividade regulamentada pela Polícia Federal e demais órgãos competentes, e “investe constantemente em novas tecnologias para aprimorar suas operações”.

infográfico de mega-assalto a empresa de valores em Araçatuba (Foto: G1/Arte)

Policial morto

O policial civil André Luís Ferro da Silva, de 37 anos, estava de folga e foi até o local após saber do assalto, onde acabou baleado.

Silva ainda foi socorrido com vida, mas morreu enquanto era atendido na Santa Casa. O enterro foi nesta terça-feira (17). Silva era integrante do Grupo de Operações Especiais (GOE), e deixou duas filhas e a esposa.

André Luís Ferro tinha 37 anos (Foto: Reprodução/TV TEM)

Segundo a Santa Casa de Araçatuba, outras duas pessoas ficaram feridas durante a ação dos criminosos.

De acordo com o hospital, uma mulher foi atingida por uma bala perdida no pé enquanto outra mulher foi atingida por estilhaços na barriga. Elas foram socorridas, levadas para o pronto-socorro de Araçatuba e passam bem.

Policial civil morto em assalto à empresa de valores é enterrado em Araçatuba

Rodovia bloqueada

A Polícia Rodoviária Federal confirmou que os ladrões usaram um caminhão canavieiro para bloquear a pista da rodovia Marechal Rondon, no sentido Birigui a Araçatuba (SP).

Segundo a polícia, os assaltantes renderam o motorista e deixaram o veículo atravessado na pista, de forma a impedir a chegada da polícia.

A quadrilha foi embora e o caminhoneiro ficou escondido no mato. Os veículos que vinham em direção a Araçatuba perceberam o caminhão atravessado e foram estacionando no acostamento.

A Polícia Rodoviária Federal disse que um dos motoristas decidiu entrar na boleia do caminhão e ele próprio retirou o caminhão da pista, permitindo a passagem. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, a interdição durou cerca de dez minutos.

Carreta em chamas foi usada por criminosos para impedir saída de viaturas da PM em Araçatuba (Foto: Reprodução/TV TEM)

Susto

A moradora Alice Rosário Prado afirma que só depois que amanheceu e foi para a rua ver o que aconteceu, é que percebeu a dimensão do estrago.

“Só quem mora aqui mesmo para saber o que passamos essa noite, parecia que estava acabando o mundo. Acordei com o barulho da explosão. Sentimos o piso tremer, vidros de casa estão quebrados”, afirma.

Vidros de casas ao redor de empresa quebraram (Foto: Reprodução/TV TEM)

Quem também se assustou foi a moradora Edna de Oliveira, vizinha do local. Edna mora em casa com a filha e a neta e disse que todos estavam dormindo quando o barulho começou.

“Começou um barulho terrível, foram vários estrondos, achei que o mundo estava acabando. Os amigos começaram a ligar pra gente dizendo para tomar cuidado porque estavam assaltando a Protege. E todos começaram a avisar. Foi um estrondo que nunca ouvi na vida”, afirma.

Moradores do bairro relataram ao menos quatro explosões e parte do imóvel foi destruída.

A Defesa Civil interditou quatro imóveis parcialmente e uma quinta residência foi totalmente fechada por apresentar risco de desabamento.

Teto de casa ao lado de empresa de valores desabou (Foto: Reprodução/TV TEM)

“Vamos ver o que vão fazer com a casa e o que vão fazer com a gente. Ainda estou com a sensação das bombas e tiros na minha cabeça e por enquanto vamos ficar do lado de fora de casa”, diz Célia Cristina Araújo.

Outra família foi afetada pelas explosões. A aposentada Carolina Grillo e seu marido estavam dormindo quando foram surpreendidos pelo ataque.

“Quando deu o primeiro ‘pipoco’ a gente já correu para os fundos de casa”, lembra a aposentada. A prefeitura disse que vai prestar apoio psicológico às vítimas.