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Após 1 ano, polícia aguarda exame para concluir inquérito sobre delegado baleado e modelo morta em discussão em prédio no ABC

Paulo Francisco Muniz Bilynskyj e Priscila Delgado Barrios eram namorados à época. Segundo o 1º Distrito Policial (DP) da cidade, a principal linha da

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Redação Publicado em 23/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h41


Caso é investigado pela Polícia Civil e a sua Corregedoria como tentativa de assassinato seguida de suicídio. Para a delegacia há indícios de que Priscila Barrios atirou em Paulo Bilynskyj por ciúmes e depois se matou em São Bernardo do Campo, em 20 de maio de 2020.

Após um ano, a Polícia Civilaguarda o resultado de um exame pericial feito pela Polícia Técnico-Científica para concluir o inquérito sobre o delegado baleado e a modelo morta durante discussão num prédio em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. O caso ocorreu em 20 de maio de 2020 e é investigado como tentativa de assassinato seguida de suicídio.

Paulo Francisco Muniz Bilynskyj e Priscila Delgado Barrios eram namorados à época. Segundo o 1º Distrito Policial (DP) da cidade, a principal linha da investigação continua sendo a de que a modelo, que tinha 27 anos, atirou no delegado e depois se matou com um tiro no peito no apartamento dele. Ele tomou seis tiros e sobreviveu após passar por três cirurgias.

Atualmente Paulo tem 34 anos e está afastado do trabalho em razão de uma licença médica, segundo informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP). A pasta, no entanto, não divulgou qual seria o seu problema de saúde. O motivo estaria relacionado a eventuais sequelas em razão dos tiros que sofreu.

Condomínio em São Bernardo do Campo onde modelo morreu e delegado foi baleado. Viaturas da PM foram chamadas para atender ocorrência — Foto: Reprodução/Redes sociais

Condomínio em São Bernardo do Campo onde modelo morreu e delegado foi baleado. Viaturas da PM foram chamadas para atender ocorrência — Foto: Reprodução/Redes sociais

O motivo da discussão, segundo a polícia, foi ciúmes por parte de Priscila em relação a Paulo. Ela teria visto mensagens de uma outra mulher no computador dele. A modelo e o delegado tinham se conhecido havia quase três meses pela internet. Ela deixou Curitiba, no Paraná, onde morava, para viver junto com ele em São Bernardo. Em duas semanas de convivência já eram noivos.

Exame

Secretaria da Segurança Pública também não informou qual o nome do exame que está faltando para que o caso seja finalizado pela polícia e relatado à Justiça. E nem qual é o instituto da Polícia Científica que está cuidado dele: se o Instituto Médico Legal (IML) ou o Instituto de Criminalística (IC). Segundo a pasta, o exame está “relacionado à vítima”, mas não especificou se ele se refere a Paulo ou a Priscila.

“A autoridade policial aguarda um exame complementar relacionado à vítima, que está em elaboração, para concluí-lo”, informa trecho da nota enviada ao G1 por meio da assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança.

Priscila Barrios e Paulo Bilynskyj estavam morando juntos havia duas semanas — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Priscila Barrios e Paulo Bilynskyj estavam morando juntos havia duas semanas — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

A Segurança informou ainda que, além da delegacia, a Corregedoria do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro) também participa das apurações sobre o caso. As investigações estão em sigilo, mas próximas de uma conclusão.

Como o caso envolve um agente público de segurança da Polícia Civil, a Corregedoria da instituição apura administrativamente a conduta de Paulo para saber se ele cometeu alguma irregularidade funcional.

Pistola Glock 9 mm: Arma que, segundo a polícia, modelo Priscila Barrios baleou delegado Paulo Bilynskyj e que depois usou para se suicidar — Foto: Reprodução/Polícia Civil

Pistola Glock 9 mm: Arma que, segundo a polícia, modelo Priscila Barrios baleou delegado Paulo Bilynskyj e que depois usou para se suicidar — Foto: Reprodução/Polícia Civil

Em tese, se a polícia confirmar que o caso foi de tentativa de assassinato seguida de suicídio, ela deverá pedir à Justiça o arquivamento do inquérito, já que a autora do crime está morta.

Delegado

Procurado pelo G1Paulo não quis comentar o assunto. Numa página na internet que usa para divulgar seu trabalho como instrutor de tiro, o delegado chegou a postar uma mensagem na quinta-feira (20), quando o caso completou um ano. Nela, relembrou o que ocorreu.

