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Golpe

Filha é presa após roubar obras de arte avaliadas em R$ 725 milhões da mãe

A mulher cometeu o crime com a ajuda de outras três pessoas

O quadro "Sol Poente", de Tarsila do Amaral, foi encontrado pela polícia após ser roubado pela quadrilha - Imagem: Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro
O quadro "Sol Poente", de Tarsila do Amaral, foi encontrado pela polícia após ser roubado pela quadrilha - Imagem: Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro

Mateus Omena Publicado em 10/08/2022, às 13h08


Uma mulher foi presa nesta quarta-feira (10) na Zona Sul do Rio de Janeiro por um golpe milionário contra a própria mãe, de 82 anos.

Além de ter sido enganada e ameaçada pela filha, a idosa perdeu R$ 725 milhões, entre pagamentos sob extorsão e quadros roubados, incluindo obras de Tarsila do Amaral e de Di Cavalcanti. Os criminosos também roubaram joias e outros objetos de valor.

A filha cometeu o crime com a ajuda de outras três pessoas. A polícia informou que a jovem contratou esses indivíduos para se passarem por videntes, a fim de convencer a mãe a pagar por uma espécie de “trabalho espiritual” para salvá-la. No entanto, a idosa descobriu o esquema e passou a sofrer ameaças. Todos os envolvidos foram presos nesta manhã.

Os agentes da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade saíram para cumprir, no total, seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão.

Os policiais precisaram arrombar a porta de um dos imóveis, pois não tinha porteiro, e as pessoas no local não respondiam.

Além da filha da idosa, cujo nome não foi divulgado, foram presos Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger, Jacqueline Stanescos e Rosa Stanesco Nicolau (mãe do rapaz). As autoridades optaram por não informar o nome da vítima pelo propósito de preservá-la.

O esquema

A Polícia Civil do RJ explicou que a filha elaborou todo o plano, no início de 2020. O primeiro passo foi contratar uma mulher para abordar a mãe no meio da rua, em Copacabana, zona sul da cidade, e alertá-la sobre uma morte iminente na família — no caso, a da própria filha.

Essa mulher, que se disse vidente, levou a idosa a outras duas comparsas, apresentadas como uma cartomante e uma mãe de santo, que confirmaram a previsão e lhe sugeriram pagar por “um trabalho” para salvar a filha.

Como a filha enfrenta problemas psicológicos desde a adolescência, a mãe se convenceu de que a ajuda oferecida pelos estranhos seria a melhor solução para a filha.

Mais tarde, a vítima ficou ainda mais assustada com a situação e decidiu contar tudo para a filha. A jovem, então, prosseguiu com o plano e fingiu ficar apavorada, suplicando para a mãe fazer o trabalho espiritual. A mulher obedeceu e fez, em um intervalo de 15 dias, oito transferências bancárias que ultrapassavam R$ 5 milhões.

Depois do início do “tratamento espiritual”, a filha começou a isolar a mãe dentro de casa, dispensando funcionários e prestadores de serviços domésticos.

No entanto, no início de fevereiro, a idosa começou a perceber que a filha tinha relação com as supostas videntes e parou de fazer os repasses. A filha começou a agredir e ameaçar a própria mãe, que só então percebeu o plano. A extorsão logo se converteu em novas transferências bancárias por parte da vítima.

Prejuízo gigantesco

De acordo com a polícia, a idosa é viúva de um grande colecionador de arte e marchand. Devido ao golpe, a vítima chegou a perder R$ 725 milhões.

  • Roubo de 16 quadros: R$ 709 milhões;
  • Roubo de joias: R$ 6 milhões;
  • Pagamento pelos “trabalhos espirituais”: R$ 5 milhões;
  • Transferências sob ameaça: R$ 4 milhões.

Três obras foram recuperadas em São Paulo. O proprietário do estabelecimento confirmou que vendeu outras duas para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires. Ele não desconfiou por conhecer a família e pelos quadros terem sido entregues a ele pela própria filha da idosa.

Entre as obras levadas pela quadrilha, está “Sol Poente”, da pintora Tarsila do Amaral. O quadro é avaliado em R$ 250 milhões.

Obras de arte roubadas

A polícia listou 16 obras roubadas da idosa, que avaliou os valores:

  • "O Sono", de Tarsila do Amaral: R$ 300 milhões;
  • "Sol Poente", de Tarsila do Amaral: R$ 250 milhões;
  • "Pont Neuf", de Tarsila do Amaral: R$ 150 milhões;
  • "O Menino", de Alberto Guignard: R$ 2 milhões;
  • "Elevador Social", de Rubens Gerchman: R$ 1,5 milhão
  • "Mascaradas", de Di Cavalcanti: R$ 1,5 milhão;
  • "Maquete Para Meu Espelho", de Antônio Dias: R$ 1,5 milhão;
  • "Aquarela sem título", de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
  • "Coruja ao Luar", de Kao Chi-Feng: R$ 1 milhão;
  • "Ela, aquarela", de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
  • "Porto de Pesca rem Hong-Kong", de Kao Chien-Fu: R$ 1 milhão;
  • "Mulher na Igreja", de llya Glazunov: R$ 500 mil;
  • "Desenho representando uma paisagem", 1935, de Alberto Guignard: R$ 150 mil;
  • "Église Saint Paul", de Emeric Marcier: R$ 150 mil;
  • "Retrato", de Michel Macreau: R$ 150 mil;
  • "Rue des Rosiers", de Emeric Marcier: R$ 150 mil.
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