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Araçatuba: pai separado de mulher e recém-nascido para ser usado como escudo humano pulou de caminhonete em movimento

Ainda se recuperando dos ferimentos que sofreu durante a madrugada do dia 30 de agosto, o rapaz contou que foi abordado pela quadrilha depois de sair de uma

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Redação Publicado em 07/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 18h14


O marido da mulher gravada por uma câmera segurança caminhando com uma criança no colo enquanto criminosos fortemente armados rendiam moradores para atacar agências bancárias de Araçatuba (SP) foi usado como escudo humano e precisou pular de uma caminhonete em alta velocidade para sobreviver.

Ainda se recuperando dos ferimentos que sofreu durante a madrugada do dia 30 de agosto, o rapaz contou que foi abordado pela quadrilha depois de sair de uma farmácia. A mulher e o filho de apenas 15 dias de vida também estavam no mesmo carro, mas foram liberados a pedido do pai.

Câmera mostra mãe com criança no colo enquanto quadrilha rende moradores de Araçatuba

“A gente estava ali por destino. Tive que comprar um remédio para o meu filho. Olhei no retrovisor e pensei que era a polícia, porque tinha esquecido de ligar minha luz. Chegaram enquadrando a gente. Falei: ‘tem meu filho e minha esposa aqui dentro’. Pelo amor de Deus, libera eles’. Eles liberaram e me jogaram dentro da capota de fibra da caminhonete branca”, relembra o homem.

Junto com outros moradores que também foram rendidos e colocados no mesmo veículo, o homem foi levado pelos criminosos e obrigado a ficar sentado na calçada do banco Safra. Ele não entrou em detalhes sobre o que aconteceu durante o tempo em que ficou na frente da agência bancária, mas uma outra refém disse que os criminosos atiravam a todo tempo.

“Eles pediram para que a gente ligasse para polícia, para avisar que não era para comparecer no local. Em nenhum momento a intenção deles era invadir o banco Safra. Eles atiraram contra os vidros apenas para ver se tinha guarda ou alguém”, relatou a mulher.

Por volta das 2h, os criminosos começaram a pedir para que os reféns andassem pelas ruas e subissem nos veículos para servirem como escudo humano. O objetivo da ação foi dificultar a resposta da Polícia Militar.

Imagens mostram que o marido da mulher que aparece caminhando com o bebê no colo foi colocado sobre o teto da caminhonete branca. Ele foi baleado na mão direita e no quadril durante a fuga da quadrilha.

“Pensei comigo: ‘já me alvejaram na mão, vão me matar’. Toda hora erguia a cabeça para ver onde estava, em que situação poderia me jogar. Olhava de um lado para o outro. Vi aquela escapatória, naquela rua, peguei e pulei. Foi questão de pular e sair correndo. Acho que foi Deus, porque, na hora que pulei, tinham vários carros atrás”, disse o homem.

Apesar dos ferimentos e escoriações, o rapaz correu, pediu socorro e foi levado para a Santa Casa de Araçatuba, onde recebeu atendimento médico, passou por cirurgia e recebeu alta para poder voltar à casa da família.

“Agradeço a Deus por me dar uma nova oportunidade. Nasci de novo. Deus é maravilhoso na minha vida. Só agradeço. Resmungar da vida não adianta. Agradeço muito a Deus”, relatou o homem.

Enquanto o rapaz permanecia sob a mira dos ladrões, a esposa e o filho estavam abrigados dentro de uma farmácia. A mulher contou que não pensou duas vezes em pegar o bebê recém-nascido e sair o mais rápido possível do carro.

“Só pensei em correr. Estava muito assustada. Nem minha perna estava sentindo naquela hora. Eu saí do carro, e eles começaram a atirar para cima. Só pensei em proteger meu filho naquele momento. Fiquei muito preocupada com ele [marido]. Pedia a Deus para não acontecer nada. Foi um momento de terror, porque não sabia o que iriam fazer com meu esposo. Precisamos agradecer todos os dias, porque foi um livramento”, contou.

Como foi o ataque

Terror em Araçatuba: saiba como foi o mega-assalto a agências bancárias

Pelo menos 30 criminosos participaram da ação. Eles chegaram à região central de Araçatuba por volta da meia-noite do dia 30 de agosto, renderam moradores e espalharam explosivos.

O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) encontrou 98 artefatos. Eles foram localizados nas ruas, nos bancos, em carros abandonados e em um caminhão deixado perto das agências bancárias. Todos foram detonados em um aterro sanitário do bairro Água Branca.

Veículos foram queimados em vários pontos do município e da região para impedir a chegada da polícia. Os criminosos atacaram a tiros o 12° Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep). Drones também foram usados pela quadrilha para monitorar a ação e a fuga.