“Hoje faz um ano. Deus tem uma missão para mim e missão dada é missão cumprida. Agradeço todas as orações, mensagens e palavras de carinho!”, escreveu Paulo em seu Instagram.

Delegado Paulo Bilynskyj postou em uma de suas redes sociais um texto sobre o fato de ter sido baleado há um ano em seu apartamento em São Paulo após discutir com sua namorada. Segundo a investigação policial, que ainda não foi concluída, Priscila Barrios se matou depois — Foto: Reprodução/Instagram

— Foto: Reprodução/Instagram

Delegado Paulo Bilynskyj postou em uma de suas redes sociais um texto sobre o fato de ter sido baleado há um ano em seu apartamento em São Paulo após discutir com sua namorada. Segundo a investigação policial, que ainda não foi concluída, Priscila Barrios se matou depois

Paulo é conhecido na internet por postar diversos vídeos, fotos e mensagens sobre seu trabalho, além de dar aulas como instrutor de tiro. Numa ação movida por ele na Justiça, o delegado tenta recuperar uma conta pessoal dele banida no Instagram. Ela tinha 3.540 publicações e 596 mil seguidores. Em 26 de abril ele não conseguiu mais acesso. O motivo não foi informado.

A advogada Priscila Silveira faz a defesa do delegado Paulo Bylinskyj — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A advogada Priscila Silveira faz a defesa do delegado Paulo Bylinskyj — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Segundo a defesa do delegado, a expectativa é a de que o inquérito policial sobre o delegado baleado e a morte de Priscila confirme o que a investigação está apontando desde o início: de que seja concluído que Paulo foi vítima na história.

“[Estamos] aguardando a conclusão do IP [inquérito policial] nos moldes em que em fora lavrado. Estamos aguardando a juntada das diligências requeridas pela promotora que acompanha o caso”, falou a advogada Priscila Silveira, sobre as atuações da Polícia Civil e do Ministério Público (MP).

Investigação

Apesar de ter informado anteriormente que outras hipóteses poderiam ser investigadas durante o curso da apuração, caso surgissem outros indícios de crimes, o 1º DP sustenta que, até o momento, o que aconteceu dentro da residência de Paulo foi mesmo uma tentativa de assassinato da modelo contra o delegado. E que, depois disso, ela se suicidou.

Priscila Barrios chegou a praticar tiro, segundo mostra uma foto nas suas redes sociais — Foto: Reprodução/Instragram

Priscila Barrios chegou a praticar tiro, segundo mostra uma foto nas suas redes sociais — Foto: Reprodução/Instragram

Testemunhas foram ouvidas pela investigação, que analisou vídeos gravados por câmeras do circuito interno de segurança do prédio para tentar saber como Priscila morreu e como Paulo foi ferido a tiros.

A versão da tentativa de homicídio e suicídio foi apresentada inicialmente à delegacia que investiga o caso por um vizinho do delegado e três policiais militares que atenderam a ocorrência. Todos falaram com Paulo. Não há informações se ele já foi ouvido no inquérito e o que disse.

Paulo Bilynskyj e Priscila Barrios se conheceram pela internet. Delegado a ensinou a atirar — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Paulo Bilynskyj e Priscila Barrios se conheceram pela internet. Delegado a ensinou a atirar — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

“A hora que eu abri a porta do banheiro, ela não falou nada. Ela estava parada na minha frente, apontou a arma para mim e já estava atirando”, contou o delegado em entrevista ao Fantástico em junho do ano passado (assista ao vídeo acima). “Ela achou que tinha me matado. Eu achei que ia morrer. Eu tomei seis tiros.”

“Eu vi que ela atirou nela”, falou Paulo à reportagem da TV Globo, sobre o momento em que, segundo ele, Priscila se suicidou. “Eu não consegui acreditar.”

Vizinho

Priscila Barrios  — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Priscila Barrios — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Segundo o 1º DP, o caso ocorreu por volta das 7h no apartamento do condomínio em que o delegado mora, na Avenida Francisco Prestes Maia, no Centro do município.

Um vizinho de Paulo que aparece no BO contou que foi acordado com barulho de disparos de arma de fogo vindo do apartamento do delegado. E que depois ligou para a Polícia Militar (PM) para pedir ajuda.

Indagado pelos investigadores sobre como era o relacionamento do delegado com a modelo, o vizinho respondeu que não saberia dizer porque “nunca viu Priscila” antes.