Vídeos de câmeras de segurança mostram moradores em cima de carros, enquanto a quadrilha foge em alta velocidade. Outra gravação revela como os criminosos abordaram um homem que foi feito refém.

Agências atacadas

Araçatuba: assaltantes atacam 3 agências bancárias e espalham explosivos na cidade — Foto: Arte G1

Araçatuba: assaltantes atacam 3 agências bancárias e espalham explosivos na cidade — Foto: Arte G1

Duas agências bancárias foram assaltadas. Em uma delas, que funciona como uma tesouraria regional, os criminosos tiveram acesso ao cofre subterrâneo. Na outra, a quadrilha atacou os caixas eletrônicos. A terceira agência foi apenas danificada. O valor levado não foi divulgado.

Depois atacar as agências bancárias e trocar tiros com a Polícia Militar, a quadrilha fugiu em direção ao bairro Engenheiro Taveira, onde também roubou veículos de moradores.

Três pessoas morreram na ação, sendo dois moradores e um suspeito. Outras cinco também ficaram feridas, entre elas o homem colocado no teto da caminhonete branca e o ciclista que teve os pés amputados após ser atingido por um explosivo.

Um vídeo gravado por uma câmera de segurança registrou o momento em que um dos ladrões foi baleado por um policial e caiu ao lado de dois reféns. O comparsa tentou se aproximar para ajudar, mas, com medo de ser atingido, voltou para calçada. Áudios dão a entender que o imprevisto fez com que a quadrilha antecipasse a fuga.

Confira a transcrição do áudio:

  • “Levanta esse drone agora, que daqui cinco minutos? Ele tá no carro baleado, o parceiro, mano.”
  • “Acalmou. Se a gente vai levantar o drone agora, como vamos sair? É agora que nós vamos sair? Vamos levantar o drone na hora que a gente for sair, não adianta levantar o drone e depois não conseguir levantar mais quando a gente for sair.”
  • “Vamos embora, levanta o drone e vamos embora. O parceiro está baleado.”
  • “Para nós irmos embora e ‘os caras’ da amarela?”
  • “Positivo. Amarela, vamos embora.”
  • “Amarela, vamos embora. Tem baleado lá.”
  • “Certo.”
  • “E aí, da 01, alemão, meu amigo, você quer passar na praça, é isso?”
  • “Estamos na praça, todo mundo vai para o meio da praça, entendeu?”
Vídeo mostra momento em que criminoso é atingido por tiro durante assalto em Araçatuba

Presos

Até esta segunda-feira (6), foram presos seis suspeitos de participação no crime. Um casal foi detido na cidade, horas depois do ataque aos bancos, suspeito de ser olheiro do bando.

O homem foi levado do presídio de Penápolis para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de São José do Rio Preto (SP). A mulher encaminhada à penitenciária de Tupi Paulista.

Outro suspeito, de 27 anos, foi preso em Campinas e levado para a sede da Polícia Federal de Araçatuba. Ele confirmou participação na organização do crime e também foi levado de para o CDP de Rio Preto.

Foto mostra suspeito de participar do mega-assalto com o braço esquerdo ferido  — Foto: Arquivo Pessoal

Foto mostra suspeito de participar do mega-assalto com o braço esquerdo ferido — Foto: Arquivo Pessoal

Outros dois suspeitos foram internados com ferimentos na Santa Casa de Piracicaba. Segundo a polícia, um confessou a participação no crime. O outro estava inconsciente e morreu no dia 3 de setembro.

Em São Pedro (SP), dois suspeitos foram presos durante operação contra o tráfico de drogas. Com a dupla, a polícia apreendeu roupas táticas, coletes balísticos, lanternas, binóculos, máquina para contar dinheiro, munições .40 e .380, carros, além de cerca de R$ 3 mil.

Um criminoso foi encontrado morto em um carro abandonado na zona rural de Araçatuba, após fuga da quadrilha. Segundo a polícia, o homem foi baleado em uma troca de tiros com a polícia no centro e levado pelos comparsas, que o abandonaram ao constatar a morte.

O corpo de outro homem foi encontrado em Sumaré (SP). Ele vestia calça, luvas e colete balístico. A polícia suspeita que também se trata de um criminoso que atacou os bancos em Araçatuba e trocou tiros com a polícia.

Terreno em Sumaré (SP) onde corpo do homem de 47 anos suspeito de participar de mega-assalto em Araçatuba — Foto: Pedro Torres/EPTV

Terreno em Sumaré (SP) onde corpo do homem de 47 anos suspeito de participar de mega-assalto em Araçatuba — Foto: Pedro Torres/EPTV

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Fontes: G1 – Globo.

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