Paulo Bilynskyj — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Paulo Bilynskyj — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Ele ainda declarou que não ouviu discussão antes dos disparos, “inclusive no dia anterior”, nem voz feminina no apartamento.

PMs

Os três agentes da Polícia Militar (PM) que foram até o prédio checar o chamado do vizinho sobre os tiros contaram no BO que encontraram Paulo caído no elevador, do hall de entrada, pedindo socorro após ter sido baleado.

Segundo os PMs, o delegado estava consciente, falando que sua namorada tentou matá-lo dentro do apartamento. E que ela estava armada com uma pistola, mas havia outras armas no imóvel. Falaram ainda que, ao ouvir isso, decidiram pedir reforço policial e entrar no imóvel com um escudo balístico.

Paulo Bilynskyj e Priscila Barrios tinham ficado noivos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Paulo Bilynskyj e Priscila Barrios tinham ficado noivos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

De acordo com os agentes da PM, para entrar no apartamento, eles arrombaram uma porta da área de serviço que estava trancada. E ali encontraram a modelo “inconsciente”, de cócoras, mas com “sinais vitais”.

Ao socorrerem Priscila, viram que ela estava sangrando e tinha uma perfuração no peito. Perto dela estava uma faca, mas sem sangue. A mulher também foi levada ao hospital, mas não resistiu ao ferimento e morreu.

Priscila Barrios — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Priscila Barrios — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Armas

Segundo os PMs, havia sangue no banheiro, no piso e em algumas paredes dentro do apartamento. E marcas de mãos ensanguentadas no espelho de uma academia dentro de um dos quartos.

Ainda segundo o registro policial do caso, foram encontradascinco armas (duas pistolas, um fuzil, uma metralhadora e uma espingarda) emuniçõesdo delegado espalhadas em cômodos da residência (corredor, sofá da sala e cama do quarto). Também havia marca de tiro na parede e projétil no piso.

Delegado Paulo Bilynsky tem fotos e vídeos que demonstram como atirar — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Delegado Paulo Bilynsky tem fotos e vídeos que demonstram como atirar — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

As armas e as munições foram apreendidas juntamente com celulares, computadores e o vídeo da gravação das câmeras do prédio.

Ainda de acordo com a ocorrência, a perícia encontrou pólvora nas mãos da modelo. Como o delegado foi direto para o hospital, ele não passou pelo exame residuográfico.

Também foi coletado material genético (DNA) no gatilho da pistola Glock 9 mm, da qual teriam partido os disparos. Para a polícia, Priscila usou a arma e sabia atirar. Fotos dela em rede social posando com armas foram analisadas pelos policiais (veja acima).

Delegado e modelo tinham se conhecido pela internet — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Delegado e modelo tinham se conhecido pela internet — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Foi feita ainda perícia numa viatura da Polícia Civil que estaria com o delegado e estava estacionada no hospital. O veículo foi devolvido depois ao 101º DP, Jardim das Imbuias, na capital, onde Paulo trabalhava.

Família da modelo

Em abril deste ano, a família de Priscila entrou na Justiça com um pedido para receber o celular apreendido da modelo. A perícia não conseguiu extrair informações do aparelho porque ele está bloqueado por uma senha. O telefone teria sido dado pelo delegado à namorada.

“Ontem fez um ano que essa tragédia aconteceu na vida dessa família. A família ainda não conseguiu aceitar como os fatos se deram. Não conseguem aceitar a morte dessa menina como sendo suicídio”, disse o advogado José Roberto Rodrigues da Rosa, que defende os interesses dos pais da modelo.

Advogado José Roberto Rodrigues da Rosa defende os interesses da família de Priscila Barrios — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Advogado José Roberto Rodrigues da Rosa defende os interesses da família de Priscila Barrios — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Segundo Rosa, “ocorreu de fato uma tentativa de homicídio contra o Paulo, seguida de suicídio”. O que a família pretende entender é a motivação para os crimes. “O que aconteceu de tão grave nos dias anteriores e especialmente na noite anterior? Para isso nós precisamos periciar o celular dela”, afirmou.

E emendou: “A família está atrás das informações que constam nesse aparelho. Podem haver notícias ali de que o Paulo pode ter contribuído para esse suicídio. E aí nós estamos falando em outro crime. Não é o homicídio. Ele não matou a menina. Mas ele instigou ou auxiliou ela a cometer esse fato contra ela própria. E aí ele responderia por esse crime. Queremos saber o que aconteceu antes do fato.”

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Fonte: G1 – Globo.

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